Frei Marcos Juchem Júnior encontra-se com o Papa Francisco

Frei Marcos Juchem Júnior encontra-se com o Papa Francisco

O religioso destaca o carisma e a sabedoria do 
Sumo Pontífice
da Igreja Cató
lica
.
                 O entrevistado               
            Sou Frei Marcos
Juchem J
únior, nascido em
Montenegro, no Vale do Caí, na localidade de Santa Teresinha, hoje municí
pio de Bom Princípio. Sou o sexto filho, de um total de treze, do casal
Marcos Juchem e Adela Silvia Selbach Juchem, ambos vivos, o pai com 94 anos e a
mãe com 91, residentes em Santa Teresinha, Bom Princí
pio. A ordem à qual
pertenç
o
é dos Carmelitas Descalços. Entrei na Ordem Carmelita em
1965, quando tinha 12 anos. E tenho hoje o encargo de Definidor Geral para toda
América Latina e o Caribe e ainda para alguns serviços em países na Europa, num
total de 40.
  
                     O trabalho pastoral 
        O Definidor Geral reside em Roma, onde somos nove
membros, que temos a responsabilidade de animar toda a ordem, presente em 120
paí
ses. Esse encargo é exercido por seis anos. A cada seis anos, se reúnem
todos os superiores carmelitas, do mundo inteiro, numa assembleia, chamada de
capítulo-geral, que serve para a eleição da nova equipe diretiva. Fui eleito
para minha atual tarefa no ú
ltimo
cap
ítulo-geral, ocorrido em Fátima,
Portugal.
 
       Em Roma, onde residimos, nos reunimos a cada três meses,
para avaliar e programar como animar nossos religiosos no mundo. Na maior parte
do tempo, viajamos, visitando os conventos que estão sob nossa
responsabilidade. Na América Latina, temos 300 conventos, de frades e irmãs
carmelitas. Ao visitar a esses conventos, presentes em todas as geografias,
desde a Patagônia ao Mé
xico,
ora se est
á na costa do Pacífico, ora no Atlântico, ao nível do mar ou a mais de quatro mil metros de altura, como nas cidades
da Cordilheira dos Andes.

                    Encontro com o Papa
                 Aqui em Roma, além do nosso empenho na cúria-geral
da ordem, participamos de eventos diversos no Vaticano, de celebrações, temos
contato de modo geral com o Papa, como também contato em particular. Assim,
estive, no dia 11 dezembro, quinta-feira, participando da missa em reservado
com o papa Francisco, às 07 horas da manhã
. Nesta época do ano, inverno em Roma, é ainda escuro nesse horário,
ao me dirigir à Casa Santa Marta, casa para hospedagem dentro do Vaticano, onde
o Papa Francisco decidiu ter sua residê
ncia, não indo
aos assim chamados palá
cios
apost
ólicos. 
                  Na
Casa Santa Marta, est
á a pequena capela,
que é
a sede da Paróquia do Vaticano, onde o Papa, todas as manhãs,
celebra a Santa Missa. Assim, justo
às 07
da manhã, o Papa entra, revestido de simples sacerdote, para celebrar.
Estivemos presentes uns poucos padres e um pequeno grupo de leigos. Após a Missa, o Santo Padre nos recebe em particular, com interesse, curiosidade e
paciência, como se nada tivesse que fazer depois durante todo o dia. Ele
pergunta e se interessa, tendo uma memória espetacular e um humor e alegria
contagiantes.

  
            Impressões
sobre o Papa Francisco
            Um fato que ainda estamos vivendo e que a história revelará é que
o primeiro papa latino-americano é um homem sábio. De fato, é a palavra que
encontrei para defini-lo, um homem sábio. Todos sabemos que um sá
bio é alguém que tem um conhecimento não superficial, e sim um
conhecimento profundo. Conhecimento esse que nã
o é uma coisa de inteligência somente, mas sim conhecimento
que se transforma em vida, em testemunho, em diálogo, em comunicação,
conhecimento que contagia. Dessa maneira, o Papa Francisco é
um sábio, na dimensão espiritual, cristã e humana. A ele, podemos aplicar a
afirmaçã
o
b
íblica: “Cresceu em sabedoria e
graç
a”. 
            Aqui em Roma, aumentou em muito o número de turistas, em
muitos lugares é
até difícil caminhar. Eu afirmo que toda essa gente não vem para
Roma somente para ver um ancião vestido de branco, que reza e tem alguma aparição
em público. O povo vem a Roma buscar algo mais, esse algo é transmitido pelo Papa Francisco, pelos meios de comunicação. Qual a causa dessa comunicaçã
o tão forte e envolvente do papa Francisco? Ele é apontado
pelo mundo como um grande comunicador, talvez o maior de hoje. Creio que sã
o várias as causas (veja na sequência).

  
           Qualidades do Sumo Pontífice 
          1. Um homem de profunda capacidade de simpatia e empatía,
quer dizer, sabe ver além do exterior, valoriza e compreende a pessoa, a ama,
sobretudo quando a vê carregada de sofrimentos e dificuldades.

          2. A simplicidade da sua comunicação. Não utiliza palavras e raciocínios complicados. Como dizia
antes, é um homem sábio, que o faz simples, sem complicaçõ
es.
Ele
é tão simples e direto na sua comunicação que somente um sábio
consegue ser tão simples e convincente.

         3. Se comunica sobretudo pelo testemunho, pelos gestos. Não é exageradamente acadêmico. Se diz que somos pecadores,
ele diz que é o primeiro pecador. Se diz que procuremos a Cristo e a Deus para
as nossas vidas, ele é o primeiro a procurá-los. Se diz que amemos e ajudemos
aos pobres e necessitados, ele é o primeiro a fazê-lo. Se nos diz que
confessemos os nossos pecados, o faz a cada 15 dias. Se pede que rezemos, ele é
primeiro a rezar. Se pede que sejamos servidores, ele é o primeiro a servir, a
ter “cheiro de rebanho, de ovelha”. Se pede para sermos
empreendedores, é o primeiro a empreender.

      4.
É um homem transparente e pede transparência para a Igreja.
Aqui o vemos sem estardalhaços e gritos, realizando com determinação uma
reforma em toda a Igreja, dentro do próprio Vaticano. Reforma e mudança na
conduta dos cristã
os todos, a nível pessoal, administrativo e econômico. Diz que somos
pecadores, é da nossa condição, mas que não sejamos corruptos e mafiosos.

       5. Se comunica com um jeito de ser, ao vivo, diante de
dezenas de milhares de pessoas, com seus gestos, o aceno com a mão, o polegar
erguido, ok, positivo, obrigado! Afaga as crianç
as, anciãos, enfermos
e que dizer daquele abraço a um homem que tem toda a cabeça e rosto deformados
por uma enfermidade? O papa o abraça e o achega para si e depois esse homem
diz: “
A partir daí, minha vida mudou”.

         6. Porque o papa fala uma linguagem atual, de temas atuais,
de valores dos quais todos temos necessidade, entre os quais se destacam: 
A) o
respeito pela dignidade da pessoa humana, que não pode ser usada, explorada,
empobrecida, escravizada, descartada; 
B) a família, todos estamos acompanhando
o sínodo sobre a famí
lia; 
C) a insistência pela paz, o colocar fim aos conflitos armados e à fabricação de armas, sobretudo as de destruição atômica; 
D) os
perseguidos pelas guerras, cristãos perseguidos e martirizados, migrantes em
busca de melhores condições de vida;
E) a compreensão, o diálogo,
a miseric
órdia, isso é, que
compreendamos os erros, as imperfeições e pecados, alheios e nossos. Que todos
somos necessitados disso e que Deus, em primeiro lugar, é
diálogo, graça, misericórdia,
perd
ão. Como ele diz: “Deus nunca
se cansa de perdoar, nó
s é que nos cansamos de pedir perdão”. O papa não é um pastor que anda com um bastão numa mão e, na outra,
com o Direito Canônico, dando golpes nas ovelhas, muito menos nos necessitados,
abandonados, sofridos, pessoas com suas famílias desfeitas.

       7. Transmite uma mensagem alegre. Em sua encíclica
“A Alegria do Evangelho”, apresenta uma visão positiva de Deus, de Cristo
e da sua Igreja e pede que a Igreja não seja uma aduana pesada, controladora da
graça e do sagrado, que imponha fardos pesados. Alegria que não significa dar
gargalhadas, e sim é uma paz profunda, em meio, inclusive, aos problemas e
dificuldades da vida.
            Mensagem do Papa ao Vale do Caí

           Qual a mensagem direta do Papa Francisco aos habitantes
do Vale do Caí? As pessoas o conhecem um pouco pelos meios de comunicação, mas
o querem mais próximo. Transmitindo ao papa como é
a
nossa regi
ão do Vale do Caí, de
como vivem, se ocupam e trabalham os seus moradores, o Papa deixa uma mensagem.

        Que muito se alegra de como vocês vivem, do trabalho
feito com tanto empenho e dignidade, o cultivo da terra, na produção de
alimentos, sobretudo frutas, as mais variadas, cítricos, amoras, morangos,
hortigranjeiros. Os aviários e suínos, os tambos de leite. A indústria de
transformação, as cerâmicas, as serrarias, os móveis, os utensílios de limpeza,
servindo toda a regiã
o  na construção
civil, os serviç
os de saúde e educação, comércio,
etc….

        E o Papa valoriza muito e agradece, pois acolhem também
aos migrantes que vem de longe, da Á
frica, do Haiti, gente pobre, que enfrenta grandes sacrifícios, a questão da língua e, sobretudo, as viagens cansativas e feitas
na expectativa e inseguranç
a: “Vou chegar, vou conseguir sobreviver?”, deixando para trás
seus amigos, parte da família e amigos.

     O Papa também diz à população do Vale do Caí que, assim como trabalham com tanto empenho pelas
necessidades diá
rias, não trabalhem só para conseguir dinheiro e comprar coisas
materiais, 
a televisão, um computador, um celular, material para construir
uma casa, comprar um carro,  ter um dinheiro para ir ao baile, deixando-se
escravizar pelo consumismo, a diversão descontrolada deixando-se explorar…
Que vocês também trabalhem e busquem os valores que dão um sentido importante
para a vida de você
s.

         Ele insiste e pede que vocês também olhem com carinho
para a realidade da família na qual nasceram, sabendo das grandes dificuldades
que enfrentaram os imigrantes, constituindo famílias, que, na verdade, são
escolas para a vida. Constatamos as dificuldades das famí
lias,
n
ão só dificuldades de moradia, comida e trabalho, mas o
desafio de constituir a família, o continuarem unidos. Aqui é
importante se dar conta que não vamos pensar e julgar as famílias desfeitas, dos pais
que se separaram, de tantos jovens que têm dificuldade em assumir um matrimô
nio estável.  E sim vamos olhar para todas as famílias, a minha
famí
lia.
Ningu
ém de nós é perfeito,
nem a Igreja é perfeita, ouvimos e sabemos das notícias ruins e defeitos graves
que ela tem em seus membros. Assim, as famílias sã
o constituídas por pessoas, que erram, têm inseguranças, mas que desejam mesmo se
equilibrar, fortalecer, para que seus filhos tenham o melhor, onde até é
bastante
f
ácil dar presentes e brinquedos, porém é importante, pois cada um de nós quer e sabe que  necessita
ter para si uma famí
lia alicerçada sobre o amor, e educada nos valores perenes.

          O pai e mãe são presença, educação e segurança junto aos filhos, o que requer, muitas
vezes, um grande esforço, no entanto, que vale a pena. Como é
grande, incomparável, o casal poder gerar novas vidas, vidas essas que precisam de seu
lugar especí
fico, que não se improvisa, lugar esse  que podemos chamar de
sagrado, pois a vida humana é
sagrada,  sempre, destinada a um fim de realização no bem,
na dignidade, na fraternidade.

       O Papa, sabendo que uma das pontes sobre o rio Caí, na RS
122, em Bela Vista, está em reforma, diz que é assim na nossa vida. Precisamos
de duas pontes, uma por onde transitam nossas riquezas materiais. A outra ponte
por onde transitam nossos valores e riquezas humanas e espirituais. Às vezes,
precisamos reformar uma ou outra ponte. Uma ponte só é muito pouco, nã
o dá conta de transportar o que somos, toda a nossa imensa
riqueza interior. Tendo só uma ponte, há o perigo de nos acidentarmos, como o
que tem acontecido nessas pontes, tirando vidas e atrapalhando em muito, com
prejuízos materiais e vidas perdidas, algo incalculável e inconsolá
vel.


        Mensagem final do Frei Marcos

      Assim, estimados leitores, o encontro com o Papa
Francisco é importante, emocionante e, sobretudo, de grande valor. Continuemos
nos encontrando com ele, escutando seus ensinamentos e imitando seus gestos.
      Finalizo desejando a todos um Natal abençoado e que o
Menino Jesus encontre em cada coração um cantinho simples, mas cheio de
bem-querer, pois assim você
s terão um ano de 2015 pleno de realizações.
Santo Padre Francisco e o Definidor Geral
para a América Latina e Caribe, Frei
Marcos Juchem Júnior, ocd. 

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