Santa Teresa: monja de clausura pelos caminhos da Espanha
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O que entendemos quando falamos de monjas de clausura? Frei Patrício explica este caminho corajoso
Por Frei Patrício Sciadini
Cairo, 25 de Maio de 2015 (ZENIT.org)
O V Centenário do nascimento de Santa Teresa d Ávila, fundadora das carmelitas descalças e dos carmelitas descalços, coloca em discussão tanto nossa maneira de pensar como de viver. Hoje gostaria de evidenciar um aspecto do momento atual, onde a Igreja, mãe e mestra, se encontra com uma certa dificuldade e que Teresa pode oferecer uma luz e um caminho novo e corajoso: a clausura. O que nós entendemos quando falamos de monjas de clausura ou de Carmelitas Descalças, fundadas por Santa Teresa d’Ávila, naquela manhã quente e esplendida do 14 de agosto de 1562? A fundação de São José foi preparada no silêncio, às escondidas. O povo de Ávila acordou com as badaladas do sino do pequenino mosteiro e ficou assustado, preocupado por ter que manter economicamente um outro mosteiro e outras monjas. Tentou-se todo o possível para fechar o mosteiro, mas não teve jeito. O bispo Dom Álvaro estava de acordo e especialmente Teresa era uma “cabeça dura”, que não desanimava diante de coisas deste tipo.
Quando nós falamos hoje de clausura entendemos monjas contemplativas que decidem separarem-se do mundo, para viver uma maior intimidade com Deus, e que querem abraçar, com a oração, todas as necessidades da Igreja e serem uma presença viva, atuante, dentro da comunidade, não pelas formas de apostolado, nem pelas obras, mas sim pela oração e uma intensa vida espiritual. Se fala de clausura papal. Não podem sair a não ser por determinados motivos e normas. E se obrigam a uma vida de sacrifício, de distância do mundo e etc dos etceteras. Tudo bem. Nada contra isto. Mas como Teresa soube “administrar tudo isto”, como ela e suas monjas souberam viver a clausura naquele tempo? E como deveria ser vivida hoje?
Não é caso de perder-nos em estéreis discussões sobre isto, tanto mais que eu não sou monja de clausura, mas sim ver como Teresa amou intensamente a clausura como “recanto de solidão” para estar na escuta de Deus e viver, como dizia o seu filho e mestre espiritual João da Cruz, “a solidão sonora e música silenciosa”. Mas ao mesmo tempo o seu zelo pela missionariedade a levou muitíssima vezes a “sair da clausura” para levar a presença de Cristo e do Carmelo no coração das cidades. Isto podemos comprová-lo olhando “o entusiasmo e uma certa ânsia de fundar mosteiros a toque de caixa”, em 20 anos, isto é de 1562 ao 1582. Teresa fundou quase 20 mosteiros de monjas e 13 de frades… Um ritmo impressionante, uma atividade que poderíamos chamar “frenética”, e projetou um Carmelo em Madri, mesmo que nunca conseguiu realizar.
Às vezes Teresa tinha que sair da clausura para consolar princesas depressivas ou jovens princesas como a de Alba de Tormes, que estava prestes a dar a luz, que queria a presença da madre Teresa. Ela chegará mais tarde para morrer em Alba de Tormes. Foi convidada a sair da clausura pelos Superiores sem motivos sérios, e hoje diríamos inúteis, mas Teresa é obediente e se coloca em caminho, com dificuldades e vai. Sabe como se relacionar com bispos e convencê-los a aceitar e apoiar as fundações, como a de Burgos e de Sevilha.

O que diria Teresa de Ávila da clausura de hoje? Vamos deixar para um próximo artigo, que o meu espaço terminou. Mas creio que é necessário ter uma visão de clausura, de contemplação, que seja ao mesmo tempo um estilo de vida, com normas jurídicas, mas com uma visão do que diz Jesus: “não é o homem que é feito para os sábado, mas o sábado para o homem”. Nasce sem dúvida uma nova reflexão sobre este tema tão importante ao se colocar em discussão, a clausura. Mas será que se rompe a clausura só saindo do mosteiro? Creio que hoje os meios de comunicação, se não bem usados, são um meio não para conservar o silêncio e solidão, para uma maior intimidade com Deus, mas para fazer entrar o mundo e a “mundanização” nos conventos de clausura e nos corações dos contemplativos e dos consagrados.
