RETIRO COM SÃO JOÃO DA CRUZ, O SANTO DO AMOR 3. Dia

3 . DIA – (Ch 1, 9-26)

Nesse terceiro dia de retiro iremos refletir no terceiro e no quarto verso da primeira canção da Chama Viva, onde o poeta nos diz:

“De minha alma no mais profundo centro!
Pois não és mais esquiva”

“O centro da alma é Deus” – afirma o Santo Padre- e a medida em que todo o nosso ser se volta a Ele, pela força do Amor, vamos dispondo-nos à ação curadora e restauradora da graça. “É mediante o amor que a alma se une com Deus; e assim, quanto mais graus de amor tiver, tanto mais profundamente penetra em Deus e nele se concentra”. Que nada possa nos roubar da busca, da entrega a esse Amor…

Amor que quer nos elevar, nos potencializar…

São João da Cruz explica que quando a “alma diz que essa chama de amor a fere em seu mais profundo centro, quer manifestar como o Espírito Santo a fere e investe no âmago de sua substância, energia e força…

Isto é possível, é real, pois- como esclarece nosso Santo: “ o Pai das luzes, cuja mão não é abreviada, e com abundância derrama suas graças sem fazer acepção de pessoas, por toda parte onde acha lugar; difunde-se como o raio de sol”…

Jesus mesmo o diz: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (cf. Jo 8, 12).
“É o cumprimento da promessa feita pelo Filho de Deus quando disse: se alguém o amasse, a este viria a Santíssima Trindade para estabelecer nele a sua morada (cf. Jo 14, 23)”, inebriando-nos no Espírito Santo, no abraço e abismo de sua doçura…

O Poema prossegue: “Pois não és mais esquiva” O que significa “dizer: pois agora não me afliges mais… De fato, convém saber que esta chama de Deus, quando a alma se achava em estado de purificação espiritual…não lhe era “sentida” como tão amiga e suave como agora neste estado de união”…

Pois que o “Espírito Santo, está ferindo sempre a alma, a fim de gastar e consumir as imperfeições dos maus hábitos que nela há”. O mesmo fogo que purifica, é o que na união a glorificará…

Lembremo-nos da comparação, tão preciosa de São João da Cruz, do nosso processo de santificação com o da madeira exposta a ação do fogo… Primeiramente o fogo investe sobre ela, secando-a e consumindo os elementos que lhe são contrários… A fim de penetrá-la mais profundamente e transformá-la em fogo…

Mas queridos irmãos, nesse processo de purificação, muitas vezes, esta chama de amor, presente e atuante, ainda nos parece muito esquiva. “De fato, quando a alma se acha no estado de purificação a chama não brilha, antes causa obscuridade; ou se alguma luz proporciona, é somente para a alma ver e sentir suas misérias e defeitos”… E assim, o “conhecimento próprio lhe é infundido”…

Lucra humildade espiritual, o que favorecerá o total abandono e entrega a Deus…

“Deste modo, vão saindo à luz todas as enfermidades da alma… mas, para que sejam curadas”…

“As fraquezas e misérias que a alma tinha antes em si, inveteradas e ocultas- as quais até então não percebia nem sentia- agora, com a luz e calor do fogo divino, as vê e sente”…

E para finalizar de forma sublime, S João da Cruz conclui: “Pois não és mais esquiva… já não somente não me és obscura como outrora, mas ao contrário, és a divina luz de meu entendimento com o qual te posso olhar”…