Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, Virgem e Doutura

Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, Virgem e Doutura

SANTA TERESA DO MENINO JESUS, VIRGEM E DOUTORA DA IGREJA

Santa Teresinha, “ardente itinerário espiritual”

(Há 125 Anos cantando as misericórdias do Senhor)

Festa 1º de Outubro de 2022

“Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo”

Neste dia da Festa de Santa Teresinha, comemoramos os 125 anos em que a Pequena Flor do Carmelo canta as misericórdias do Senhor, e somos convidados, portanto, a fazer memória de sua via segura de santidade. Via que na teoria já é conhecida por muitos, mas que a nossa santinha sempre precisará nos atualizar, porque trata-se da sua doutrina de simplicidade e amor a Jesus, e ao próximo. Nossa proposta, então, será a de recordar breves experiências vividas antes de sua entrada no Carmelo de Lisieux, mas que determinarão o seu caráter religioso, caráter de uma grande doutora do Amor. Um caminho traduzido por vivências simples. Vivências ora interiores e profundas, ora exteriores e humanas, que a farão lançar-se ao outro para amar, partindo da máxima expressa por ela: “Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo”.

“Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos.”

(Mt 11,25)

Teresa de Lisieux não só compreendeu e descreveu a profunda verdade do Amor como o centro e o coração da Igreja, mas viveu-a com intensidade na sua breve existência. É justamente esta convergência entre a doutrina e a experiência concreta, entre a verdade e a vida, entre o ensinamento e a prática, que resplandece com uma particular clareza nesta Santa, e que a torna um modelo atraente de forma especial para os jovens e para aqueles que estão em busca do verdadeiro sentido a dar à própria vida. “Entre os «Doutores da Igreja», Teresa do Menino Jesus e da Santa Face é a mais jovem, mas o seu ardente itinerário espiritual demonstra muita maturidade, e as intuições da fé expressas nos seus escritos são tão vastas e profundas, que a tornam digna de ser posta entre os grandes mestres espirituais”, dirá S.J. Paulo II na celebração de sua canonização.

“Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo”

(PN 54, 22).

O segredo da felicidade. Ao completar catorze anos, no dia 2 de janeiro de 1887, S. Teresinha teve experiências que mudarão sua vida, até no seu aspecto físico. Celina dá-lhe lições de desenho. Sente incontroláveis desejos pela leitura, interessava-se por tudo. A graça do Natal vai dar frutos abundantes: uma frase de Teresa resume perfeitamente a abertura do seu coração ao abandono do mundo: “A caridade entrou no meu coração; senti a necessidade de me esquecer de mim para dar alegria. E desde então sou feliz!” (Ms A 45v). Liberta de si mesma pela irrupção do amor divino no seu ser, Teresa entra em relação com o mundo, sai do seu eu e começa a amar de verdade: quer “dar alegria”. A conseqüência é a alegria, porque o segredo da felicidade é o dom de si. No fim da sua vida, na sua última poesia sobre a Virgem Maria, escreverá: “Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo” (PN 54, 22).

Queria dar de beber ao meu Bem-Amado,  e sentia-me eu mesma devorada pela sede de almas”

(Ms A 45v)

Pescadora de almas. Entre as numerosas graças deste ano de 1887, há uma que vai ser decisiva para a sua vocação. Uma vez mais, a ocasião é quase irrisória, aparentemente casual. Assiste, sem dúvida em Julho, à missa na catedral de São Pedro. Do seu missal sobressai uma estampa de Jesus na cruz. Teresa vê que o sangue cai das mãos do crucificado. Ninguém o recolhe. Sofre por isso e decide ficar ao pé da cruz para recolher este divino sangue e oferecê-lo às almas. Ouve Jesus a dizer-lhe: “Tenho sede” (Jo 19,26), sede física, mas mais ainda, sede de almas. Também ela tem sede de almas, porque desde a abertura do seu coração no Natal, Teresa sente-se “pescadora de almas”, quer trabalhar pela conversão dos pecadores, quer “arrancá-las às chamas eternas”. “Resolvi manter-me em espírito ao pé da cruz para receber o divino orvalho que dela escorria, compreendendo que seria necessário espalhá-lo sobre as almas… O grito de Jesus na cruz: “Tenho sede!” ressoava também continuamente no meu coração. Estas palavras acendiam em mim um ardor desconhecido e muito vivo… Queria dar de beber ao meu Bem-Amado, e sentia-me eu mesma devorada pela sede de almas” (Ms A 45v). Atitude “sacerdotal” de uma jovem de catorze anos e meio que fica “ao pé da cruz” de Jesus para participar na salvação do mundo. A sua vocação resume-se a isto. É já o desejo intenso que exprimirá depois, também com muita freqüência: “Amar a Jesus e fazê-lo amar” (Or 6).

“Carmelita, esposa e mãe”

(Ms B 2v)

A sentença misericordiosa. S. Teresinha coloca em prática seus propósitos ao saber que na noite do dia 16 para o 17 de março, assassinaram três mulheres em Paris, na rua Montaigne, número 17: Maria Regnault, conhecida mulher do mundo parisiense, a sua criada e a sua filha de treze anos. O roubo foi o motivo dos assassinatos. A angústia é considerável em França. O horror do crime desencadeia a imprensa contra Henri Pranzini, originário de Alexandria, que é preso no dia 20 de março em Marselha, o seu processo é aberto no dia 9 de Julho, seguido com paixão pelo público. Mas Pranzini nega-o sempre. No dia 13 é condenado à morte. Não se sabe ao certo, mas talvez Teresa tenha ouvido falar do assunto na casa dos Guérin, na farmácia da praça Thiers que era um lugar muito concorrido e aberto. A pequena multiplicará, pois, orações e sacrifícios e mandará celebrar missas por ele. A sua confiança é tão grande que está certa de que, pela sua oração, Deus terá misericórdia dele, mesmo que o infeliz não mostre nenhum sinal de arrependimento. No entanto, pede ao Senhor um sinal, para si mesma. Sob o impulso da necessidade, para a qual não há lei, julga não desobedecer ao ler o jornal La Croix do dia 1º de setembro que relata a execução pública de Pranzini, na prisão da Roquette. Depois de ter recusado ao princípio o capelão, o abade Faure, Pranzini mandou-o chamar para beijar o crucifixo antes de ser guilhotinado. Depois de ler estes pormenores no jornal, Teresa esconde-se para chorar de alegria. Obteve o sinal esperado: Pranzini salvou-se! Não duvida um instante que tenha recebido “a sentença misericordiosa” de quem perdoa aos pecadores arrependidos, como o bom ladrão. Este sinal anima-a poderosamente na sua carreira ao Carmelo. Se o senhor lhe concedeu este grande pecador, quantos outros se seguirão! Não duvida em lhe chamar o seu “primeiro filho”, quando a imprensa da época — também católica — o qualificava com toda a espécie de apelativos. De fato, a sua vocação será ser “carmelita, esposa e mãe” (Ms B 2v), pois a virgindade consagrada não é esterilidade, mas fertilidade espiritual.

“O amor fazia-nos encontrar na terra Aquele que procurávamos”.

(Ms A 48r).

O ideal da felicidade. O Verão de 1887 está, pois, iluminado com grandes graças. Com a sua irmã Celina — de dezoito anos — Teresa diz viver “o ideal da felicidade”. No mirante, pela tarde, falam extensamente e recebem grandes graças: “Parece-me que recebíamos graças de ordem tão elevada como as concedidas aos grandes santos (…) Como era transparente e tênue o véu que escondia Jesus aos nossos olhares!… A dúvida não era possível; a fé e a esperança já não eram necessárias: o amor fazia-nos encontrar na terra Aquele que procurávamos” (Ms A 48r). São “irmãs de alma”, como as jovens evocadas por São João da Cruz (Cântico espiritual. 25): “Apressam-se as donzelas, sobre as tuas pegadas no caminho”, seguindo os passos de Jesus. Teresa não duvida escrever que recebiam graças tão elevadas como Mônica e seu filho Agostinho em Óstia (cf. Ms A 48r). Por outro lado, obtém do seu confessor poder para comungar quatro vezes por semana, coisa bastante rara no seu tempo. Desejará sempre a comunhão diária durante toda a sua vida, mas não o conseguirá. Antes de pedir a autorização ao seu pai para entrar no Carmelo, tinha que transpor outros obstáculos muito mais difíceis.

“Durante um mês convivi com muitos sacerdotes santos…

nem por isso deixavam de ser homens fracos e frágeis”

(Ms A 56r)

Como S. Teresa e S. Teresa rezar pelos sacerdotes. Outra experiência que afetará profundamente a futura carmelita é a convivência com os sacerdotes. Até esse momento não os tinha visto senão no exercício das suas funções sacerdotais, no altar, no confessionário, na catequese. Considerava-os “anjos” e não compreendia porque razão Santa Teresa de Jesus, sua santa madre convidava, na sua Reforma da vida carmelitana, a rezar pelos sacerdotes. A jovem Teresa Martin compreendia que se rezasse pelos pecadores… Mas, pelos sacerdotes? Dirá que descobriu a sua vocação na Itália: “Durante um mês convivi com muitos sacerdotes santos, e vi que, se a sua sublime dignidade os eleva acima dos anjos, nem por isso deixavam de ser homens fracos e frágeis” (Ms A 56r). Que pôde ver que a tenha escandalizado? Sem dúvida, nada grave. Mas esta vida comum demonstra-lhe com realismo que os sacerdotes são homens com o seu gênio, os seus defeitos. Pode também sofrer — o resultado o demonstrará — a falta de fervor na celebração dos sacramentos, especialmente da Eucaristia. Todas estas experiências tão novas, vividas apenas num mês, ensinaram muitíssimo a jovem Teresa. Escreverá sobre a viagem: “instruiu-me mais por si só do que longos anos de estudos”. Mais ainda, foi para ela uma experiência interior de primeira importância. Quando começa a viagem sabe que, em certo sentido, está em jogo a sua vocação por causa das distintas tentações já mencionadas, e também porque se sente observada pelo Pe. Révérony, encarregado pelo bispo Dom Hugonin de o informar sobre a jovem postulante e das suas atitudes em relação à vida de clausura.

Confia a sua pureza a Maria e a São José

(Ms A 57r)

Durante a peregrinação para a Itália, desde o princípio da viagem, algo interessante afetou interiormente a Teresinha. Luís Martin tinha reservado os quartos de um hotel perto de Nossa Senhora das Vitórias, o famoso santuário venerado pelas famílias Guérin e Martin. Nele, a jovem recebe uma grande graça: a Virgem a faz compreender que fazia mal em guardar a “dor de alma” desde os quatro anos. Não, a Virgem não queria falar-lhe da graça de 13 de maio de 1883, Teresa não tinha traído o segredo de Maria. Não, Teresa não o imaginou: “A Santíssima Virgem fez-me sentir que tinha sido verdadeiramente ela que me tinha sorrido e me tinha curado” (Ms A 57r). Teresa fica aliviada, liberta. Apresentando-lhe os perigos da viagem, confia a sua pureza a Maria e a São José (Ms A 57r).

“Como eu quero me aplicar a fazer sempre, com o maior abandono,

a vontade do bom Deus!”

(MA.84v)

Crescer muito no abandono e nas outras virtudes. Diante de tantas investidas sem sucesso para o seu desejo de entrar no Carmelo, no Natal de 1887 chega ao fim algo que há tanto tempo era esperado. Que contraste com o do ano anterior cheio de luz e de alegria. Na missa da meia-noite, Teresa medita na prova da fé, sem perder a esperança, apesar das lágrimas. Compreende também certamente que não é necessário impor datas ao Senhor: Ele continua a ser o mestre. Ela não é senão uma “bolinha” em suas mãos. Neste mesmo dia, Celina oferece-lhe um barquinho cuja vela levava a palavra: “Abandono”. Atitude que experimentara a pequena Teresa durante prolongado período. Com a chegada do novo ano, o ano de 1888, ela completa os seus quinze anos. Uma carta de Paulina informa-a que no dia 28 de dezembro, festa dos Santos Inocentes, o bispo Dom Hugonin tinha autorizado a sua entrada no Carmelo de Lisieux. Mas há um “mas”… As carmelitas, julgando a candidata muito nova para enfrentar a quaresma logo de entrada, decidiram atrasá-la três meses. À alegria, pois, mistura-se uma amarga decepção. Teresa, não obstante, aceita esta nova provação que a faz “crescer muito no abandono e nas outras virtudes” (Ms A 68r). E ainda, receberá algumas aulas em casa da senhora Papinau para aperfeiçoar a sua formação. Mas, sobretudo, preparar-se-á para a vida que a espera. Não com grandes penitências, mas com a fidelidade às pequenas coisas, com mortificações da sua vontade “sempre pronta a impor-se”, “prestando pequenos serviços, sem querer nada em troca”. “Com a prática destes nadas, me preparei para ser a noiva de Jesus…” (Ms A 68v). Ao fim e ao cabo, estes três meses passaram depressa e deixando-lhe uma grata recordação. Apesar das aparências, tinha já uma forte experiência da vida com Jesus, das graças e dos sofrimentos que isto implicava. Tinha conhecido e passado por múltiplas purificações, experimentado o que é ser salva pela graça. Interessava-lhe apenas uma coisa: viver escondida com o seu futuro Esposo, “amá-lo e fazê-lo amar”. Embora tivesse pressentimentos sobre a brevidade da sua vida, não podia saber que a sua presença no Carmelo não passaria de nove anos. O tempo de uma “corrida de gigante” (Ms A 44v).

Ó Pai, nós Vos bendizemos, juntamente com Jesus (cf. Mt 11, 25), porque escondestes os Vossos segredos «aos sábios e aos entendidos» e os revelastes a esta «pequenina», venha nos ensinando a fazer de nossa vida um permanente experiência de amor e de anúncio deste mesmo amor.

SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE,

ROGAI POR NÓS!

Por:

Estela da Paz, OCDS.

Comissão de História

Comissão de Espiritualidade

 

Ref.:

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II, por ocasião do título de DOUTORA DA IGREJA à SANTA TERESA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE – 19/10/1997.

GAUCHER. Texto de Monsenhor Guy,

Post a Comment