“É FESTA NO CÉU, NA IGREJA E NO CARMELO”

“É FESTA NO CÉU, NA IGREJA E NO CARMELO”

IV CENTENÁRIO DE CANONIZAÇÃO DE SANTA MADRE TERESA DE JESUS
(12/03/1622 – 2022)

 

É festa no Céu, na Igreja e no Carmelo, pois há 400 Anos, no dia 12 de março de 1622, quarenta anos depois de sua morte, Santa Teresa de Jesus foi canonizada pelo papa Gregório XV, ao lado de outros quatro santos, os jesuítas Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier, São Felipe Néri e Santo Isidoro Lavrador. 

 

Recordamos que a vida de Teresa desenvolve-se entre 1515 e 1582, o século de ouro da Espanha, com as suas conquistas no exterior, guerras, esplendor literário, reforma religiosa na qual intervêm o Papa e o Rei com notáveis conflitos jurisdicionais. É uma mulher, escritora e letrada, plenamente inserida na história eclesial e civil, embora seja monja, que sofre os valores e as sombras deste período, mesmo que reagindo contra esta situação em muitos aspectos: a nível social nos temas do feminismo, nas críticas às violências da guerra; também no campo religioso-espiritual reage contra a mentalidade da épocas em temas de vida e doutrina cristãs, como a oração, o valor da humanidade de Cristo.

 

Como carmelitas descalços celebremos neste dia 12/03/2022, o IV CENTENÁRIO DE CANONIZAÇÃO DE SANTA MADRE TERESA DE JESUS, com alegria, fé e devoção, agradecendo ao Bom Deus por sua vida e a fecunda inspiração que tantos bens trouxe à Igreja e ao Carmelo, e as nossas vidas. Ela que continua a nos acompanhar com a eloquência de sua vida, sua entrega a Deus, seus ensinamentos e conselhos.

 

Com sua entrega nas mãos de Deus, “Sou vossa, sois o meu fim: Que mandais fazer de mim?” E, sua certeza de pertença, “Vossa sou, pois me criastes,/ Vossa, porque me remistes,/ Vossa, porque me atraistes”. E sua doutrina eucarística: “Ficai-vos com Ele de boa vontade; não percais tão boa ocasião de negociar, como é a hora depois de ter comungado… é boa ocasião para que vos ensine o nosso Mestre, e para o ouvirmos e Lhe beijarmos os pés por nos ter querido ensinar, e suplicar-Lhe que não se vá.” (C 34,10)

 

Com seus ensinamentos para a oração: “O aproveitamento da alma não está em pensar muito, mas em amar muito”. (F 5,2); para permanecer em Deus: : “O verdadeiro amante em toda a parte ama, e sempre se lembra do amado”. (F 5,16); para o desapego: “desapergar-nos de nós mesmos, unirmo-nos à vontade de Deus e amando-nos uns aos outros, obteremos de Deus sua Luz, é logo veremos “lucro ou perda” na vida interior.” (5M 4,6-11); para a vivência da humildade: “Bom é andar de sobreaviso, não haja quebra da humildade ou gerar-se alguma vanglória. Suplicando ao Senhor que nos defenda disto…” (C 37,4); para fugirmos do orgulho: “Oh! Por amor de Deus, irmãs! temos perdido o caminho, porque vai errado desde o princípio, e praza a Deus não se perca alguma alma por guardar estes negros pontos de honra, sem entenderem que está a honra.” (C 36,6); para o amor fraterno: “Esta força tem o amor, se é perfeito, que esqueçamos o nosso contentamento para contentar a quem amamos”. (F 5,10); para o perdão, “Não posso eu crer que uma alma, que tão junta se chega à mesma Misericórdia, onde conhece quem é e o muito que Deus lhe tem perdoado, deixe de perdoar logo com toda a facilidade, e não fique disposta a ficar muito de bem com quem a injuriou.” (C 36,12). Sobretudo, para o amor a Deus e ao próximo: “Aqui só estas duas coisas nos pede o Senhor: amor de Sua Majestade e do próximo, é o que devemos trabalhar. Guardando-as com perfeição, fazemos a Sua vontade, e assim estaremos unidas com Ele”. (5M 3,7) E, com seus conselhos: “Nada te turbe/ Nada te espante./ Tudo passa./ Deus não muda./ A paciência tudo alcança./ Quem a Deus tem, nada lhe falta. /Só Deus basta!

 

Como descrever Santa Teresa de Jesus para a história da Igreja, do Carmelo e para os dias?

 

Uma santa mística. Teresa de Jesus é considerada uma santa mística, como aparece na imagem da “transverberação”, a graça estática que Teresa narra no capítulo 29 da Vida. João Lourenço Bernini esculpiu esta imagem em branco mármore de Carrara, em ‘647, e fez dessa imagem uma obra prima do barroco. O artista julgava-a , entre as muitas imagens estáticas por ele esculpidas, a ‘menos pior’. É a imagem que se encontra na Capela Cornaro da Igreja de Santa Maria da Vitória em Roma. Trata-se da imagem preferida pelo mundo barroco e pela interpretação barroca da espiritualidade teresiana: atenção ao maravilhoso, à fenomenologia mística, à irrupção do divino; com uma acentuação do proprium da experiência mística teresiana, do mais vistoso, apesar de no caso da transverberação, não se tratar da experiência mística mais importante da Santa. São superiores a graça do matrimônio espiritual e as visões trinitárias.

 

Uma Santa escritora. Assim é proposta na figura da mestra espiritual, na imagem de Filipe della Valle na Basílica Vaticana, de 1754. A santa aparece como escritora com pena na mão e o livro aberto. Aos seus pés uma inscrição em latim que inicia coma as palavras “Spirit. mater”. Uma leitura errada dessas palavras difundiu o título dado à Santa de ‘Mãe dos espirituais’. Na realidade o título se refere a Teresa em quanto ‘Mãe espiritual” da nova reforma dos Carmelitas Descalços. Assim aparece também em outros tipos iconográficos, sentada escrevendo ou em pé, com livro e pena. Uma figura clássica e bonita, freqüentemente adornada com a pomba do Espírito Santo, sugerindo a idéia da inspiração dos seus escritos, considerados ela Igreja “celestes”, carismáticos, guiados pelo Espírito Santo, desde o momento da sua beatificação e canonização.

 

Uma santa “andarilha”. Teresa foi definida a Santa Andarilha, viajora, fundadora. Assim foi esculpida na majestosa imagem de bronze de E. Cruz Solís, colocada diante dos muros do mosteiro da Encarnação de Ávila em 1962, com o cajado na mão e a bolsa nos ombros; uma figura que exprime também o serviço eclesial, na típica imagem de Teresa mulher em marcha, uma figura por nós preferida porque além do realismo da experiência apostólica e do serviço, eclesial torna evidente o sentido da mística cristã, destinada e aberta ao apostolado.

 

Por fim, como podemos definir os traços salientes de Santa Teresa de Jesus, mística, fundadora, escritora, Doutora da Igreja e nossa Mãe no Carmelo Descalço? Emprestamos de um teresianista algumas notas características.

 

– É uma mística histórica e narrativa que parte da experiência de salvação vivida, que se enlaça com a história universal da salvação e a confirma.

 

– É uma mística rica e complexa com dimensões de altura, largura e profundidade no seu processo linear. Não podemos reduzi-la sem empobrecer o mistério que é rico e complexo e sem mutilar a ressonância humana que também é complexa e rica.

 

– É uma mística personalística ou interpessoal, onde emergem além dos fenômenos, o Deus pessoal que se revela em Cristo e se doa no Espírito Santo e o homem na sua personalidade que é recriada e realizada na comunhão.

 

– É uma mística mistagógica, mística do mistério (mística mistérica), que anuncia e provoca esta possibilidade de viver o mistério cristão; uma mística que faz apostolado da mística. Teresa faz isso em primeira pessoa com cada leitor seu que esteja atento às intenções da autora que visa “engulosá-lo”, a torná-lo participante da roda dos amigos de Deus.

 

– É uma mística com mensagem, mais do que mensagens; a mensagem é a do próprio Deus e da história da salvação; o chamado à “koinonia”, a redescoberta que Deus mora no homem, que nos quer à sua imagem e semelhança. Por isso a mística teresiana é experiência das grandes realidades da economia cristã: da Trindade à humanidade, dos sacramentos à Igreja. Ela tem como mensagem central a proclamação de Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mediador da salvação, modelo da transformação mística, mestre da verdade.

 

Rezamos, festejamos, e deixamos neste dia, e para este tempo, em que a humanidade sobre com as fragilidades humanas, seja pelas doenças e as perdas, a fome e a miséria, ou ainda, com as disputas provocadas pelo egoísmo, sobretudo, com a guerra que a todos amedronta, cabe-nos atualizar e completar um dos clássicos conselhos de Santa Teresa:


SÓ DEUS BASTA!

 

Com a Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo e o Glorioso São José,
SANTA TERESA DE JESUS,
ROGAI POR NÓS!

 

Por:
Estela da Paz, OCDS.
Comissão de História.

Referência:
Obras Completas de Santa Teresa de Jesus.
Cervera, OCD. Frei Jesus Castellano. TERESA DE JESUS MESTRA DE VIDA ESPIRITUAL.

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