507 ANOS DO NASCIMENTO DE SANTA TERESA DE JESUS, VIRGEM E DOUTORA DA IGREJA, NOSSA MÃE
(Dentro do IV Centenário de Canonização – 1622-2022)
28 de março de 2022.
“ORAÇÃO, FRATERNIDADE E MISSÃO”.
“O próprio Senhor diz que é o caminho; o Senhor também diz que é luz, e que ninguém pode ir ao Pai, senão por Ele” (7M 7, 6). “Não creiais em quem vos disser outra coisa” (6M 7, 5).
Todos os aniversários recordam um fato vivo, uma fonte que continua a jorrar; são celebração e dança perene no coração de Deus. A memória passada se faz hoje surpreendente e eficaz. Assim é Teresa de Jesus, experiência viva de Deus a percorrer nossas vidas, ativando em nós a fé em uma Presença ardente. (P. Geral. 12/03/2022)
Neste dia de comemoração dos 507 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus, dentro dos festejos históricos do seu IV Centenário de Canonização, cumpre-nos refletir, como Carmelitas Seculares, a importância de sua vida e de seu carisma para nós. Sem pretender esgotar o tema, traçamos um paralelo do Carmelo Secular de nossos dias frente a centralidade do seu carisma: “oração, fraternidade e missão”.
“A oração é um trato de amizade com Aquele que sabemos nos amar” (V 8,5). A oração deve reavivar em nós “o fogo da missão, reacendendo a alegria, provocando-nos continuamente para nos deixarmos inquietar” (PP. Francisco).
Dessa forma, trazemos os elementos essenciais do carisma teresiano que nos impele ao compromisso com o nosso chamado. Recordamos que, com base na Regra de Santo Alberto que a “vida de oração” é uma experiência de amor [C 15a, 49, 55], que é a relação de amizade com Deus daquele que está atento à interioridade, contemplação, oração contínua: “A questão não é pensar muito, mas amar muito: então o que mais vos despertará para o amor, faça-o” (4M 1,7; V 8; 5,9; CV 21,1; cf. DC 2021). Ou seja, uma relação de amizade, uma realidade de vida teologal de fé, esperança e amor, realçando estar presente em sua plenitude na pessoa de Maria, modelo da nossa vocação. Por outro lado, reacende o compromisso fraterno ao nos dizer que a relação com os amigos é, para Teresa, um elemento fundamental para crescer na relação com Deus, como descreve uma passagem sobre o percurso da escrita do Escorial: “Direi-te que não é necessário, basta ter Deus. Uma boa maneira é fazer como Deus trata seus amigos; Sempre há um grande lucro, ele se perde com a experiência” (CE 11.4). Deste ponto de vista, entendemos que não é possível separar a relação com Deus da relação com os amigos de Deus. E que, quando enfraquecemos a prática de relacionamento como irmão, enfraquecemos a vida de comunhão com Deus. Estabele, ainda, a relação que carisma teresiano tem com o decidido impulso apostólico, missionário e de serviço, destacando entre as experiências fundacionais de Santa Teresa, um dos momentos em que se emociona com a situação dos dois cristos na Europa, e o quanto ele gostava das notícias sobre a população indígena da América, que faz nascer um forte desejo irreprimível de responder com todas as forças às grandes necessidades da Igreja. Chega a vivenciar um forte impulso apostólico: “Clamo ao Senhor, rogando-lhe que me entregue, pois podes ganhar uma alma para o seu serviço” (F 1,7).
“Olhos fixos n’Ele e não haja medo de que se ponha este Sol da Justiça, nem que nos deixe caminhar de noite para nos perdermos, se nós primeiro não O deixamos a Ele” (V 35, 14). “Não penseis que não há de custar algo e que havereis de encontrá-lo pronto” (5M 3, 12).
Em Santa Teresa, uma mística da experiência de Deus em Cristo e no seu Espírito, numa perfeita sintonia com a fé revelada, percebemos uma mística descida no dinamismo da psicologia e dos sentimentos humanos, mas continuamente passada pelo crivo do discernimento das obras, das virtudes, dos efeitos que tornam o místico a plenitude do ser humano em equilíbrio humano, em dinamismo de caridade e de obras. No Livro da Vida, a vemos encontrar-se na abundância das narrações místicas, páginas ardentes de colóquio com Deus, experiências sobrenaturais, não nos primeiros metros da praia, mas em alto mar, bem no coração da leitura. São oferecidos como testemunho do Deus verdadeiro que realiza maravilhas, da força da graça que penetra no ser humano. No entanto, o livro da Vida brotou do coração e da pena de Teresa num momento de forte maturidade espiritual (1565), mas traz em si, na última parte do livro uma clara orientação eclesial (Vida 32-40). Teresa, que libertada de si mesma e está unida a Cristo, embora ainda não tendo chegado ao cume do matrimônio espiritual, vemos descortinar o horizonte de sua existência que abre-se sobre a Igreja.
“Rezar é levar o palpitar dos acontecimentos até Deus” (PP. Francisco) “Se não procurais virtudes e o exercício delas, sempre ficareis anãs” (7M 4, 9).
Historicamente, ao nos voltamos ao contexto religioso em que surge sua missão (biênio 1560-1562). Recordamos ser um momento em que Teresa reside no mosteiro da Encarnação. Nele ela está muito feliz, com grande número de freiras carmelitas compartilhando seus ideais de vida espiritual. As graças que recebe naquele momento a tornam tão visível que pretende fugir da Encarnação e refugiar-se em um Carmelo distante, onde ninguém a conhece (Vida 31,13). No canto de sua cela, uma multidão de entusiastas, a maioria delas jovens, se reúne em torno dela. Pessoalmente, Teresa tem uma vida mística há pelo menos seis anos. Alguns originais trazem duas histórias originais de Teresa a respeito deste momento fundacional (Fichas 31), porém, o mais importante para nós será perceber que naquela época, a fundação do Carmelo de Ávila de São José, Santa Teresa tem consciência de estar empreendendo essa obra inspirada por Deus. Também nós, ao nos darmos conta do caminho que estamos fazendo precisamos descobrir como e por onde serviremos, para não ficarmos reduzidos a mera repetição vazia. Somos impulsionados assim, a estabelecermos um paralelo a partir desta abertura de Santa Teresa à sua missão fundadora, compreendendo quão importante é “não pôr vosso fundamento só em rezar e contemplar; porque, se não procurais virtudes e o exercício delas, sempre ficareis anãs” (7M 4, 9).
Muito oportuno, neste dia, em que celebramos o dom do nascimento de nossa Santa Madre Teresa, a Mestra de vida interior, ouvirmos a voz da Igreja através dos apelos do Papa Francisco para uma oração comprometida, ou seja aquela oração que ao partir do interior humano, “transforma a realidade”, porque nos inquieta. A oração do Carmelita Secular há de inquietar o seu interior, e “reavivar o fogo da missão, reacendendo-lhe a alegria”, alegria do servir e do estar atento ao “grito sofredor do mundo.” Que Santa Teresa nos ajude a sair de nós mesmos e subir ao monte com Jesus, para nos apercebermos que Ele Se revela também através das chagas dos irmãos, dos esforços da humanidade, dos sinais dos tempos. Não devemos ter medo de tocar as chagas: são as chagas do Senhor. (PP. Francisco Homilia IV Centenário de Canonização)
SANTA TERESA DE JESUS, ROGAI POR NÓS!
Estela da Paz, OCDS.
Comissão de História.
Comissão de Espiritualidade.
Referência:
Livro Fundações. Fichas 31-40. Tradução: Frei Antônio Perim, ocd.
IV Centenário de canonização de Santa Teresa – Carta do P. Geral e Homilia do Papa Francisco. 12/03/2022.
Declaração Carismática do Carmelo Teresiano, de 2021.