RETIRO COM SÃO JOÃO DA CRUZ, O SANTO DO AMOR 5. Dia

4 . DIA: (Ch 2, 1-15)

Nesse quinto dia de retiro iremos refletir nos dois primeiros versos da segunda canção da Chama Viva, onde o poeta nos diz:

“Oh! Cautério Suave!
Oh, regalada chaga!”

Vamos iniciar com a definição de cautério: é um método para reduzir cicatrizes ou diminuir lesões.

Assim, o nosso Santo do Amor, já tendo conhecimento dessa nomenclatura, utiliza dessa palavra para nos dá a entender como são as três Pessoas da Santíssima Trindade, Pai Filho e Espírito Santo, que realizam na alma a divina obra de união. De tal modo que o Cautério suave é o Espírito Santo que, como chama tudo queima, transforma como quer e quando quer. Como Moisés declara no Deuteronômio, “Nosso Senhor Deus é fogo consumidor.”( Dt 4,24). Em cada alma o faz segundo as disposições que nela encontra. É preciso saber que o cautério de fogo material produz sempre uma chaga no lugar onde toca e, se toca uma ferida que não foi produzida pelo fogo, logo a transformaria em queimadura. O equivalente acontece com este Cautério de Amor: quando toca a alma já ferida de outras chagas de misérias e pecados, ou mesmo estando sã! Logo, por ele, fica chagada de amor. Mas, cada vez que esse Cautério de Amor toca na chaga de amor, mais a aumenta; e assim, quanto mais vai curando, mais vai chagando de amor e mais sã fica.

O Cautério de Amor, nem por isso deixa de fazer seu ofício, permanecendo a tocar e a ferir de amor. Deixando a alma regalada, ou seja em agradável, suave e sublime estado de amor.

Nos diz o santo: “Oh! Maravilha digna de relatar! Sendo este fogo de Deus tão ardente e consumidor, pois consumiria mil mundos com maior facilidade do que um fogo da terra faria a um fiapo de linho, contudo não consome nem destrói a alma em que está assim ardendo! Menos ainda é capaz de causar peso algum; antes, na medida da força do amor, vai endeusando-a e deleitando-a enquanto a abrasa e nela arde suavemente!” Assim, a alma ditosa que tem a grande ventura de chegar a ser tocada por esse cautério, tudo saboreia, tudo experimenta, e faz tudo o que quer, com grande prosperidade, sem que alguém possa prevalecer diante dela, nem coisa alguma venha atingi-la, porque a essa alma se aplica as palavras de São Paulo que diz: O espiritual julga todas as coisas, e por ninguém é julgado. ( 1Cor 2,15)

Oh, regalada chaga!

Depois de ter a alma conversado com o cautério suave, fala agora com a chaga que ele produziu. E essa chaga será cheia de amor, assim como o cautério .Nos disse o Santo do Amor: Oh, ditosa chaga, feita por quem não sabe senão curar! Oh! Venturosa e felicíssima chaga, que foste feita unicamente para causar deleite, e cujo sofrimento tem a qualidade de regalo e delícia da alma chagada.

Imensa és, Oh! deleitosa chaga porque imenso é aquele que te fez.

Sim, imenso é aquele que o fez! E, aquele que fez essa chaga, a tratará com todo regalo, com todo zelo. Se a chaga causa sofrimento, é um sofrimento místico que está envolto de alegria e felicidade, porque o regalo, ou melhor, tratamento amoroso que agrada a Deus trará imensa alegria e, nesta situação, a alma vive mergulhada numa paz interior profunda e inexplicável. A alegria é tão grande que seu reflexo é percebido em todo o corpo.

A experiência mística de Santa Teresa conhecida como transverberação do coração, não é outra coisa que esta chaga do Espírito Santo.