Solenidade de São José, esposo da Virgem Maria

Solenidade de São José, esposo da Virgem Maria

Neste ano de 2023, antecipamos para o sábado, 18 de março, a grande festa da Solenidade de São José, esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria, pois o dia no qual o celebramos (19 de março) coincide com o 4° Domingo da Quaresma. Hoje é um dia festivo em toda a Igreja; especialmente, no Carmelo, onde a devoção a São José sempre se fez muito presente.

 

Neste dia, recordamos a importância de São José na História da Salvação como guardião da Sagrada Família. Assim nos indicava o Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1870, na ocasião da proclamação de São José como Patrono da Igreja; José, como protetor de Jesus e de Maria, foi eleito o guarda dos tesouros mais preciosos de Deus:

“De fato, ele teve como sua esposa a Imaculada Virgem Maria, da qual nasceu pelo Espírito Santo, Nosso Senhor Jesus Cristo, que perante os homens dignou-se ter sido considerado filho de José, e lhe foi submisso. E Aquele que tantos reis e profetas desejaram ver, José não só viu, mas com Ele conviveu e com paterno afeto abraçou e beijou; e além disso, nutriu cuidadosamente Aquele que o povo fiel comeria como pão descido dos céus para conseguir a vida eterna.”1

 

Também o Papa Francisco, na carta apostólica Patris corde, comenta a paternidade de São José e a relevância de sua vida entregue aos planos de Deus:

“A grandeza de São José consiste no fato de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. […] A sua paternidade se exprimiu, concretamente, em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em ter usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua vocação humana ao amor doméstico na oblação sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as capacidades no amor colocado ao serviço do Messias nascido na sua casa.”2

 

Na história da Igreja, a devoção a São José irá se desenvolver com o surgimento das Ordens Mendicantes. Dentre elas, a Ordem do Carmelo, em que o culto litúrgico a São José foi desde o início uma marca da devoção ao santo.3 Constantemente atrelado à figura de Maria, os carmelitas sempre cultivaram uma especial veneração pelo castíssimo esposo da Virgem e pai adotivo/putativo de Jesus, como recordam os superiores gerais da O. Carm. e da OCD:

Para os Carmelitas o interesse pela figura de São José foi um desenvolvimento natural da inspiração mariana da Ordem.”4

 

É inegável que Santa Teresa de Jesus tem participação importante na ampliação do culto a São José no Carmelo e em toda a Igreja. Nossa Santa Madre nos deixou como legado a confiança na intercessão de São José, por seu testemunho das experiências com o santo que considerava verdadeiro pai e senhor. Com Santa Teresa aprendemos a admirar mais a São José; por ela, o Carmelo cultua o santo como pai, patrono e protetor. Vale recordarmos algumas de suas palavras que manifestam seu amor e admiração:

 

Só peço, por amor de Deus, que experimente quem não acredita em mim e verá por experiência o grande bem que é encomendar-se a esse glorioso Patriarca e ter devoção a ele. Em especial pessoas de oração sempre teriam de ser afeiçoadas a ele, porque não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos, no tempo que tantas coisas passou com o Menino Jesus, e não dar graças a são José pelo bem que lhes ajudou. Quem não achar mestre que lhe ensine oração, tome esse glorioso santo por mestre e não errará o caminho.”5

 

Também nos voltamos para Santa Teresinha, neste triênio (2023-2025) dedicado a ela em todo o Carmelo Descalço, para que ela nos aponte ao Glorioso São José, tomando consciência da sua importância e do seu exemplo de abertura total aos desígnios de Deus. Com sua particular delicadeza e por inspiração divina, Teresinha dá voz a ele em uma de suas recreações piedosas, a fim de expressar o amor de São José à Virgem Maria e ao Menino Jesus:

 

“‘Oh, Maria! Deixai-me gastar minhas forças a serviço de Jesus. É por ele e por vós que trabalho… Este pensamento me dá coragem e me ajuda a suportar as fadigas. E depois, de noite, ao regressar, uma carícia de Jesus, um só de vossos olhares me fazem esquecer o cansaço do dia’.” (Trecho da fala de SÃO JOSÉ)6

 

Encontramos em São José, homem do silêncio e da ação, um modelo de escuta, abertura e disponibilidade à vontade do Senhor. Olhar para este glorioso santo nos indica o caminho a seguir: fidelidade, abandono e entrega total ao Reino de Deus. O Carmelo ama e venera São José também porque encontra nele um modelo de como deve ser um carmelita. Homem simples, homem do silêncio, da obediência, da pobreza, da castidade e mestre de oração.

 

As Constituições da Ordem Secular nos revelam isso: é São José um modelo a seguir, exemplo de fé e de abertura aos sinais de Deus, disponível ao Seu projeto. É ele Patrono da vida interior, Protetor dos carmelitas, que confiam a ele as esperanças, as fadigas e os trabalhos de cada dia.7 Nos diz Frei Alzinir, em seu “Comentário às Constituições”:

“Tal como Maria foi dócil aos planos de divinos, os Evangelhos narram também como São José teve um contente cuidado com Maria e Jesus e prontamente acolhe e executa as orientações divinas de receber Maria (Mt 1,24), de fugir para o Egito (Mt 2,13-14) e depois para retornar para Nazaré (Mt 2,19-23).”8

 

Neste sábado, dia dedicado a Nossa Senhora, nós também nos voltamos para São José para fixar o olhar naqueles que, desde sempre, protegeram e inspiraram os carmelitas. Se dizemos que o Carmelo é todo de Maria, ousemos dizer também que o Carmelo é todo de São José. Que nosso santo pai, patrono e protetor, o Glorioso São José, nos ensine a estarmos sempre à escuta da voz de Deus, no silêncio interior, para vivermos segundo os planos do Altíssimo. Que possamos nos assemelhar a ele, buscando fazer de nossas vidas uma oferta agradável a Deus.

 

São José, pai dos carmelitas, intercedei por nós!

 

Maria Luisa Teresa de Jesus, OCDS.

Comunidade São José/Petrópolis, RJ.

Comissão de Formação.

 

REFERÊNCIAS:

1 Papa Pio IX, Decreto “Quemadmodum Deus” (1870).

2 Papa Francisco, Carta Apostólica “Patris corde”, 1 (2020).

3 Frei Míċeál O’Neill, O.Carm. e Frei Saverio Cannistrà, OCD, “O Patrocínio de São José no Carmelo” (2020).

4 Ibid., p. 4.

5 Santa Teresa de Jesus, “Livro da Vida”, 6,8 (Editora Penguin-Companhia, 2010).

6 Santa Teresinha do Menino Jesus, “Obras Completas/ Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face” – “A Fuga para o Egito, RP 6” (Editora Paulus, 2018).

7 Constituições da Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares.

8 Frei Alzinir Debastiani, OCD, “Comentário às Constituições da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços” (R&A Design, 2022).

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