VIDA ESPIRITUAL NO CARISMA TERESIANO-SÃOJOANISTA

VIDA ESPIRITUAL NO CARISMA TERESIANO-SÃOJOANISTA

Lucas Anderson Oliveira
Comunidade Flor do Carmelo de Santa Teresinha
Fortaleza/CE. 

Para uma autêntica vida espiritual temos que perceber dois pontos centrais de nossa espiritualidade, que consistem em nossa ação e na ação de Deus. Nem sempre agimos conforme o desejo de Deus para nossas vidas, quantas vezes fizemos escolhas que depois percebemos que não condiziam com a vontade de Dele? Quase sempre, o nosso humano, e por isso, nossa vontade humana, tende a falar mais alto que a vontade celeste, assim, o que nos ajuda a entender melhor os projetos de Deus às nossas vidas é ter uma vida espiritual intensa e constante. 
Ter espiritualidade não significa apenas respeitar e acreditar em Deus, mas consiste na obediência total aos seus planos e projetos. É deixar o Senhor comandar a vida e ser suscetível a Sua vontade. Como falamos anteriormente, o nosso humano quer sempre falar mais alto que aqueles propósitos que vêm do alto, por isso é tão difícil entregar-se totalmente a vontade Daquele que nos ama. E para ter essa autêntica espiritualidade, não se desviando da obediência ao Senhor, não podemos deixar de rezar, ou seja, temos de ter uma oração constante, um diálogo incessante com o Divino Mestre. 
Ainda dentro dessa perspectiva ambivalente de nossa vontade em relação à vontade de Deus, temos uma distinção entre a vida espiritual e a vida carnal: 
a) Vida Espiritual: consiste em uma vida em que se busca a união com Deus, na busca constante por Sua vontade e na entrega sem reservas ao Seu infinito amor. 
b) Vida Carnal: contrária à vida espiritual, uma vida carnal procura sempre satisfazer-se por nossa própria vontade, que tende a desejar as paixões e efemeridades do mundo. Aqui, teríamos os três inimigos: a carne, o mundo e o demônio, que em determinados contextos estão bem relacionados. 
Santa Teresa de Jesus ao escrever sobre as moradas, fala de maneira implícita e explícita dessas duas vidas e nas batalhas que travamos ao longo de nosso caminho em relação às duas. Escolher uma vida espiritual é escolher a cruz, é escolher o amor e o sacrifício. Para alcançarmos as sétimas moradas e o matrimônio espiritual com Deus, como nos apresenta a Santa, devemos escolher uma vida espiritual e reconhecer todos os desafios e consequências advindos dela. 
Antes de avançarmos nessa espiritualidade faz-se necessário trilharmos o caminho do autoconhecimento, porém, não é qualquer conhecimento, além do conhecimento de nós mesmos, precisamos do conhecimento de nossa vida em relação a Deus. É preciso refletir se a nossa busca das vontades de Deus está surtindo efeito e se realmente nós as estamos buscando, e para que essa busca seja verídica, temos que tentar nos colocar de acordo com a vontade Daquele que nos ama, nos perguntando: será que Ele agiria da forma como eu estou agindo? Além disso, é preciso determinação, ou mais, de determinada determinação, como Santa Teresa nos disse, para encontrarmos Deus em todo e qualquer lugar, não nos ausentando de perto Dele nenhum momento. 
E a oração? A oração encontra um lugar especial na vida espiritual, porque a oração é o trato de amizade com Deus, como bem Santa Teresa nos colocou. Como podemos ter uma vida de entrega ao Senhor se não temos um contato diário e constante com Ele? A oração nos possibilita esse diálogo. É possível também que durante a oração façamos memória das obras que o Senhor realizou e realiza em nossas vidas, isso nos ajuda a estreitarmos o laço com Ele e a acreditar mais em Seu infinito amor. A vida espiritual não se resume apenas na oração, mas a oração se torna crucial, e até imprescindível aos demais aspectos da espiritualidade. 
Como estamos falando de oração podemos falar do tripé oracional de Santa Teresa de Jesus, que consiste no amor, no desapego e na humildade. O amor engloba tanto o amor ao Senhor, reflexo do amor Dele, quanto o amor ao próximo, reconhecendo no outro a face de Deus. Aqui se encaixa bem o segundo mandamento da lei de Deus, como bem é retratado no evangelho segundo Mateus, “amar ao próximo como a Ti mesmo” (Mateus 12, 30). É na convivência fraterna e no amor ao próximo que podemos reconhecer essa dimensão essencial de nossa espiritualidade. Se eu não consigo amar ao próximo e enxergá-lo além de julgamentos será que eu amo realmente a Deus? 
O desapego é outro ponto oracional e espiritual bastante complexo, por isso, retomamos a noção de vida carnal que discutimos ao início do texto. Enquanto seres humanos, tendemos a nos apegar tanto a objetos quanto às situações e experiências, sejam elas boas ou ruins. Quantas vezes nos apegamos demais a bens materiais de forma que isso nos atrapalha em nossa convivência com Deus? Por outro lado, podemos não demonstrar apego nenhum a bens materiais, mas em nosso íntimo existem outros apegos. Quantas vezes nos prendemos às situações do passado que nos causam dor, sofrimento, e, muitas vezes, até o ódio em relação às outras pessoas? Por isso, faz-se tão necessário o desapego, não só material, mas também espiritual. 
Por fim, o último elemento do tripé oracional de Santa Teresa é a humildade, aqui nos leva a pensar no reconhecimento de nós mesmos e de nosso lugar, pensando que todos são importantes para Deus, mesmo dentro de suas particularidades. Não podemos e nem devemos ser melhores do que ninguém porque rezamos mais ou temos mais intimidade com Deus. O Senhor nos ama da mesma maneira dentro de nossas idiossincrasias. Nem seremos os maiores e nem seremos os menores, para Deus seremos nós mesmos, dentro de nossos valores. 
Que saibamos dentro de nossas individualidades e por meio da oração, agir com total entrega e amor ao Senhor. Por meio do desapego, nos abramos a todas as potencialidades divinas dentro das nossas possibilidades, para que o Amado realize tudo por nosso meio, sendo humildes, a eternidade e o céu de Deus se fará em nós e por meio de nós.

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