Nota de Falecimento – José Luiz Rizzato

Nota de Falecimento – José Luiz Rizzato

A Comunidade Santa Teresinha do Menino Jesus, Doutora (SP) e a Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares (OCDS) da Província São José comunica, com muito pesar, o falecimento de nosso irmão José Luiz Rizzato. 

Neste momento de dor, e também de esperança, unimo-nos aos familiares, parentes, amigos e irmãos de comunidade por meio de nossas orações. 

“Dai-lhe Senhor o descanso eterno. E que a luz perpétua o ilumine. Descanse em paz. Amém”.

José Luiz e familiares


Compartilhamos com todos o testemunho de José Luiz Rizzato que integrou a Revista Virtual da OCDS Nº 151 no no de 2017. 

Sou carmelita desde quando o Senhor me buscou na sarjeta da
vida e me permiu me apaixonar Dele pelo Carmelo. Parcipo da Ordem desde
fevereiro de 2012, fiz minhas promessas temporárias em 23/08/2014. Porém trinta
anos antes de conhecer o Carmelo e a OCDS, vivi, por quatro anos, o espírito
das promessas numa comunidade de leigos, entre 1979 e 1982. Foi nesse período
que conheci, através de D. Gabriel Paulino Bueno Couto, nosso primeiro bispo, a
teologia mística, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz. Foram anos de busca
de Deus através da oração diária e do trabalho apostólico com os jovens no MOJUC
– Movimentos de jovens da diocese.
Infelizmente, problemas sérios aconteceram e o futuro Instituto
Secular se desintegrou e, com  ele, todo
meu fervor e espírito missionário. A maioria dos irmãos se acomodou nas
pastorais e movimentos da diocese, alguns se decidiram pelo matrimônio, mas não
deixaram a Igreja, digamos que o Senhor, na sua infinita misericórdia, abriu
uma porta para cada um dos que sinceramente desejavam continuar suas caminhadas,
de modo que nenhum se perdeu.
Na contramão da maioria, eu não me encaixei em nenhuma
pastoral, e na agitação desse desmonte das muitas vidas, fiquei a deriva por um
bom tempo, numa escuridão muito grande, magoado, sofrido e sem o conforto da
família espiritual. Mergulhei no trabalho e na busca da sobrevivência da minha
família humana, decidimos por vivermos, eu e minha irmã de comunidade, um
relacionamento a dois sem o matrimônio, relacionamento esse que nos deu duas filhas
entre 1984 e 1986.
Durante esses anos, o Senhor esteve sempre nos protegendo de
armadilhas maiores, houve muitos momentos em que percebi sua presença nos fatos
e dificuldades, muitos bons amigos que nos ajudaram, mas não havia o
reconhecimento de minha humilhação, de minhas necessidades e da infinita misericórdia
de Deus. Nós nos casamos no Civil, em 1986, e no Religioso, em 2000, depois de
muito refletir e perceber a mão do Senhor me puxando. A partir de então, voltei
à mesa da Eucaristia e dos demais sacramentos, participamos de algumas pastorais
e nos esforçamos a educar nossas filhas na Igreja. Eu sempre insatisfeito e o
Senhor me buscando!
Enfim, numa experiência de dor e de graça, em setembro de
2011, deparei-me com a morte e inevitavelmente com a vida, minha história com o
Senhor! Com a descoberta de um câncer maligno no colo do intestino, minha vida
deu uma volta radical.
Foram quatro dias em observação com o intestino entupido,
uma cirurgia com trinta pontos no abdômen, mais de quinze dias de
pós-operatório com uma infecção interna de brinde.
Foram muitos dias de dor, orações, suplicas, solidão e
contrição. De fato minha maior constatação foi da inutilidade da minha vida até
então, por mais que tivesse participado da Igreja como apóstolo, naquela hora
minha percepção foi de que tudo era um grande engodo, se fosse que me
apresentar naquela hora diante do Senhor iria de mãos vazias, sem nenhum
“talento”. Foi o meu juízo final, pedi ao Senhor humilhado que me desse a graça
de continuar
a viver e de ser realmente seu apóstolo. Foi o reconhecimento
de minha autossuficiência, de minha arrogância e da necessidade da misericórdia
de Deus. Durante a convalescença de três meses, li muito, meditei e escrevi
muito, crescendo assim minha gratidão e reconhecimento de minha pequenez e dependência
de Deus, da Igreja e da necessidade de estar inserido numa comunidade de vida.
Mas qual comunidade? Já reconciliado com Deus e com a Igreja, e na busca por uma
conversa mais profunda sobre o que deveria fazer, o Senhor me levou de volta a
nossa irmã, sempre Madre Maria Inês, ocd, do Carmelo São José, com quem havia onversado
trinta e três anos atrás, quando estava me decidindo por qual caminho iria
seguir o Senhor.
Foi um encontro magnífico com aquela senhora idosa e santa,
foi uma conversa de muita alegria e dor, de reconhecimento de minha indignidade
e da imensa misericórdia de Deus!
Conversamos por mais de uma hora, a madre não falou sequer
uma palavra sobre participar da OCDS, por mais que tenha deixado claros meus
desejos e necessidades. Mas o Senhor sabia o que me daria. Já na saída,
passando em frente ao stand da livraria do Carmelo S. José, leitor voraz que
sou de temas que me interessam, correndo curioso os títulos, deparei-me com um
livrinho chamado “O Mundo é meu Carmelo”, de Frei Patrício Sciadini, que fala exatamente
do que é ser um carmelita secular e de como sê-lo. Nasceu ai um desejo incontido
de conhecer sua proposta, e minha surpresa foi que sua proposta de vida era
algo muito parecido com o que desejávamos viver no extinto Instituto trinta
anos atrás. Com algum esforço, encontrei os contatos da antiga presidente da
comunidade, depois de uma agradável acolhida, fui conhecê-los e nunca mais sai de
lá. Não tenho dúvidas sobre minha vocação!
No inicio da minha caminhada, havia um desejo muito grande
de beber, sem medidas, de toda a doutrina e graças do Carmelo, porém o tempo
foi mostrando que todos éramos necessitados de amor e perdão, o que me levou
por algum tempo a me decepcionar com a comunidade. Assim, nas minhas orações,
fui compreendendo que “Onde não houver amor, devemos colocar amor”. Foi o que
fiz, todos os dias, orava pela nossa comunidade e por meus irmãos, e então
passei a olhá-los com olhar de misericórdia.

Hoje, caminhando com minha comunidade, crescendo e sofrendo
as vicissitudes de nossa vida secular, cresceu em mim um desejo grande de fazer
algo por ela e pela OCDS, um desejo de viver e de partilhar com os demais
cristãos nossa experiência de vida. 

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