
Pentecostes com Edith Stein

‘Se encontram em Westerbork; ali estão juntas as religiosas no dormitório. Ela pede que lhe enviem a documentação pessoal. Ela espera que tenham se colocado em contato com o cônsul suíço. Estão sem missa e comunhão.’
Westerbork, 4/5 de agosto de 1942
Queridas madre e irmãs,
Esta noite saímos da estação de A[mersfoort] e chegamos aqui cedo. Aqui temos sido recebidas muito amigavelmente. Se quer fazer tudo para livrar-nos ou, ao menos, para que possamos ficar aqui. Todos os católicos estão juntos, e, aqui, no dormitório todas as religiosas (2 trapenses, 1 dominicana, Ruth, Alice, Dr. Meirowsky, entre outros). Também estão conosco dois padres trapenses de T[ilburg].
… até agora temos vivido por completo da generosidade dos outros. Esperamos que tenha encontrado o caminho do cônsul e que os tenha posto em contato com ele. Temos encarregado a muitos que o diga como estamos. Também as duas queridas filhas de Koningsbosch estão conosco. Estamos completamente tranquilas e felizes. Até lá estaremos sem missa e sem comunhão; talvez mais tarde seja possível. Agora nos é dado experimentar um pouco como se pode viver sustentadas interiormente. Carinhosamente saúdo a todas. Escreveremos prontamente outra vez.
No coração de Jesus, Vossa.
(se escrever, não mencioneis, por favor, que haveis recebido esta.)

“uma pessoa da Cruz Roja quer falar com o cônsul”
Westerbork, 5 de outubro de 1942
Meus queridos,
Uma irmã da Cruz Roja de A[msterdam] quer falar hoje com o cônsul. Desde ontem aqui está proibida todas as solicitudes para os judeus católicos. Todavia se pode tentar algo por fora, mas com pouquíssimas esperanças. Existe o propósito de deixar sair um comboio na sexta-feira. Podeis escrever a Venlo, rua Kaldenkerke 185, a Mere Claire a causa de nosso manuscrito, caso ainda não o tenha enviado.
Confiamos em vossa oração. Aqui têm muitas pessoas que necessitam um pouco de conforto, e esperam recebe-lo das irmãs.
No coração de Jesus, vossa agradecida.

PENTECOSTES COM EDITH STEIN
I
Quem és tu, Doce luz que me preenche e ilumina a obscuridade do meu coração? Conduzes-me como a mão de uma mãe E se me soltasses, não saberia nem dar mais um passo. És o espaço que envolve todo meu ser e o encerra em si. Se Fosse abandonado por ti cairia no abismo do nada, de onde tu o elevas ao Ser. Tu, mais próximo de mim que eu mesmo e mais íntimo que minha intimidade, E, sem dúvida, permaneces inalcançável e incompreensível, E que faz brotar todo nome:
Espírito Santo — Amor eterno!
II
Não és Tu O doce maná que do coração do Filho flui para o meu, alimento dos anjos e dos bem aventurados? Aquele que da morte à vida se elevou, Também a mim despertou a uma nova vida Do sono da morte. E nova vida me doa Dia após dia. E um dia me cumulará de plenitude. Vida de minha Vida. Sim, Tu mesmo:
Espírito Santo, – Vida Eterna!
III
Tu és o raio que cai do Trono do Juiz eterno e irrompe na noite da alma, que nunca se conheceu a si mesma? Misericordioso e impassível penetras nas profundezas escondidas. Se ela se assusta ao ver-se a si mesma, Concedes lugar ao santo temor, princípio de toda sabedoria que vem do alto, e no alto com firmeza nos unes à tua obra, que nos faz novos:
Espírito Santo — Raio penetrante!
IV
Tu és a plenitude do Espírito e da força com a qual o Cordeiro rompe o selo do segredo eterno de Deus? Impulsionados por ti os mensageiros do Juiz cavalgam pelo mundo e com espada afiada separam o reino da luz do reino da noite. Então surgirá um novo céu E uma nova terra, e tudo retorna ao seu justo lugar graças a teu alento:
Espírito Santo — Força triunfante!
V
Tu és o mestre construtor da catedral eterna que se eleva da terra aos céus?
Por ti vivificadas as colunas se elevam Para o alto e permanecem imóveis e firmes. Marcadas com o nome eterno de Deus se elevam para a luz sustentando a cúpula, que cobre, qual coroa, a santa catedral, tua obra transformadora do mundo:
Espírito Santo — Mão criadora!
VI
Tu és quem criou o claro espelho, Próximo ao trono do Altíssimo, como um mar de cristal aonde a divindade se contempla amando? Tu te inclinas sobre a obra mais bela da criação, e resplandecente te ilumina com teu mesmo esplendor. E a pura beleza de todos os seres, Unida à amorosa figura da Virgem, tua esposa sem mancha:
Espírito Santo — Criador do Universo!
VII
Tu és o doce canto do amor e do santo recato, que eternamente ressoa diante do trono da Trindade, e desposa consigo os sons puros de todos os seres? A harmonia que une os membros com a Cabeça, onde cada um encontra feliz
o sentido secreto de seu ser, e jubilante irradia, livremente desprendido em teu fluir:
Espírito Santo — Júbilo eterno!
(Edith Stein, 1942; trad. Fr. Alzinir das Obras completas. Ed. Monte Carmelo, Burgos)