SANTA TERESA DO MENINO JESUS, VIRGEM E DOUTORA DA IGREJA
SANTA TERESA DO MENINO JESUS, VIRGEM DE NOSSA ORDEM
Festa 1º de Outubro de 2023
“A caridade, eis minha única estrela” (PN.17,8)
Santa Teresinha viveu em profundidade o Mistério do Amor de Deus em sua vida pessoal e religiosa, nas suas relações fraternas, seja com àqueles aos quais lhe eram caros – os seus familiares, como com àqueles e àquelas com quem o próprio Deus a concedeu para amar e servir, servir e amar, amar e perdoar, perdoar e amar. Situações não lhe faltaram para por em prática as aventuras dessa missão ao amor aprendida do próprio Jesus. Escreve S. Teresinha no MC sobre a prática da Caridade Fraterna, em uma de suas orações dirigindo-se a Jesus: Ah, Senhor, sei que não me ordenais nada impossível, conheceis melhor do que eu a minha fraqueza, minha imperfeição, sei bem que jamais poderia amar minhas irmãs como vós as amais, se Vós mesmo, ó meu Jesus, não as amásseis em mim! É porque querieis me conceder essa graça, que fizestes um mandamento novo. Oh, como o amo, pois ele me dá a segurança de que vossa vontade é de amar em mim todos aqueles, que me ordenais amar! (MC. 12v)
Diversas situações são narradas em sua autobiografia, especialmente no Manuscrito C, a própria Teresinha narra e dá sentido às suas experiências fraternas: Há na comunidade uma irmã que tem o talento de me desagradar em todas as coisas, suas maneiras, suas palavras, seu caráter, parecem-me muito desagradáveis. Contudo, é uma santa religiosa, que deve ser muito agradável ao bom Deus. Assim, não querendo ceder à antipatia natural que sentia, disse para mim mesma que, a caridade não devia consistir nos sentimentos, mas nas obras, então me pus a fazer por essa irmã o que faria pela pessoa que mais amo. Cada vez que a encontrava, rezava por ela ao bom Deus, oferecendo-lhe todas as suas virtudes e seus méritos”. (MC. 13v-14r)
S. Teresinha tem certeza de que a caridade requer muitas renúncias das próprias vontades, dos próprios gostos, e diz: “Naturalmente, a gente fica feliz quando dá um presente a um amigo, gosta-se, sobretudo, de fazer surpresas, mas isso não é, de modo nenhum, caridade, pois os pecadores o fazem também”. (MC. 15v) Frente a qualquer situação de indelicadezas, a santa não desiste de seus propósitos fraternos, e declara: “Quando nos pedem gentilmente, não custa dar, mas se, por infelicidade, não usam palavras bastante delicadas, logo a gente se revolta, se não está firme na caridade”. (MC. 15v) Certa de que algo bem maior a consome, que é o amor de seu Deus, a prática da caridade foi dilatando sua alma dirá: Só a caridade pode dilatar meu coração. Ó Jesus, desde que essa doce chama o consome, corro com alegria no caminho de vosso mandamento novo… (MC. 16r) Ela compreende que não é simples, não é fácil viver o evangelho, mas compreende a profundidade da graça divina em sua alma… Nem sempre é possível, no Carmelo, praticar à letra as palavras do evangelho. Às vezes, se é obrigado, por causa dos trabalhos, a recusar um serviço, mas quando a caridade tem profundas raízes na alma, ela se mostra no exterior. (MC. 18r)
Pela prática da Caridade Fraterna, Santa Teresinha tornou-se conhecida em todo o mundo através de sua vocação religiosa carmelita, porque viveu com profunda a caridade, a humildade e abandono nas mãos de Deus, trilhando um “Pequeno Caminho” que a conduziu à santidade. Em seu Manuscrito A, ao escrever à Madre Inês (sua Irmã Paulina), a respeito da graça recebida no Natal de 1886, dirá Teresinha: Senti a caridade entrar em meu coração, a necessidade de me esquecer de mim mesma para dar prazer e, desde então, fui feliz! (MA. 45v)
S. João Paulo II a nomeou Doutora da Igreja a 19 de outubro de 1997 – “Doutora em Ciência do Amor”. A questão de um “Doutoramento” que já tinha sido previsto desde os anos 1932! Muitas foram as experiências de amor fraterno de Santa Teresinha. Experiências que após a sua morte alcançam o mundo. Por exemplo, a tradição política do seu “envolvimento” se deu muito pouco tempo, após a sua morte. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o seu testemunho de Fé e Confiança na Misericórdia divina chegou e cresceu nas trincheiras de ambos os lados da guerra. Teresa de Lisieux tornou-se um sinal de paz, conforto, incentivo e consolação para os que sofriam em meio aos flagelos da guerra, mas também, como alento para as famílias que tiveram seus entes com suas vidas ceifadas. Também na Segunda Guerra Mundial. Em 3 de maio de 1944, S. Teresinha tornou-se a santa padroeira secundária da França, enquanto se realizavam os desembarques Aliados. A 6 de junho de 1944, teve início a longa marcha para libertar a França e a Europa ao serviço da paz… Pois, de 1944 a 1947, suas relíquias, se tornaram símbolo da sua presença e resplendor, viajando por toda a França, a fim de restaurar a confiança e a coragem de todo um povo ferido pela guerra, no esforço de reconstrução e reconciliação entre os homens e os povos.
Esta “ciência do Amor” une todos os homens e mulheres deste mundo porque corresponde à busca de sentido no nosso mundo, à busca do eu mais profundo do homem, que é amar. Esta “ciência do Amor” revela-se ao serviço de um mundo solidário. Apesar de ter entrado tão jovem no Carmelo, aos 15 anos, Santa Teresinha tornou-se Mestra de alma. Sua relação de confiança e amor a Deus lhe permitiu contribuir com a vida comunitária no Carmelo de Lisieux. Seu silêncio e sua profunda vida de intimidade com Deus Misericordioso, lhe permitiu transmitir tanto às suas noviças, quanto às mais velhas do que ela, o crescimento, a liberdade interior e o “encontro” com o Amado.
S. Teresinha é a única mulher francesa a ser Doutora da Igreja entre os 36 Doutores reconhecidos em todo o mundo. Isto significa que a sua doutrina, o seu ensinamento, o caminho que traça são dirigidos a toda a humanidade. Este Amor é universal. Transcende a todos os tempos e todos os lugares e pode ser encontrado em todas as culturas. Ela chegou aos cinco continentes, e a todos os homens e mulheres, jovens e crianças, atualiza o mesmo convite para seguir este caminho de liberdade interior. O caminho da infância espiritual que ela descobriu, e cuja experiência é difundida no mundo inteiro, contribui para a paz de espírito interior e pessoal. Constrói a pessoa humana e desenvolve um espírito de paz.
Lembramos aqui do Prêmio da UNESCO, que lhe trouxe a consideração de Figura universal e embaixadora da França – UNESCO/2021. Nos últimos anos, o alcance universal da sua mensagem tem sido amplamente expresso em todo o mundo: Filipinas, Líbano, Iraque, Egito e Colômbia. S. Teresa de Lisieux foi também conselheira de figuras políticas, cujo testemunho permanece pessoal na maior parte do tempo. Ela foi uma jovem mulher, que em apenas 24 anos de existência, pode compreender o que era essencial à sua vida e à sua relação com o mundo, um percurso que se abre ao universal. Sua autobiografia, História de uma alma (ou Manuscritos autobiográficos, foi publicada um ano após a sua morte e que foi difundida de forma meteórica, com muitas publicações ainda hoje em circulação, em mais de 😯 idiomas e dialetos em todo o mundo, com milhões de exemplares publicados, tornando-o no 2º livro mais popular a seguir à Bíblia. Na obra ela partilha sua viagem pessoal, familiar e religiosa – com os leitores e simultaneamente mergulha-os no centro da vida de uma família burguesa e de um convento na França do século XIX. À sua maneira, retrata a sociedade do seu tempo, tal como outros escritores.
Nesta Festa em sua honra, dentro dos festejos de seu Jubileu (2023-2025), cumpre-nos mergulhar nas profundas experiências de Santa Teresinha, para nos “oferecer” de maneira solene como nossa irmã intercessora ao AMOR MISERICORDIOSO do Bom Deus, rezando um trecho deste profundo “Ato” por ela escrito: “Oh, meu Deus! Bem-aventurada Trindade, desejo amar-vos e fazer que vos amem, trabalhar pela glorificação da Santa Igreja, salvando as almas que estão na terra, e libertando as que sofrem no Purgatório. Desejo cumprir, perfeitamente, vossa vontade e alcançar o grau de glória que me preparastes em vosso reino. Numa palavra, desejo ser Santa, mas sinto minha impotência, e peço-vos, oh, meu Deus, sede vós mesmo a minha Santidade! Já que me amastes a ponto de me dardes vosso Filho único para ser meu Salvador e meu Esposo, são meus os infinitos tesouros de seus méritos. Com prazer, eu vo-los ofereço, suplicando-vos não olheis para mim, senão através da Face de Jesus e dentro de seu Coração abrasado de Amor”.
“Viver de amor é navegar sem cessar
Semeando a paz, a alegria em todos os corações
Piloto Amado, a caridade me incita
Pois te vejo nas almas, minhas irmãs
A caridade, eis minha única estrela
À sua luz navego sem rodeio
Minha divisa está escrita na minha vela:
‘“Viver de amor!’”
(PN.17,8)
SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE,
ROGAI POR NÓS!
Estela da Paz, OCDS.
(Comunidade São José, Petrópolis/RJ).
Coordenadora da Comissão de Formação.
Comissão de Espiritualidade e de História.
Província São José.
Referências:
FACE, Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa. Obras Completas. Paulus, 2012.
HISTÓRICO DO DOSSIÊ DA FRANÇA A UNESCO DE VALIDAÇÃO DA INCLUSÃO DE TERESA DE LISIEUX AOS SEUS ANIVERSÁRIOS (2023-2025).