RETIRO COM SÃO JOÃO DA CRUZ, O SANTO DO AMOR 8. Dia

RETIRO COM SÃO JOÃO DA CRUZ, O SANTO DO AMOR 8. Dia

MEDITANDO O POEMA CHAMA VIVA

Oração inicial

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!

 

Ave Maria…
Pai Nosso…

 

Neste oitavo dia do retiro com São João da Cruz, começaremos a rezar com a canção três da Chama Viva de Amor. Para isso, recitemos, pausadamente, a terceira estrofe.


Oh! Lâmpadas de fogo!
Em cujos resplendores
As profundas cavernas dos sentidos
Que estava escuro e cego
Com estranhos primores
Calor e luz, dão junto a seu querido!

8. DIA: (Ch 3, 1-17)

 

Agora iremos refletir nos dois primeiros versos da terceira canção da Chama Viva, onde o poeta nos diz:


Oh! Lâmpadas de fogo!
Em cujos resplendores!


Nesta canção, o trovador da beleza divina canta os atributos de Deus, ou seja, as lâmpadas de fogo que iluminam e aquecem a alma transformada nas chamas do Espírito Santo. No primeiro verso, percebemos a alegria da alma amante que já se acha resplandecente diante de Deus, em razão dos dons e graças que Dele recebe. Ela, agora, por uma fagulha das chamas dessas lâmpadas, pode dar ao Amado o amor que lhe é digno, retribuindo nesse ato a qualidade de amor de cada lâmpada e de todas elas juntas.


Isto é, a lâmpada da onipotência de Deus ilumina a alma que passa a conhecer o poder do seu Senhor e a amá-lo como Deus poderoso. Assim acontece com todas as lâmpadas ou atributos do Altíssimo, as quais são reveladas por Ele mesmo na intimidade do coração. Essa comunicação de Deus pelos seus atributos é explicada magistralmente por São João da Cruz quase como em forma de oração, como veremos: “Quando uma pessoa ama e faz bem a outra, age segundo a sua própria condição e natureza; deste modo, teu Esposo, estando em ti como quem é, assim te faz suas mercês. Sendo onipotente, ama-te e faz bem a ti com onipotência; sendo sábio, sentes que te faz bem e ama com sabedoria; por ser infinitamente bom, sentes que te ama com bondade; sendo santo, sentes que te ama e te agracia com santidade; sendo justo, sentes que te ama e faz mercês com justiça. Por ser misericordioso, piedoso e clemente, sentes sua misericórdia, piedade e clemência; sendo ele forte, sublime, e delicado em seu divino ser, sentes que te ama com força, elevação e delicadeza. Como é simples e puro, sentes que com pureza e simplicidade te ama; como é verdadeiro, sentes que te ama com verdade. Sendo liberal, conheces que te ama e beneficia com liberalidade, sem interesse algum, só para fazer-te bem; como é a virtude da suma humildade, com suma humildade e com suma estimação te ama, chegando a igualar-te com ele, e a revelar-se a ti nestas vias do conhecimento de seu divino ser; e o faz alegremente sua face cheia de graças, dizendo- te nesta união de seu amor, não sem grande júbilo teu: ‘eu sou teu e para ti, e gosto de ser tal qual sou para ser teu e dar-me a ti’.” (Ch 3, 6).

 

Em cujos resplendores


Os resplendores das lâmpadas são as comunicações amorosas de Deus no mais profundo da alma. Essas notícias divinas são iluminadas e iluminadoras, aquecidas e aquecedoras porque são o meio pelo qual a alma prova do próprio Deus, por isso diz “em cujos resplendores”, porque os experimenta desde dentro.


Estar dentro dos fulgores dos atributos divinos é, de alguma forma, participar deles, permitir-se ser transformado em Deus por participação. Esse processo transformador é mediado pelo Espírito Santo que é a própria chama viva, como fala São João da Cruz: “neles [nesses resplendores], parece que sempre está o Espírito Santo querendo acabar de dar à alma a vida eterna, e chegar enfim a transportá-la a sua perfeita glória, introduzindo-a verdadeiramente dentro de si mesmo”. E com a última frase dessa citação, o Santo nos define, com precisão, o que entende por glorificar, que é o mesmo que dizer “entrar no centro do espírito que é a vida perfeita em Cristo” (Ch 3, 10).

Meditação Orante

 

Esses versos nos ensinam que nossa vocação é participar da própria vida de Deus. É preciso que estejamos, constantemente, sob a grande luz do Astro Rei, como diz santa Elisabete da Trindade, e que nos permitamos ser iluminados pelo resplendor dos atributos divinos, ou seja, experimentar a misericórdia do Senhor e nos transformar em pessoas misericordiosas; provar da ternura de Deus e sermos ternos uns com os outros.


Se o Deus que adoramos com todas as suas qualidades não se encarnar em nós, na nossa vida do dia a dia, de forma bastante concreta, possivelmente não estamos vivendo com perfeição o evangelho. São João da Cruz nos diz que os resplendores daquilo que vemos em Deus precisa também se tornar resplendores das nossas obras. Isso sim é se tornar Deus por participação.


Que o Senhor nos ajude a nos dispormos a essa graça, que sejamos dóceis ao movimento iluminador e aquecedor do Espírito Santo para nos transformarmos em outro Cristo. Amém.

 

São João da Cruz, Rogai por nos!

Amém!

Referência Bibliográfica

 

1. JOÃO DA CRUZ. Chama Viva. In:__ Obras Completas. São Paulo: Editora Vozes, 2002, pgs 872 a 883.

 

Artur da Santa Mãe de Deus, ocds.

Com. Flor do Carmelo de Santa Teresinha, Fortaleza, CE.

 

Ana Catarina da Santíssima Trindade, ocds.

Com. Senhora do Carmo, Fortaleza, CE.

 

Comissão de Espiritualidade – Província São José

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