UM PASTORINHO SÓ, ESTÁ PENANDO…

UM PASTORINHO SÓ, ESTÁ PENANDO…

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Iniciamos o Tempo da Quaresma. Tempo intenso para centrar a vida em Deus, que em Jesus Crucificado – o Pastorinho – sofre pelo abandono e ausência da amada – a pessoa. Quaresma é tempo de crescer vivendo em gratuidade, em serviço e em maior vigilância no serviço da caridade. Tempo de acolhida do amor Daquele que nos amou por primeiro, e pelo amor deixou-se crucificar por nós, a fim de nos tornar participantes de sua vida divina, correspondendo a este Amor, que “é a saúde da pessoa”.
Qual o caminho a seguir, senão o Caminho que é Jesus, cuja vida é modelo para a vida de cada cristão? É nesta direção que João da Cruz (1542-1591)  nos ajuda. Por isso gostaria de lembrar  algo de seus escritos sobre as paixões ou afeições da alma, pois uma vez bem organizadas, servem de impulso ao centramento da pessoa em Deus. Detenho-me sobretudo no capítulo 17  do terceiro livro da Subida do Monte Carmelo (Pode ser muito proveitoso neste tempo quaresmal reler os restantes capítulos desta mesma obra para um discernimento aprofundado e uma progressiva libertação dos impedimentos e obstáculos à vida nova que o Batismo nos concedeu).
As paixões ou afeições da alma ou pessoa são: gozo, esperança, dor e temor. Quando não conduzidas conforme a razão e a vontade, governadas pela caridade, enfraquecem a pessoa, causando a dispersão, assim como a água derramada que não tem força para gerar energia. Quando conduzidas conforme a vontade, no desejo de amar como Jesus, geram força, como a água canalizada que gera energia; unificam e centram a pessoa no único necessário, que é o amor de Deus, “pois fora de Deus tudo é apertado”.
Tal acontece quando a pessoa alegra-se (gozo) só em Deus, só espera em Deus, só lhe i o que não é Deus, só teme o que não agrada a Deus. Com isso vai-se fortalecendo a união com Deus  e  a vontade humana vai sendo transformada em vontade divina.
Não é raro encontrar quem busque a satisfação de forma ativa e voluntária, nos bens – inclusive os espirituais – e não em a Deus. Isto ocasiona a desarmonia e a perda da dignidade de pessoa; ela torna-se escrava dos vícios e imperfeições. Para ajudar e dar remédio, o santo vai analisando nos capítulos 17 e seguintes do 3 Livro da Subida do Monte Carmelo, seis tipos de coisas ou bens nos quais a pessoa pode colocar seu prazer, o que a faz deter-se no caminho espiritual, ou mesmo virar as costas para Deus.  São eles:  bens temporais, naturais, sensitivos, morais, sobrenaturais e espirituais.
 Ele define cada um deles, enumera os danos e consequências negativas que advém ao colocar sua alegria ou gozo neles e, por fim, também enumera os frutos ou proveitos concedidos à pessoa ao renunciar colocar sua alegria neles, transcendendo-os para ir a  Deus que é sua fonte, gerando a paz e as  virtudes.
Em todo este processo de ascese e de luta, o fundamento e suporte no caminho, a luz  a seguir e que  vai conduzir e orientar a ter o gozo e a alegria só em Deus é: “a vontade deve gozar-se somente naquilo que é a honra e a glória de Deus; e a maior honra podemos dar-Lhe é servi-Lo segundo a perfeição do Evangelho. Tudo o que está fora disso não tem nenhum valor e proveito para a pessoa” (3 Subida 17,2).
Que a Quaresma seja um tempo de profunda experiência da “Vida em abundância” na comunhão com o Pastorinho que por amor a cada um está só, penando…..


 Fr. Alzinir ,  ocd

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