Novo bispo de Bauru, dom Rubens Sevilha é empossado em cerimônia
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Celebração de posse ocorreu nesta tarde na Catedral do Divino Espírito Santo
Tisa Moraes e Ana Beatriz Garcia
Samantha Ciuffa |
Missa de posse do novo bispo de Bauru, dom Rubens Sevilhha, começou às 15h na Catedral do Divino Espírito Santo, que fica na praça Rui Barbosa, região central da cidade |
Samantha Ciuffa |
Sevilha, Caetano Ferrari e demais religiosos seguiram em procissão para a Catedral do Divino Espírito Santo |
O novo bispo de Bauru, dom Rubens Sevilha, foi empossado em celebração na Catedral do Divino Espírito Santo, que reuniu religiosos e autoridades civis, entre elas o prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSD). Após a missa, visivelmente emocionado, Sevilha percorreu a Praça Rui Barbosa, onde fica a Catedral, para saudar – e inclusive fazer selfies com – os milhares de fiéis que acompanharam toda a cerimônia na tarde deste domingo (20).
Mais cedo, ele recebeu a imprensa no Colégio São José, onde revelou estar “feliz, esperançoso e com a alma alegre pela oportunidade de fazer o bem na diocese”. Depois, o religioso seguiu em procissão com padres e outros bispos para a Catedral, onde foi recebido pelo prefeito. No local, antes de o Hino Nacional ser executado, Gazzetta fez um pequeno discurso, dando as boas-vindas ao novo líder da Igreja Católica de Bauru.
A missa foi presidida pelo próprio dom Sevilha e concelebrada pelo arcebispo metropolitano de Botucatu, dom Maurício Grotto, e pelo agora bispo emérito de Bauru dom Caetano Ferrari, que entregou, em meados do ano passado, sua carta renúncia ao papa Francisco por ter completado 75 anos, idade máxima para exercer o bispado.
Coube a dom Maurício entregar a dom Sevilha o báculo (cajado), em um gesto simbólico de transmissão do comando da Diocese de Bauru, que abrange 14 municípios. A solenidade toda, que contou com uma série de ritos, durou quase três horas e reuniu mais de 2 mil pessoas.
Houve, inclusive, uma área coberta por tendas em frente à Catedral, com cadeiras e transmissão em TVs de LED. Como ontem foi Dia de Pentecostes, data do Padroeiro da Diocese de Bauru, o Divino Espírito Santo, um dos últimos atos da missa solene foi apagar o Círio Pascal, já que nesta data se encerra o Tempo da Páscoa.
Em seu primeiro discurso à frente da diocese, dom Sevilha salientou que seu ministério seguirá o programa de governo do papa Francisco, caracterizado pelo entusiasmo e pela renovação, com uma Igreja “aberta, misericordiosa, simples, alegre e em saída (missionária)”. “O papa Francisco nos exorta para combatermos a cultura da indiferença e do egoísmo com a cultura evangélica da proximidade, da misericórdia, do desejo sincero e concreto de nos ajudarmos reciprocamente, especialmente os mais frágeis”, disse.
DESAFIO
Como bispo, ele destacou que um de seus principais desafios – enfrentado pela Igreja Católica como um todo – será trazer, principalmente as novas gerações, para perto da instituição, em um mundo em que a competitividade e a individualidade são cada vez mais estimuladas. “A cultura moderna quer afastar Deus das pessoas. E, quando o ser humano perde a fé, ele vai perdendo sua humanidade e o egoísmo, a corrupção, a ganância, a pobreza espiritual, a depressão, a droga tomam conta para preencher este vazio. Já quando há humanidade, constrói-se a fraternidade, a justiça, o respeito pelo outro, a diminuição da violência”, enumerou.
Nascido em Tarabai, região de Presidente Prudente, e com formação em filosofia, teologia e arqueologia sacra, o novo líder religioso pertence à antiga Ordem dos Carmelitas Descalços. Vindo da Arquidiocese de Vitória, no Espírito Santo, ele se torna, aos 58 anos, o sexto bispo à frente da Diocese de Bauru desde sua criação, em 1964.
Como bispo emérito, dom Caetano Ferrari continuará residindo em Bauru, convivendo com a comunidade e com planos de continuar seus estudos em direito canônico. “Com muita alegria, às sandálias franciscanas, sucedem o escapulário carmelitano. Vou continuar servindo a Igreja, mas de outra maneira e, naquilo que eu puder e for necessário, estarei colaborando”, frisou ele.
Samantha Ciuffa |
Ao final da missa de posse, dom Rubens Sevilha caminhou pela praça onde fica a Catedral para saudar os fiéis |
Samantha Ciuffa |
Dom Rubens Sevilha beija a cruz na entrada da Catedral do Divino Espírito Santo |
Samantha Ciuffa |
Prefeito Clodoaldo Gazzetta e outras autoridades civis acompanham a missa de posse do novo bispo de Bauru |
Samantha Ciuffa |
A missa foi presidida pelo próprio dom Rubens Sevilha; na foto, momento da consagração das hóstias na Catedral do Divino Espírito Santo |
O novo bispo, foi, inclusive o protagonista da Entrevista da Semana deste domingo. Confira, abaixo, como foi o bate-papo.
Jornal da Cidade – Qual é a expectativa para o trabalho na Diocese de Bauru?
Dom Rubens Sevilha – Eu venho para servir. A ideia é de que Deus nos manda, nos envia. Há uma série de consultas sigilosas, nem nós ficamos sabendo, até que se chega na mesa do papa e ele determina para onde vamos. É muito bonito isso. Onde o Senhor me mandar, eu vou, para fazer o serviço de pastor, como um maestro dessa orquestra composta pelos padres e os leigos.
JC – Qual sua relação com Bauru? Já conhecia a cidade?
Dom Sevilha – Não, apenas de nome. Assim que soube, comecei a pesquisar e já fui me envolvendo. Tenho a consciência de que estou entrando na história dessa igreja. Então, a primeira parte foi conhecer e me inteirar sobre ela. Na véspera do feriado de Tiradentes, estava com dois irmãos e aproveitamos para visitar a cidade, apenas a passeio. Conheci a Catedral, a praça, o Calçadão, participei de encontro com a juventude, meu primeiro momento próximo à comunidade. E, desde segunda-feira, quando cheguei, venho me inteirando sobre a Diocese e a cidade como um todo.
JC – Como é voltar ao Interior de São Paulo?
Dom Sevilha – Nasci no Interior e passei boa parte da minha vida em Capitais. Esse retorno às origens fez com que eu lembrasse de quando meu avô chegou da Espanha e, após conhecer minha avô em Tupã, fundou Tarabai – que se chamava Nova América. Anos se passaram e Ademar de Barros pediu que se fizesse uma homenagem a um amigo dele, o deputado Felício Tarabai. Ninguém lá sabe quem é esse homem. Ali nasci. Eu sou o segundo filho de cinco homens. Meu pai, João Sevilha, faleceu há 12 anos. Minha mãe, Judite, é pernambucana, tem 84 anos e estará em minha posse.
JC – Quando o senhor percebeu sua verdadeira vocação para o sacerdócio?
Dom Sevilha – Muito cedo. Desde os 7 anos, eu dizia que queria ser padre, coroinha. Aos 12, fui para o Seminário da Ordem dos Carmelitas Descalços, em São Paulo, onde estudei até o noviciado. Um ano depois, minha família também se mudou para lá. A escolha foi de Deus e a opção foi minha, aos 18 anos, no noviciado. Estudei no antigo curso de filosofia do Colégio São Luis e teologia fiz em Roma, no Colégio dos Carmelitas. Em 1984, eu e mais sete rapazes do mundo inteiro fomos ordenados diáconos pelo bispo de Nazaré, no Monte Carmelo, em Israel, onde a Ordem nasceu. Depois, voltei a São Roque, onde fui ordenado frei carmelita pelo cardeal dom frei Paulo Evaristo Arns.
JC – Como foi sua trajetória?
Dom Sevilha – Comecei em Minas Gerais, no chamado Postulantado, que é a primeira experiência dos meninos que entram na Ordem. Fiquei quatro anos lá. Depois, voltei a São Roque onde trabalhei com os noviços por três ou quatro anos. Aí fui feito provincial, que é uma espécie de bispo dentro de uma ordem religiosa, então eu era coordenador dos Carmelitas do Sudeste. Em seguida, pela primeira vez, fui pároco, na Paróquia de Santa Terezinha do Menino Jesus, em São Paulo e também no Rio de Janeiro. Depois, fui ordenado bispo e assumi a Diocese em Vitória, Espírito Santo. Foi aí que me enturmei nesse mundo diocesano, até então eu era muito carmelita, muito interno.
JC – Como foi sua passagem por outros Estados?
Dom Sevilha – Tanto no Rio de Janeiro quanto em Vitória foram períodos difíceis em relação ao cenário de violência. No Rio, por exemplo, ouvíamos tiros. Naquele tempo, ainda não haviam sido realizadas as pacificações. Era algo comum os fiéis não quererem marcar reuniões à noite, por medo.
JC – E a experiência em Roma, na Itália?
Dom Sevilha – É da Ordem mandar para Roma, para diversificar a formação teológica. Foi uma experiência incrível, uma graça de Deus realmente. Tanto pela experiência internacional, que é muito enriquecedora, também pela cultural, onde pude aprender e conhecer muitas coisas e eclesial, pela proximidade com o Vaticano. Pude encontrar, em mais de uma oportunidade, com o papa João Paulo II, hoje, São João Paulo II, enquanto estudava Teologia. Foi um período enriquecedor.
JC – No ano do laicato, como o senhor avalia a participação dos fiéis, de uma forma geral?
Dom Sevilha – O papa Francisco tem sido uma maravilha para a igreja. Uma das coisas que ele coloca como um defeito é um certo ”clericalismo’, ou seja, uma igreja ainda muito centrada no padre. Ele vê isso como um defeito e é. Porque, de fato, a igreja é todo o batizado. Todos são responsáveis por ela. Infelizmente, essa questão de hierarquia é vista de uma forma muito mundana. O que até fere o Evangelho em que Jesus diz: “Quem quer ser o maior, seja o menor”. Não é questão de quem manda, são todos servindo, é só uma questão de papéis.