“Aqui se lhe comunicam todas as Três Pessoas e lhe falam…” (7M 1,6)
“O Senhor me possuiu como primícia de seus caminhos, antes de suas obras mais antigas; eu estava ao seu lado como mestre-de-obras; eu era seu encanto, dia após dia, brincando, todo o tempo, em sua presença, brincando na superfície da terra, e alegrando-me em estar com os filhos dos homens” (Pr 8,22.30-31).
A manifestação do Mistério da Santíssima Trindade se dá numa relação de amor, primeiramente, entre as Três Pessoas numa atividade que a teologia irá chamar “ad intra”, ou seja, interna. Atividade de Amor entre as Três Pessoas, o Pai que ama o Filho, o Filho que é amado e ama o Pai, e os dois que transbordam em Amor, gerando o Espírito Santo – que fora a qualquer redundância da língua -, é o Amor do Pai e do Filho. A profundidade deste Mistério Trinitário se expande exalando o mesmo amor na relação “ad extra” com a pessoa humana pela ordem da Graça e não da Natuteza, seja através da ação dos Sete Sacramentos da Igreja nos quais somos imersos, seja misticamente através oração, com a abertura de coração a esta mesma Graça. “Aqui se lhe comunicam todas as Três Pessoas e lhe falam, e lhe dão a entender aquelas palavras que diz o Evangelho que disse o Senhor: que viria Ele e o Pai e o Espírito Santo a morar com a alma que O ama e guarda Seus mandamentos”. (7M 1,6)
Nessa relação que se encerra na alma daquele que se abre à vontade divina, se dá através de um exercício de amor para com Deus, exercício que nasce de uma conformação primeiramente humana com Cristo, que “gerado e não criado” tem a mesma substância e do Pai. A mística cristã explica essa relação através de seus místicos. Nas Sétimas Moradas, em seus quatro capítulos, Santa Teresa nos apresenta o cume de sua vida espiritual, em que recebe a graça do matrimônio espiritual numa íntima comunicação com a Trindade, da que brota espontaneamente. Encontro pleno da alma com o Deus Trindade que a desposa, e, confirmando-lhe na verdadeira paz em que vivida na alma, vai tornando-lhe ao mesmo tempo ativa e contemplativa. Uma contemplação que não é subjetiva, mas que transcende o homem levando-o a esquecer-se de si e a entregar-se a Cristo e à Igreja. “Aqui é de outra maneira. Quer já o nosso bom Deus tirar-lhe as escamas dos olhos, e que veja e entenda alguma coisa da mercê que lhe faz, embora seja por uma maneira estranha; e metida naquela morada por visão intelectual, por certa maneira de representação da verdade, mostra-se-lhe a Santíssima Trindade, todas as Três Pessoas, com uma inflamação que primeiro lhe vem ao espírito, à maneira de tema nuvem de grandíssima claridade”. (7M 1,6)
Jesus nos explica bem esta manifestação do Espírito Santo que age na alma, e a conduz a uma experiência ainda maior, muito mais que momentânea, mas uma ação explicada por Santa Teresa como que “tirar-lhe as escamas dos olhos”, movendo a alma e conduzindo-lha à Verdade de Deus em sua Trindade: “Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu” (Jo 16,12-15). “Aqui – dirá, Santa Teresa -, por uma notícia admirável, que se dá à alma, entende com grandíssima verdade serem estas Pessoas distintas, todas Três, uma substância e um poder e um saber e um só Deus. De maneira que, o que acreditamos por fé, ali o entende a alma, podemos dizer, por vista, ainda que não é vista dos olhos do corpo, porque não é visão imaginária. Oh! valha-me Deus! Quão diferente coisa é ouvir estas palavras e crer nelas, ou entender por este modo quão verdadeiras são! E cada dia se espanta mais esta alma, porque lhe parece que nunca mais se apartam dela, antes vê notoriamente, da maneira que fica dita, que estão no interior de sua alma, e no mais interior, em uma coisa muito profunda, que não sabe dizer como é, porque não tem letras, sente em si esta divina companhia”. (7M 1,6-7)
Podemos concluir a respeito desta doce Presença, nesta permanente “companhia”, aclamando a Santíssima Trindade com o salmista: “Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes.Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!” (Sl 8, 5-6.10)
Por:
Estela da Paz, OCDS.
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