Podemos ou não nos divertir no Carnaval?

Podemos ou não nos divertir no Carnaval?


Qual é o gordinho que nunca passou o final de semana se fartando com
comidas gostosas como despedida para a dieta que iria começar na segunda-feira?
Da mesma forma o Carnaval, que significa “festa da carne” tem sua
origem como festa religiosa onde os cristãos se fartavam de carnes, assados e
frituras, entre o domingo e a “terça-feira gorda” diante da perspectiva de
passar quarenta dias em abstinência de carne no período da Quaresma, que é um
tempo penitencial em preparação a Páscoa do Senhor.

Atualmente, a Igreja só determina a abstinência de carne e o jejum
na Quarta-Feira de Cinzas e na
Sexta-Feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme Can. 1251
do Código de Direito Canônico. Porém, a tradição do Carnaval continua até os dias
de hoje.

Muita gente acredita que a Igreja é contra o Carnaval e o condena,
mas isso não é a verdade. A Igreja Católica não é contra o Carnaval, mas contra
os excessos cometidos durante o Carnaval. Dom Francisco de Assis Dantas de
Lucena – Bispo de Guarabira (PB) aborda o tema[i]: “Há, porém, o Carnaval verdadeiro, marcado por uma alegria verdadeira.
Nesse Carnaval é dispensado o prazer irresponsável, a bebida, as drogas, para
se celebrar a vida. O católico pode comemorar o carnaval, desde que respeite os
princípios cristãos, sem se entregar aos excessos permissivos tão difundidos em
nossos dias. Quem não participa das festividades públicas, procure se alegrar
junto a sua família e amigos. Isso precisa ser resgatado. As Dioceses, as
Paróquias e as Comunidades deste país promovem um carnaval diferente, repleto
de alegria, a qual Deus quer para todos os seus filhos. Em todo caso, é
carnaval. Quem vai fazer festa que faça com respeito ao próximo e aos valores.
Muitos decidem passar o Carnaval na tranquilidade do campo, da praia. Outros em
retiro espiritual, numa experiência de Deus, profunda e transformadora. Outros
ainda vão ficar em casa e assistir ao espetáculo de criatividade, de luz e de
cores, promovido pelas escolas de samba.”



Dessa forma, vemos que há formas nobres, simples e sadias de
lazer. Elas irradiam a alegria autêntica que revigora o corpo e o espírito.
A alegria é uma necessidade básica do ser humano. Povos, raças e culturas das
mais remotas origens encontraram formas para exteriorizar esse desejo. Cada
país, de acordo com sua cultura e costume, possui suas datas festivas. No
Brasil, o Carnaval é uma delas.

Fé e consciência limpa são inseparáveis na vida do cristão,
inclusive durante essas festividades.
“Tudo o que não procede da fé é pecado”, ensina São Paulo (cf. Rm 14,23). A fé
é a luz que ilumina a consciência e a confirma nas convicções morais. Quem se
guia pela consciência do que é bom, digno e justo, possui um “faro moral”. Sabe
posicionar-se, escolher e decidir onde, como e com quem se divertir ou não. E
equivocada a ideia de achar que a religião é contrária à alegria, levando os
fiéis à tristeza. O Evangelho é uma mensagem alegre e feliz! Dele nos vêm as
festas religiosas, as celebrações e solenidades festivas, as comemorações de
datas e fatos históricos. A alegria cristã é autêntica, simples e espontânea!



O cristão deve sempre ser alegre, conforme nos ensina Dom Eurico
dos Santos Veloso, Arcebispo Emérito de Juiz de Forma-MG[ii]:” O cristão que vive na esperança não pode ser triste. Já assim falava
São Francisco de Sales: 
“Um santo triste é um triste santo” condenando aqueles
que não se rejubilavam com a graça. São Paulo, igualmente, concitava os
evangelizados à alegria:

“Alegrai-vos sempre no Senhor, de novo vos digo alegrai-vos”
(Cf. Fl.
4,4). Os dias de Carnaval deveriam nos conduzir à alegria do corpo e do
espírito, pois se fomos criados do limo da terra,  temos também em nós
insuflado o Espírito de Deus e recebemos este mesmo Espírito pelo qual podemos
chamar a Deus de Pai. Quando o povo hebreu foi reconduzido do cativeiro
de Babilônia, o sacerdote Esdras depois de lhe ter exposto a lei, convida-o à festa:
“Hoje é dia consagrado a Javé vosso Deus…
Não vos entristeçais nem choreis… Ide e comei carnes gordas, tomai bebidas
doces e mandai porções a quem não a preparou, porque hoje é um dia consagrado a
nosso Senhor”.
(Cf.
Neem.8,10). Esse é o espírito que nos deveria animar nos dias de
Carnaval: a alegria que se traduz nas festas e danças a que todos são
convidados, ricos e pobres, porque nossa salvação está próxima, como confirma
São Paulo na complementação do texto acima
.”




Portanto, como carmelitas seculares, responsáveis e conscientes do nosso papel como cristãos, podemos nos divertir ou nos recolher nesses dias de Carnaval, conforme discernirmos. O que não podemos é cair no farisaísmo, como nos admoestou Dom Hélder
Câmera: “Carnaval é a alegria
popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha
gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante
de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta
de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o
carnaval. Estive recordando sambas e frevos, do disco d
o Baile da Saudade: ô
jardineira por que estás tão triste? Mas o que foi que aconteceu… Tu és muito
mais bonita que a camélia que morreu… Brinque meu povo querido! Minha
gente queridíssima. É verdade que quarta-feira a luta recomeça. Mas, ao menos,
se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!”
(Dom Helder Câmara, 01
de fevereiro de 1975, durante sua crônica radiofônica “Um olhar sobre a
cidade” da Rádio Olinda AM).

Desejo a todos, portanto, um
excelente Carnaval!
Luciano Dídimo

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