SÃO JOÃO DA CRUZ, GUIA PARA A FONTE NO DESERTO

SÃO JOÃO DA CRUZ, GUIA PARA A FONTE NO DESERTO

Foto – Busto de S. João
da Cruz. Reconstrução de sua face a partir do crânio do Santo, feita em 1991
por ocasião do IV Centenário da sua morte (Casa Geral OCD)
São João da Cruz foi um homem
de esperança. Embora seja conhecido como “Mestre da fé”, a esperança cristã é
para ele é fundamental no caminho para a união com Deus. È motor que impulsiona
a conseguir as realidades que a fé indica.
Fala da esperança que
tem memória em Deus e  busca unicamente a
Sua posse (3 Subida 15,1). Por isso espera Nele com “anseio e gemido” buscando acima
e antes de tudo encontrá-Lo. E  se o faz
com amor verdadeiro, não se  contentará
com outras coisas, mas somente com Ele mesmo. Isto é sinal de que o amor é verdadeiro
(Cântico espiritual 1,14).
Nossa condição de
pessoas em caminho é condição de esperança. Ao lado da fé e do amor, anseia
pela posse da adoção dos filhos de Deus (Chama 1,27). Neste peregrinar terreno,
a esperança é o traje verde da pessoa-noiva que segue adiante ao encontro com o
Amado. Tal traje verde defende-a do mundo e de suas atrações passageiras, para
por o desejo nas realidades que não se vêem (2 Noite 21,8). Neste caminhar “o
homem, iluminado pela luz da fé, que lhe faz esperar a vida eterna… deve
reger-se, no exercício das virtudes morais… praticadas por amor a Deus e para
adquirir a vida eterna” (3 Subida 27,4).
Também na noite da alma,
a esperança arranca da pessoa toda outra vã esperança e todo desejo do que é terreno,
deixando-a no vazio, para que seja ocupado pelo Tudo que é Deus (2 Noite 9,7).
É a espera da posse de Cristo, esposo da alma em quem encontra o Tudo de Deus
para a pessoa enamorada (Cântico 7,6).
Este breve resumo da
esperança teologal em S. João da Cruz nos faz ver que a realidade quotidiana,
muitas vezes ocupada com mil e uma coisas, trabalhos, dificuldades familiares,
podem ser vividas como uma experiência de deserto estéril. Mas por outro lado,
se vivermos esta mesma realidade à luz da fé, no deserto “é possível
redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; … no deserto, existe
sobretudo a necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem
o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança… somos
chamados a ser pessoas-cântaro para dar de beber aos outros. Às vezes o cântaro
transforma-se numa pesada cruz, mas foi precisamente na Cruz que o Senhor,
trespassado, Se nos entregou como fonte de água viva. Não deixemos que nos
roubem a esperança!” E a  “verdadeira
esperança cristã, que procura o Reino escatológico, gera sempre história” (
Francisco, Evangelii gaudium  86. 181).
Prossigamos o Advento
com esperança e alegria. E no dia em que celebramos são João da Cruz, busquemos
na sua doutrina e escritos a luz para continuar preparando os caminhos do
Senhor que vem, com a presença materna de Maria, que é “Mãe de todos, é sinal
de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a
justiça. Ela é a missionária que Se aproxima de nós, para nos acompanhar ao
longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno. Como uma
verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do
amor de Deus (Francisco, Evangelii Gaudium 286).
Fr. Alzinir

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