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16 de julho de 2022.
“Modelo e sinal luminoso de íntima comunhão com Deus”
Os Carmelitas comprazem-se em aplicar a Nossa Senhora do Carmo, juntamente com a Liturgia, o cântico do profeta: “Muitíssimo me alegrarei no Senhor, minha alma exultará no meu Deus, porque me revestiu com vestes de salvação, cobriu-me com o manto da justiça (Is 61,10). Tais palavras são como o prelúdio do Magnificat, o Canto de Maria! Muito bem exprimem a gratidão da Virgem pelos privilégios com que a ornou Deus, preparando-a para Mãe de seu Unigênito.
Dela, de fato, como de um jardim maravilhoso, fará germinar a justiça” (ibidem, 11), isto é, Jesus bendito “tornado para nós… justiça, santificação, redenção” ( 1 Cor 1,30). Diria S. Teresa: “A humildade trouxe do céu o Filho de Deus às entranhas da Virgem. (C 16,2) Não tenho outro remédio senão… confiar nos méritos de seu Filho e da Virgem sua Mãe, cujo hábito indignamente trago… louvai-a, minhas filhas, que o sois desta Senhora verdadeiramente… imitai-a e considerai que tal deve ser a grandeza desta Senhora e o bem de tê-la por patrona”. (3M 1, 3)
Sabemos que, desde a anunciação até à cruz, Maria é Aquela que acolhe a Palavra que n’Ela Se fez carne e foi até emudecer no silêncio da morte. É Ela, enfim, que recebe nos seus braços o corpo imolado, já exânime, d’Aquele que verdadeiramente amou os Seus «até ao fim» (Jo 13, 1). Mas o aspecto da oração de Nossa Senhora particularmente considerado e amado pelo Carmelo é este, o que assumiu aos pés da cruz, quando Jesus agonizante a proclama mãe dos homens, dizendo a João, e nele a todos os homens: “Eis tua mãe” (Jo 19,27).
Naquele momento atinge a oração de Maria o vértice da oferta sacrificial. Oferece ao Pai o amadíssimo Filho pela salvação dos novos filhos confiados ao seu amor materno. À oferta do Filho, une a sua intimamente associada à paixão. Revivermos a oração de Maria significa acompanhar a nossa com o nosso sacrifício, até transformá-la em oblação de nossa pessoa unida à da Mãe bendita e do divino Filho. Eis a oração que, como a de Maria, atrai o Espírito Santo sobre a Igreja, obtém graça e salvação para toda a humanidade e dá glória a Deus. Por isso, sempre que na liturgia eucarística nos abeiramos do corpo e do sangue de Cristo, dirigimo-nos também a Ela que, por toda a Igreja, acolheu o sacrifício de Cristo, aderindo plenamente ao mesmo. Justamente afirmaram os padres sinodais que «Maria inaugura a participação da Igreja no sacrifício do Redentor». Ela é a Imaculada que acolhe incondicionalmente o dom de Deus, e desta forma fica associada à obra da salvação. Maria de Nazaré, ícone da Igreja nascente, é o modelo para cada um de nós saber como é chamado a acolher a doação que Jesus fez de Si mesmo na Eucaristia. Os primeiros eremitas do Carmelo que em meio às suas celas construíram um oratório dedicado a Santa Maria, honravam a Mãe de Deus como modelo perfeito de sua vida contemplativo-apostólica. Desde então, foi a bem-aventurada Virgem do Monte Carmelo considerada modelo e sinal luminoso de íntima comunhão com Deus, de penetração amorosa dos mistérios divinos: o que está em plena sintonia com o Evangelho que tantas vezes a apresenta em oração. “Praza ao Senhor seja tudo louvor seu e da gloriosa Virgem Maria, cujo hábito trazemos”, cf. V 36, 28. Em Maria Santíssima, vemos perfeitamente realizada também a modalidade sacramental com que Deus alcança e envolve na sua iniciativa salvífica a criatura humana. Desde a anunciação ao Pentecostes, Maria de Nazaré aparece como uma pessoa cuja liberdade está completamente disponível à vontade de Deus; a sua Imaculada Conceição revela-se propriamente na docilidade incondicional à palavra divina. A fé obediente é a forma que a sua vida assume em cada instante perante a ação de Deus: Virgem à escuta, Ela vive em plena sintonia com a vontade divina; conserva no seu coração as palavras que lhe chegam da parte de Deus e, dispondo-as à maneira de um mosaico, aprende a compreendê-las mais a fundo (Lc 2, 19.51). Maria não conserva só para si os dons insignes de que foi enriquecida, mas os reparte com todos os homens; a todos deu seu Jesus, e a todos quer revestir com suas “vestes de salvação”, com seu “manto de justiça”, ou seja, com a graça e a santidade merecidas pelo Filho. Eis o significado do escapulário e do bentinho de Nossa Senhora do Carmo, símbolos expressivos de sua obra materna em favor de seus devotos que a escolheram por especial padroeira. “Pois foi para mim como estar numa glória ver feita uma obra que entendia ser para serviço do Senhor e honra do hábito de sua gloriosa Mãe que estas eram minhas ânsias”, como bem compreendia S. Teresa. (V 36,6) Maria é a grande Crente que, cheia de confiança, Se coloca nas mãos de Deus, abandonando-Se à sua vontade. Um tal mistério vai crescendo de intensidade até chegar ao pleno envolvimento d’Ela na missão redentora de Jesus; como afirmou o Concílio Vaticano II, «assim avançou a Virgem pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus (Jo 19, 25), padecendo acerbamente com o seu Filho único, e associando-Se com coração de mãe ao seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d’Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-A por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (Jo 19, 26-27)».
Por isto afirmamos, que a Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo é verdadeiramente “a honra e a glória do nosso povo”, honrada não só pelos carmelitas, mas também por inúmeros fiéis espalhados no mundo inteiro, como Rainha e esplendor do Carmelo. No dizer de Santa Teresa, dizemos ser o motivo de “guardamos a Regra de Nossa Senhora do Carmo”. (V 36, 26) Sob este título, seu culto remonta aos primórdios da Ordem Carmelitana. Liga-o a tradição à branca nuvenzinha avistada no monte Carmelo enquanto o profeta Elias suplicava a Deus que pusesse fim a uma longa seca. Naquela nuvenzinha semelhante “à palma da mão de um homem” (1Rs 18,44), que surgiu do mar e logo recobriu o céu de grossas nuvens carregadas de chuvas, reconheceu-se uma figura da Virgem Maria. Ao dar ao mundo o Salvador, foi portadora da vivificante água da graça. “Chovam as nuvens o justo” canta a Igreja no Advento, retomando um versículo de (Isaías 45,8). A Virgem é bendita, toda santa e cheia de graça desde o primeiro momento de sua Imaculada Conceição, a mística nuvem que deu ao mundo o Salvador.
Nossa Senhora do Carmo, Esplendor e Formosura do Carmelo, rogai por nós!
Por: Estela da Paz, OCDS.
Comissão de Espiritualidade
Comissão de História
Referências:
REIS, Frei Manuel, OCD. Santa Teresa de Jesus «chama todos os carmelitas à santidade».
MADALENA, Frei Gabriel de santa Maria, OCD. Intimidade Divina. SACRAMENTUM CARITATIS, 33. Exortação Apostólica pós Sinodal. PP. Bento XVI