A SERVIÇO DO PROJETO DE DEUS – APOSTOLADO
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Jovita Cordeiro, OCDS[1]
Gostaria de começar esta
reflexão com a definição de apostolado dada pelo decreto Apostolicam
Actuositatem de Paulo VI, segundo o qual: “o apostolado é toda atividade com a finalidade de ordenar a Cristo o
universo inteiro e tornar todos os homens participantes da redenção salvadora”.
reflexão com a definição de apostolado dada pelo decreto Apostolicam
Actuositatem de Paulo VI, segundo o qual: “o apostolado é toda atividade com a finalidade de ordenar a Cristo o
universo inteiro e tornar todos os homens participantes da redenção salvadora”.
Podemos dizer então que a
vocação cristã é naturalmente uma vocação ao apostolado. Cada cristão deve ter
como objetivo colaborar com o plano de Deus para que os seres humanos participem
da redenção salvadora, orientando todos a Cristo. Entretanto, esta tarefa, a
que todos são chamados indistintamente, deve se manifestar em cada vocação particular.
vocação cristã é naturalmente uma vocação ao apostolado. Cada cristão deve ter
como objetivo colaborar com o plano de Deus para que os seres humanos participem
da redenção salvadora, orientando todos a Cristo. Entretanto, esta tarefa, a
que todos são chamados indistintamente, deve se manifestar em cada vocação particular.
Deus dá a cada pessoa um lugar
especial no cumprimento do projeto de Deus. Ele dotou cada homem e cada mulher
de características singulares para que fossem capazes de contribuir, a sua
maneira, na realização desse plano.
especial no cumprimento do projeto de Deus. Ele dotou cada homem e cada mulher
de características singulares para que fossem capazes de contribuir, a sua
maneira, na realização desse plano.
“O Espírito Santo concede
também aos fiéis, para exercerem este apostolado, dons particulares[2], «distribuindo-os
por cada um conforme lhe apraz» [3], a fim
de que «cada um ponha ao serviço dos outros a graça que recebeu» e todos atuem,
«como bons administradores da multiforme graça de Deus»”[4].
também aos fiéis, para exercerem este apostolado, dons particulares[2], «distribuindo-os
por cada um conforme lhe apraz» [3], a fim
de que «cada um ponha ao serviço dos outros a graça que recebeu» e todos atuem,
«como bons administradores da multiforme graça de Deus»”[4].
Assim, a tarefa que nos cabe é
portanto intransferível, já que dependerá de nosso modo de ser, de nossas
vivências, de nossas virtudes e limitações para ser realizada. Por sermos
únicos, nossa contribuição também será única.
portanto intransferível, já que dependerá de nosso modo de ser, de nossas
vivências, de nossas virtudes e limitações para ser realizada. Por sermos
únicos, nossa contribuição também será única.
Mas para ordenar a Cristo o
universo inteiro, devemos, em primeiro lugar, estar com nossos corações
orientados para Deus, de tal modo que nossa vida reflita o espírito e a
mensagem do Evangelho, e sejamos capazes de: “Amar a Deus sobre todas as coisas
e ao próximo como a nós mesmo”[5].
universo inteiro, devemos, em primeiro lugar, estar com nossos corações
orientados para Deus, de tal modo que nossa vida reflita o espírito e a
mensagem do Evangelho, e sejamos capazes de: “Amar a Deus sobre todas as coisas
e ao próximo como a nós mesmo”[5].
Entretanto, Deus sabe que não
podemos amar a quem não conhecemos e por isso mesmo tomou a iniciativa de se
comunicar amorosamente a nós através de sua Palavra. “E a Palavra de Deus acaba
por indicar a Pessoa de Jesus Cristo, Filho eterno do Pai feito homem” [6]
podemos amar a quem não conhecemos e por isso mesmo tomou a iniciativa de se
comunicar amorosamente a nós através de sua Palavra. “E a Palavra de Deus acaba
por indicar a Pessoa de Jesus Cristo, Filho eterno do Pai feito homem” [6]
Portanto, não podemos
prescindir de nos encontrarmos com a Pessoa de Cristo, Palavra de Deus, presente
nas Sagradas Escrituras e configurar nossa vida à vida de Cristo, pois como diz
Santa Teresa, “para que o amor seja verdadeiro e duradoura a amizade, deve
haver compatibilidade.” [7]
prescindir de nos encontrarmos com a Pessoa de Cristo, Palavra de Deus, presente
nas Sagradas Escrituras e configurar nossa vida à vida de Cristo, pois como diz
Santa Teresa, “para que o amor seja verdadeiro e duradoura a amizade, deve
haver compatibilidade.” [7]
A palavra divina introduz cada
um de nós no diálogo com o Senhor. Através dela, Deus fala e nos ensina como
podemos falar com Ele. Participar deste diálogo é nos introduzir também em uma
vida de oração, tratando “de amizade com quem sabemos que nos ama”.[8]
um de nós no diálogo com o Senhor. Através dela, Deus fala e nos ensina como
podemos falar com Ele. Participar deste diálogo é nos introduzir também em uma
vida de oração, tratando “de amizade com quem sabemos que nos ama”.[8]
Sabemos que na cultura ocidental,
a palavra “amor” encontra-se profanada pelo mal-uso. Muitas vezes, confundimos
amor com sentimentalismo e fruição de um gozo sensível. Assim, só conseguimos
amar aquilo que nos agrada. Mas, Jesus nos propõe, carinhosamente, outro modo mais
perfeito de amor:
a palavra “amor” encontra-se profanada pelo mal-uso. Muitas vezes, confundimos
amor com sentimentalismo e fruição de um gozo sensível. Assim, só conseguimos
amar aquilo que nos agrada. Mas, Jesus nos propõe, carinhosamente, outro modo mais
perfeito de amor:
“Filinhos, não amemos com
palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade.”[9] E em
outro trecho nos diz, acerca de nossas ações:
palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade.”[9] E em
outro trecho nos diz, acerca de nossas ações:
“Quem tem meus mandamentos e os
observa é que me ama” [10]
observa é que me ama” [10]
O amor a Deus, portanto, nos aponta
uma conduta: amar é cumprir os mandamentos.
uma conduta: amar é cumprir os mandamentos.
Temos assim, mais um ponto a
nos apoiar no cumprimento do projeto de Deus, tanto no âmbito do trabalho, da
família, da política, em nossas comunidades, enfim, em todos os ambientes que
frequentamos. Os mandamentos, contidos na Palavra de Deus, tornam-se, portanto,
norteadores de nossa conduta ética e moral. Vive-los torna-se um sinal de
pertencimento a Cristo. Hoje, mais do que nunca, em que vivemos uma crise de
valores, o mundo está sedento deste testemunho.
nos apoiar no cumprimento do projeto de Deus, tanto no âmbito do trabalho, da
família, da política, em nossas comunidades, enfim, em todos os ambientes que
frequentamos. Os mandamentos, contidos na Palavra de Deus, tornam-se, portanto,
norteadores de nossa conduta ética e moral. Vive-los torna-se um sinal de
pertencimento a Cristo. Hoje, mais do que nunca, em que vivemos uma crise de
valores, o mundo está sedento deste testemunho.
Mas, viver e agir deste modo
não tem como objetivo um fim em nós mesmos, nem concorre para que sejamos os
únicos beneficiados, pois “não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do
alqueire, mas no candelabro, para iluminar a todos que estão na casa. Assim, nos
diz Jesus, deve ser todo aquele que o segue: brilhe a vossa luz diante dos
homens, para que vendo vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos
céus.” [11](Mt 5,
15-16).
não tem como objetivo um fim em nós mesmos, nem concorre para que sejamos os
únicos beneficiados, pois “não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do
alqueire, mas no candelabro, para iluminar a todos que estão na casa. Assim, nos
diz Jesus, deve ser todo aquele que o segue: brilhe a vossa luz diante dos
homens, para que vendo vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos
céus.” [11](Mt 5,
15-16).
O testemunho cristão irradia
naturalmente sua luz e alcança o outro. O homem espiritual, por sua presença, por suas
proposições, por suas atenções, difunde uma alegria serena nos que dele se
aproximam. São reveladores de uma nova maneira de viver”[12].
naturalmente sua luz e alcança o outro. O homem espiritual, por sua presença, por suas
proposições, por suas atenções, difunde uma alegria serena nos que dele se
aproximam. São reveladores de uma nova maneira de viver”[12].
Portanto, nosso relacionamento
de amor com Deus não nos conduz a um fechamento na própria relação, mas amplia
seu alcance abrindo-se aos demais para que se tornem participantes desse mesmo
amor.
de amor com Deus não nos conduz a um fechamento na própria relação, mas amplia
seu alcance abrindo-se aos demais para que se tornem participantes desse mesmo
amor.
Os mandamentos nos direcionam
naturalmente a amar os irmãos. Quem ama não irá matar ou desejar para si o que
é do outro; honrará seu pai e sua mãe. Portanto, é inconcebível que aquele que
se diz cristão se comporte contrariamente a estes princípios.
naturalmente a amar os irmãos. Quem ama não irá matar ou desejar para si o que
é do outro; honrará seu pai e sua mãe. Portanto, é inconcebível que aquele que
se diz cristão se comporte contrariamente a estes princípios.
Neste sentido, Jesus nos
adverte: “se alguém disser: ‘amo a Deus’ mas odeia seu irmão, é um mentiroso”.
Aquele que ama a Deus, ame também seu irmão”[13].
adverte: “se alguém disser: ‘amo a Deus’ mas odeia seu irmão, é um mentiroso”.
Aquele que ama a Deus, ame também seu irmão”[13].
Se devido a nossa história de
vida não sabemos amar a nós mesmo, tampouco saberemos amar os irmãos. Jesus nos
diz que precisamos pedir ao Pai que nos dê o Espírito Santo para que Ele nos
ensine a amar verdadeiramente.
vida não sabemos amar a nós mesmo, tampouco saberemos amar os irmãos. Jesus nos
diz que precisamos pedir ao Pai que nos dê o Espírito Santo para que Ele nos
ensine a amar verdadeiramente.
Além da oração e da Palavra de
Deus, os sacramentos e a participação na vida eucarística são fontes da ação
transformadora de Deus em nós.
Deus, os sacramentos e a participação na vida eucarística são fontes da ação
transformadora de Deus em nós.
A família e a nossa comunidade,
‑ família carmelitana ‑, são espaços privilegiados para convivência fraterna e
a expressão do amor de Deus. “ Se não amamos ao irmão que vemos, como poderemos
amar a Deus que não vemos?” [14] Novamente,
Jesus reorienta a tendência que temos de viver o amor no âmbito simplesmente
subjetivo e nos posiciona em nossa realidade objetiva.
‑ família carmelitana ‑, são espaços privilegiados para convivência fraterna e
a expressão do amor de Deus. “ Se não amamos ao irmão que vemos, como poderemos
amar a Deus que não vemos?” [14] Novamente,
Jesus reorienta a tendência que temos de viver o amor no âmbito simplesmente
subjetivo e nos posiciona em nossa realidade objetiva.
A família nucelar do carmelita
secular deveria ter como modelo a Família de Nazaré e tornar-se um lugar de
irradiação da vida fundada em Cristo, e assim apresentar ao povo de Deus um
modo possível de espiritualidade familiar.[15].
secular deveria ter como modelo a Família de Nazaré e tornar-se um lugar de
irradiação da vida fundada em Cristo, e assim apresentar ao povo de Deus um
modo possível de espiritualidade familiar.[15].
É justamente a espiritualidade
que brota da oração, que o pai e a mãe carmelitas passarão a criança,
ajudando-lhe a fazer seu encontro pessoal com Deus. Entretanto, quando esta
realidade falta, a família corre o risco se tornar um ambiente onde se produzem
as mais graves feridas.
que brota da oração, que o pai e a mãe carmelitas passarão a criança,
ajudando-lhe a fazer seu encontro pessoal com Deus. Entretanto, quando esta
realidade falta, a família corre o risco se tornar um ambiente onde se produzem
as mais graves feridas.
Como parte de nossa vocação
particular no seio da Igreja, Deus também nos chamou para sermos carmelitas, e assim
nos ajudarmos e animarmos mutuamente na vida orientada para Cristo. Como o
salmista poderíamos dizer, de uma forma um pouco diferente, “este foi o caminho
que Deus fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!”.
particular no seio da Igreja, Deus também nos chamou para sermos carmelitas, e assim
nos ajudarmos e animarmos mutuamente na vida orientada para Cristo. Como o
salmista poderíamos dizer, de uma forma um pouco diferente, “este foi o caminho
que Deus fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!”.
Como expressão de nossa
vivência comunitária, a Santa Igreja nos exorta, além da vivência do amor:
vivência comunitária, a Santa Igreja nos exorta, além da vivência do amor:
“Aqueles leigos que, seguindo a própria
vocação, se alistaram em alguma das associações ou institutos aprovados pela
Igreja, devem, de igual modo, esforçar-se por assimilar as características da
espiritualidade que lhes é própria”.[16]
vocação, se alistaram em alguma das associações ou institutos aprovados pela
Igreja, devem, de igual modo, esforçar-se por assimilar as características da
espiritualidade que lhes é própria”.[16]
Penso que é importante
enfatizarmos este ponto. Na Ordem Secular, não é incomum vermos pessoas que
desejam abraçar ao mesmo tempo vários carismas, várias expressões de espiritualidade,
sem conseguir se engajar profundamente em uma em particular. Assim, vivem na
superficialidade ou com o coração dividido entre várias expressões igualmente
boas. Entretanto, precisamos ser honestos conosco mesmos e com os irmãos e
assumirmos o caminho e a espiritualidade que Deus pensou para nós.
enfatizarmos este ponto. Na Ordem Secular, não é incomum vermos pessoas que
desejam abraçar ao mesmo tempo vários carismas, várias expressões de espiritualidade,
sem conseguir se engajar profundamente em uma em particular. Assim, vivem na
superficialidade ou com o coração dividido entre várias expressões igualmente
boas. Entretanto, precisamos ser honestos conosco mesmos e com os irmãos e
assumirmos o caminho e a espiritualidade que Deus pensou para nós.
Por último, o documento nos diz
que “o apostolado, contudo, não consiste apenas no testemunho da vida; o
verdadeiro apóstolo busca ocasiões de anunciar Cristo por palavra, quer aos não
crentes para os levar à fé, quer aos fiéis, para os instruir, confirmar e
animar a uma vida fervorosa; «com efeito, o amor de Cristo estimula-nos» [17]; a
viver de acordo com sua palavra e deve nos animar a dizer como o Apóstolo: «ai
de mim, se não prego o Evangelho» [18]
que “o apostolado, contudo, não consiste apenas no testemunho da vida; o
verdadeiro apóstolo busca ocasiões de anunciar Cristo por palavra, quer aos não
crentes para os levar à fé, quer aos fiéis, para os instruir, confirmar e
animar a uma vida fervorosa; «com efeito, o amor de Cristo estimula-nos» [17]; a
viver de acordo com sua palavra e deve nos animar a dizer como o Apóstolo: «ai
de mim, se não prego o Evangelho» [18]
Mas devemos estar cientes de
que é a credibilidade de nosso anuncio depende de nosso testemunho de vida.
que é a credibilidade de nosso anuncio depende de nosso testemunho de vida.
Gostaria de terminar esta
reflexão com um pensamento de São João da Cruz: Quanto maior a afeição, maior a
identidade e semelhança, porque é próprio do amor fazer o que ama semelhante ao
amado. Esperamos então que o amor de Deus por nós e a nossa correspondência realize
em nos sua obra redentora e salvífica.[19]
reflexão com um pensamento de São João da Cruz: Quanto maior a afeição, maior a
identidade e semelhança, porque é próprio do amor fazer o que ama semelhante ao
amado. Esperamos então que o amor de Deus por nós e a nossa correspondência realize
em nos sua obra redentora e salvífica.[19]
[1]
Formadora da comunidade Santa Teresa dos Andes – Belém-Pa
Formadora da comunidade Santa Teresa dos Andes – Belém-Pa
[2]
1Cr12,7
1Cr12,7
[3]
1Cr 12,11
1Cr 12,11
[4]Cf
PAULO XI, Decreto Apostolicam Actuositatem
PAULO XI, Decreto Apostolicam Actuositatem
[5]
Mc12,29-31
Mc12,29-31
[6]
Cf BENTO XVI, Exort ap. pós-sinodal Verbum Domini
Cf BENTO XVI, Exort ap. pós-sinodal Verbum Domini
[7]
Livro da Vida 8,5
Livro da Vida 8,5
[8]
Ibidem
Ibidem
[9]
1Jo3,18
1Jo3,18
[10]
Jo14,21
Jo14,21
[11]
Mt 5,15-16
Mt 5,15-16
[12]
Dolto, A fé a luz da Psicanálise, p.40.
Dolto, A fé a luz da Psicanálise, p.40.
[13]
1Jo4,20-21
1Jo4,20-21
[14]
1Jo4,20
1Jo4,20
[15]
Boletini, A Espiritualidade do Discipulado de Cristo, 15, 2007
Boletini, A Espiritualidade do Discipulado de Cristo, 15, 2007
[16]
Cf PAULO XI, Decreto Apostolicam Actuositatem
Cf PAULO XI, Decreto Apostolicam Actuositatem
[17]
2Cr5,14
2Cr5,14
[18]
1Cr9,16
1Cr9,16
[19]
Subida ao Monte Carmelo
Subida ao Monte Carmelo
