RETIRO COM SÃO JOÃO DA CRUZ, O SANTO DO AMOR 4. Dia
MEDITANDO O POEMA CHAMA VIVA
Oração inicial
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!
Ave Maria…
Pai Nosso…
Convido você a silenciar seu interior, sentir a presença do Espírito Santo e orar comigo o Poema de São João da Cruz:
Oh! Chama de amor viva
que ternamente feres
De minha alma no mais profundo centro!
Pois não és mais esquiva,
Acaba já, se queres,
Ah! Rompe a tela deste doce encontro.
4 . DIA: (Ch 1, 27-36)
Nesse quarto dia de retiro iremos refletir os dois últimos versos da primeira canção da Chama Viva, onde o poeta nos diz:
“Acaba já, se queres,
Ah! Rompe a tela deste doce encontro.”
“Acaba já, se queres”, nessa frase, o nosso Santo do Amor, fala que a alma anseia em consumar perfeitamente o matrimonio espiritual por meio da “visão beatífica”. A alma pede ao Amado para se consumir… a alma está inquieta e deseja muito encontrar o Amado em sua glória. Assim, São João da Cruz menciona que “a perfeita posse da adoção dos filhos de Deus, a qual uma vez alcançada, realizará a consumação de sua glória e só então se aquietará o seu desejo”. O Santo diz que esse desejo não se pode fartar ou satisfazer nesta vida, mesmo na maior união com Deus, senão quando aparecer a glória divina. Esse desejo da alma é intenso, mas suave e deleitoso, em que pede a confirmação do espírito com o sentido, e assim clama: Acaba já, se queres.
Aqui a alma deseja intensamente a consumação do matrimônio espiritual, mas vive em cumprimento à vontade divina, ao dizer: Se queres…se queres Senhor! São João da Cruz explica, ainda, que “com efeito, acha-se a vontade, em seu desejo, de tal modo unificada a Deus, que põe toda a sua glória no cumprimento da vontade Divina”. O Santo nos ensina que “a alma ali percebe, como, naquela força deliciosa em que o Esposo se comunica, o Espírito Santo a está provocando e convidando com aquela imensa glória que lhe põe diante dos olhos e como por meios admiráveis, com afetos suavíssimos…” Ele dizendo ao seu espírito as palavras que diz à Esposa dos Cantares: “Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa. (Ct 2:10-14)”
São João da Cruz diz que todas essas coisas sente a alma, entendendo-se claramente em seu sentido sublime de glória, tal como o Espírito Santo lhe está mostrando naquele terno e suave chamejar, desejoso de introduzi-la nessa mesma glória.
E continua o verso…
Ah! Rompe a tela deste doce encontro.”
São João da Cruz nos diz que esta tela é o obstáculo a tão importante obra: junção entre Deus e a alma. O santo do Amor nos fala que existem três telas que podem impedir essa junção: a primeira é temporal, e nela estão compreendidas todas as criaturas; a segunda é natural, compreendendo todas as operações e inclinações puramente naturais; e a terceira é sensitiva e consiste unicamente na união da alma com o corpo, é sensitiva e animal a que se refere São Paulo: “Sabemos que, se esta nossa casa terrestre for destruída, temos uma habitação de Deus nos céus” (2Cor 5,1). São João da cruz nos ensina que as duas primeiras telas devem ser rompidas para a alma chegar a esta posse de Deus na união. Todas as coisas do mundo devem ser negadas e renunciadas e todos os apetites e afetos naturais devem ser mortificados.
Tudo isso se foi rompendo na alma, pela ação dos encontros esquivos da chama de amor, quando esquivamente a feria. Então, não lhe resta mais nada, senão romper a terceira tela da vida sensitiva. Aqui a chama viva não ataca de modo rigoroso como no rompimento das outras duas telas, mas investe saborosa e docemente ao invoca-la: “doce encontro”.
O Santo do Amor nos diz que a “morte dessas almas é suavíssima e dulcíssima, muito mais do que foi a vida espiritual inteira; morrem com mais subidos ímpetos e deliciosos encontros do amor, assemelhando-se ao cisne que canta mais suavemente quando vai morrer”. Daí vem palavra de Davi: Preciosa é diante do Senhor a morte de seus santos (Sl. 115, 15). Aqui Deus permite à alma ver sua própria formosura, confiando-lhe as virtudes e dons que lhe concedeu, pois tudo se lhe converte em amor e louvores, sem sombra de presunção ou vaidade, já não havendo fermento de imperfeição. Como a alma percebe não lhe faltar mais que rasgar esta frágil tela da vida natural em que vê enredada, arde em desejo de ser desatada e ver-se com Cristo!
Tendo lástima de que uma vida tão baixa e fraca como a vida terrena seja obstáculo a outra vida tão alta e forte. Por isto, pede que se rompa, dizendo: Ah! Rompe a tela deste doce encontro…
São João da Cruz explica que a expressão “doce encontro” não significa que os outros encontros e toques de Deus anteriores deixam de ser doce, mas esse, por sua eminência, ultrapassa a todos, pois, Deus nele age com o fim de desatar a alma do corpo e glorifica-la depressa; e daí lhe nascem asas para dizer: “Rompe a tela deste doce encontro”.
Meditação Orante
Convido você agora a meditar as palavras de São João da Cruz, pedindo que o Espírito Santo abrande o seu coração e conceda à sua alma o entendimento desse pequeno verso da canção I de chama viva de amor: “Acaba já, se queres, Ah! Rompe a tela deste doce encontro.”
Peça ao Senhor para romper as telas que impedem a junção da sua alma com Deus, sejam elas temporais, naturais ou sensitiva. Apresente a Jesus essas telas que precisam ser rompidas e peça a força do Espírito Santo. Sinta o toque de Deus em sua alma e a chama viva que arde de amor, purificando o seu ser. Escute essas palavras de São João da Cruz:
“Oh! Chama do Espírito Santo que tão íntima e ternamente transpassas a substancia de minha alma, cauterizando-a com o teu glorioso ardor, pois já estás tão amiga que mostras a vontade de te dares a mim na vida eterna!… Suplico-te, cheia de gozo e sabor no Espírito Santo: rompe a tela finíssima desta vida, e não deixes chegar até ser cortada de modo natural pela idade e tempo, a fim de que te possa eu amar desde logo com a plenitude e fartura que deseja minha alma, sem termo nem fim!”
Mostrai-me Senhor, as telas que me impedem de chegar e avançar nas moradas rumo ao matrimônio espiritual. Clamo para que a chama viva do Espírito Santo possa purificar meus sentidos para, assim, adentrar, pouco a pouco, no mais profundo do meu ser… lá no centro, onde a sós contigo, já em estado de união, eu possa, um dia, dizer-te: rompe a tela deste doce encontro!
São João da Cruz, Rogai por nos!
Amém!
Referência Bibliográfica
1. JOÃO DA CRUZ. Chama Viva. In:__ Obras Completas. São Paulo: Editora Vozes, 2002, pgs 843 a 851
Ana Catarina da Santíssima Trindade, ocds.
Com. Senhora do Carmo, Fortaleza, CE.
Graciele da Trindade Santa, ocds. Com. Santa Teresinha do Menino Jesus e Santo Eliseu, Brasília, DF.
Comissão de Espiritualidade – Província São José.
Raimundo Soares
Estou amando esse retiro com São João da Cruz. Parabéns à equipe organizadora!