SOLENIDADE DE SÃO JOÃO DA CRUZ, PRESBÍTERO, DOUTOR DA IGREJA E NOSSO PAI

SOLENIDADE DE SÃO JOÃO DA CRUZ, PRESBÍTERO, DOUTOR DA IGREJA E NOSSO PAI

SOLENIDADE DE SÃO JOÃO DA CRUZ,
PRESBÍTERO, DOUTOR DA IGREJA E NOSSO PAI
14 de dezembro de 2022

 

SÃO JOÃO DA CRUZ, “PAI E MESTRE NA FÉ”

Ao celebrarmos neste dia a Festa de nosso Santo Padre João da Cruz faremos memória de sua biografia, porém continuaremos com a centralidade eucarística, que notoriamente encontramos na vida deste santo doutor um “Pai e Mestre na Fé”.
São João da Cruz nasceu e viveu 1542 e 1591 na Espanha, sua vida foi marcada, por uma dura realidade familiar e externa, porém, pela descoberta crescente de sua vida interior. Tendo sido órfão de pai aos 3 anos de idade, João de Yepes – seu nome civil – testemunha o esforço da mãe viúva em garantir a sobrevivência da família. Na adolescência, João estudou e trabalhou. Aos 21 anos torna-se religioso carmelita numa realidade adversa daquela que desejava, pensando encontrar apenas no silêncio monástico dos cartuxos. Em 1567, já ordenado sacerdote, encontra-se com Santa Teresa, que o conquista para a sua obra de reforma entre os frades. No ano seguinte, em 1568, torna-se o primeiro carmelita descalço, assume o novo nome de João da Cruz, encontra aí indescritível felicidade, apesar da experiência de vida num casebre perdido da zona rural de Ávila.
Empenha-se até o fim da vida, em diversas tarefas entre os carmelitas descalços que vêem-se em ligeira expansão. Sua missão somente é interrompida pela perseguição dos padres da Ordem Carmelitana, que o escolhem como vítima do conflito gerado pelo crescimento dos descalços. Durante nove meses, entre 1577 e 1578, é encarcerado no convento da cidade de Toledo. Foi nesse momento de grandíssimo sofrimento físico e moral, com privação do essencial para o corpo, que irão brotar os mais belos poemas místicos de sua autoria, que lhe são reveladas a profundidade da vida íntima com Deus.
Potencialmente, foi no meio da “noite escura da fé”, que frei João da Cruz experimentou a mística presença do amor de Deus. Foi na privação da vida sacramental, que o religioso torna-se prisioneiro do Amor. Terminado o tempo da prisão, retoma suas atividades, até o ano de 1591, pode ver rompida a tela do “doce encontro” almejado. Sem dúvida alguma o objeto de suas obras concentram-se no processo de purificação de sua alma, processo esse que a alma humana encontra ao aproximar-se de suas obras.


“Na sua infância o nosso Santo gostava de ajudar à missa”
(J. Crisógono)

A vida de S. João da Cruz adquiriu o «estilo sacramental» próprio de quem, por meio do sacramento da Eucaristia, «via» nela a «aquela eterna fonte escondida neste vivo pão para nos dar vida» e «desejava» que Deus atuasse nele para o fazer chegar no Espírito “à plena estatura de Cristo” (Ef 4, 13). «Na sua infância o nosso Santo gostava de ajudar à missa. Punha nisso tal seriedade, parecia tão cheio de fé e de respeito, o seu recolhimento mostrava-se de maneira tão notável, que os fiéis não se cansavam de admirá-lo. Mais ainda, sentiam uma estranha impressão que aumentava neles a piedade; nunca assistiam ao Santo Sacrifício com tanta devoção como quando viam ao pé do altar este abençoado menino». (J. Crisógono). Ou seja, desde a tenra idade,
Juan de Yepes é um dos quatro meninos escalados para servir na Igreja do convento da Madalena, onde, como consta, ajudava à missa com muita devoção, desde as seis da manhã até às dez, no Verão e, desde as sete às onze, no Inverno. Depressa, as freiras destacam a João dentre os seus três companheiros, pela sua habilidade, agudeza e boas inclinações, motivo que pesou na sua passagem para o Hospital de la Concepción, onde desempenhou o ofício de enfermeiro, de coletor de esmolas e se entregou ao estudo. Aos vinte anos, altura da eleição de estado, Dom Alonso Alvarez de Toledo propôs-lhe a imediata ordenação sacerdotal e brinda-lhe com o cargo de capelão do Hospital das Bubas. Após a fase de estudos em Salamanca, eis que veio a Medina cantar a primeira missa e é apanhado por Teresa de Jesus para a sua reforma. Anos mais tarde, em 1578, o episódio da prisão de Toledo mostra-nos o seu estado de alma, e fecunda vivência litúrgica, o seu amor a Nossa Senhora, da qual recebeu o apreço pela Eucaristia e pela sagrada comunhão. Na Eucaristia, encontrou o Deus vivo em todos os seus mistérios.

 

“A oração mental na presença de Jesus sacramentado”
(frei Gabriel de S. M. Madalena)

É importante compreender que tanto São João da Cruz, como Santa Teresa, em todo o seu caminho espiritual, entenderam que a alma contemplativa é aquela que se alimenta da ardente devoção por Cristo, especialmente consciente de sua presença na Eucaristia. Ele gostava muito de se recolher em oração na presença da Eucaristia. “Sob o influxo de Santa Teresa e de São João de Cruz, no Carmelo reformado, foi introduzido o costume de fazer sempre a oração mental na presença de Jesus sacramentado, presença que no-lo revela integral, Homem e Deus” – dirá frei Gabriel de S. M. Madalena. Meditamos no poema a “Fonte”, que o Santo a intitulou “Canto da alma que se alegra por conhecer Deus pela fé” (e que meditamos nos há pouco na novena), que era precisamente na presença da Eucaristia que a alma do Santo Doutor se alimentava com a contemplação obscura da divindade: “Aquela eterna fonte está escondida,/ Neste pão vivo para dar-nos vida, mesmo de noite./ De lá está chamando as criaturas,/ Que nela se saciam às escuras, porque é de noite./Aquela viva fonte que desejo, neste pão de vida já a vejo, mesmo de noite”.
Torna-se bem claro que, ao contemplar a Hóstia Santa, a alma de S. João da Cruz penetrava na Divindade, encontrando na contemplação a experiência de fé. Para explicar melhor, diante da contemplação obscura meditando em Jesus Cristo, ao se falar dessa meditação, falamos da sua humanidade. Por outro lado, vemos que ele fala sempre da “noite” que conduz à “união”, como é o caso do início da obra Subida do Monte Carmelo, que descreve metodicamente, nas suas várias fases, ativas e passivas, este prolongado trabalho de desprendimento – obra de que é parte integral o livro Noite Escura, ele quis também justificar este nome. Na realidade S. J. da Cruz deixa-nos uma proposta que mesmo “as escuras” a presença de Cristo se faz real. Fica-nos o ensinamento centrado na prática da renúncia e da mortificação, de por as nossas potências na escuridão, em
relação àquilo em que naturalmente nos comprazem. Portanto, se considerarmos o movimento espontâneo das nossas faculdades, vemos que tendem para se ocuparem daquilo que nos é prazeiroso: “à vista, agradam as coisas belas, ao ouvido, a harmonia dos sons, ao olfato, a suavidade dos perfumes; procuramos deleitosanente tais prazeres porque tendemos para o que nos agrada”.
O convite aqui torna-se outro, para a alma apaixonada por Jesus, procurar conhecê-lo e concentrar-se espontaneamente sobre as suas maiores belezas, pelo que o olhar da alma que ama Cristo, aproximando-se d’Ele na Eucaristia, possa encontrá-lo em sua plenitude, naturalmente voltando-se para sua divindade. E assim, aproximando-se de Cristo, a alma encontre imediatamente n’Ela o principal objeto de contemplação: a divindade, que nada a impeça de Lhe apreciar com amorosa atenção. Todavia o que deverá conduzi-la a esta pausa amorosa seja a contemplação do tabernáculo, a contemplação da Hóstia Santa.

Aqui a fé assumirá o ponto de partida para um movimento. É um passo concreto que se dará, que é o de “ir a Jesus” que nos chama freqüentemente. Podemos mesmo dizer que, antes de ser um “movimento na direção de”, é, fundamentalmente, uma sede, um desejo: «Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede» (João 7,37). Quando Jesus já não se encontra fisicamente entre os seus discípulos, o movimento em direção a ele já não se expressa pela mudança de lugar – ir ao seu encontro e, depois, segui-lo – como acontecia antes da ressurreição. Quem crê em Jesus, dá um passo concreto, mas este passo implica abandonar-se a ele, entregar-se a si próprio e cedendo-lhe o espaço interior para avançar no concreto do chamado e da missão que o Cristo nos confia, “mesmo de noite”.
Percebemos que a síntese de vida da vida eucarística de São João da Cruz contém não só uma sólida doutrina teológica, sobretudo, os aspectos básicos da vida cristã: a comunhão com Deus, a dimensão contemplativa da oração, a força teológica da missão apostólica, a tensão da esperança cristã. Neste dia, peçamos ao nosso Santo Doutor, “PAI E MESTRE NA FÉ”, que interceda por todas as vocações da Igreja no Brasil, por nossa família religiosa, frades, monjas e seculares, pelas intenções do Papa Francisco, a fim de que possamos crescer no amor a Deus, através da piedade Eucarística, e assim melhor servir aos irmãos.
Nestas últimas semanas do Advento, unamo-nos a São José e a Santíssima Virgem Maria, Mulher Eucarística, à espera do Natal do Senhor, deixando-nos purificar pela prática da penitência em preparação para a “Noite de Luz”, que o Senhor vem nos trazer.

Oração:

Ó Deus que inspirastes ao presbítero são João da Cruz, nosso pai, extraordinário amor pelo Cristo e total desapego de si mesmo, fazei que, imitando sempre o seu exemplo, cheguemos à contemplação da vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

 

SANTO PADRE JOÃO DA CRUZ,
Rogai por nós!

Por:

Estela da Paz, OCDS.

Comissão de História.

Comissão de Espiritualidade. 

 

Referências:

REIS. Manuel Fernandes. S. JOÃO DA CRUZ E A EUCARISTIA. 2004. J. Crisógono, o. c., pp. 25-39.
MADALENA. Frei Gabriel de Santa Maria. A União com Deus, segundo São João da Cruz. Cultor Livros, 2017.

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