
Nascimento de Santa Teresa de Jesus. 505 Anos (1515-2020)
“Ditosas vidas que se acabaram no serviço da Igreja!” (Santa Teresa de Jesus – V 40, 15)

Celebramos neste dia 28 de março o nascimento de Santa Teresa de Jesus, nossa Mãe e Fundadora do Carmelo Descalço (28 – 1582). Santa Teresa viveu 67 anos dos quais apenas vinte de intensa atividade como fundadora, escritora, contemplativa e caminheira de Deus pelas terras da Espanha do século XVI. Educada com esmero, ouvia nas longas noites invernais, ao calor da lareira, a leitura da vida dos santos mártires, feita por seus pais. Animada por essas leituras, aos 7 anos Teresa sente a necessidade de fugir para a terra dos mouros, com seu irmão, Rodrigo. Fuga frustrada. Mas o ideal da fuga — ‘quero ver a Deus’ — torna-se o seu horizonte de vida.
Teresa de Jesus foi educada na fé da Igreja Católica. Muito depressa deu mostras de uma rara sensibilidade religiosa (Vida 1,5). Para ela, a princípio, a religião concentrava-se na figura de Deus, sem especificar muito (Vida 2,7). Depois surge a pessoa de Jesus como expressão do divino (Vida 3,1). Mais tarde Jesus a introduz no mistério trinitário (Contas de Consciência 14), e desde ali redescobre a Deus (Contas de Consciência 15), mas com mais profundidade, sem que nunca falte no horizonte da sua existência Jesus Cristo homem e Deus (Contas de Consciência 66,3), como centro de compreensão e de vivência de toda a realidade divina e humana.

Com profundas convicções de sua origem, sempre dá destaque às virtudes dos seus pais e irmãos. “Meu pai era homem muito caridoso com os pobres e piedoso com enfermos e até com os criados; ninguém jamais o viu praguejar ou murmurar. Era de extrema honestidade”. (V 1,1) “Minha mãe também tinha muitas virtudes e passou a vida com grandes enfermidades. Grandíssima honestidade. Muito pacífica e de grande entendimento. Foram enormes os trabalhos por que passou enquanto viveu. Morreu muito cristãmente”. (V 1,2) Seu pai, Alonso Sánchez de Cepeda (1480-1543), morreu com 63 anos de idade. Sua mãe, Beatriz de Ahumada (1495-1529), morreu jovem, com 34 anos de idade.

A descoberta de Jesus, como Deus que saiu ao nosso encontro, coincide com o despertar da sua puberdade (Vida 3,6) e supõe para ela o começo de uma religiosidade adulta. Começa a entender toda a sua existência como relação – oração, assim o diz ela (Vida 4,7).
Teresa vê os seus primeiros anos como se fossem uma nova criação de Deus, onde tudo era bom (Vida 1), mas logo a seguir também ela foi apanhada pela tentação (Vida 2), e é então quando Jesus a começa a chamar (Vida 3,6). Interrogando-se acerca do sentido da sua vida e contemplando a de Jesus, pensa que a melhor resposta ao seu amor é consagrar-se inteiramente a Ele, ainda que para isso tenha que usar de grande violência. Acerca disto escreve: “Recordo-me, e a meu parecer com toda a verdade, que quando saí de casa de meu pai [para fazer-se religiosa], foi tal a aflição, que não creio que será maior quando eu morrer” (Vida 4,1). E assim a sua primeira séria decisão é por Cristo, fazendo-se carmelita.

Se queremos aprofundar no conhecimento de sua vida, precisamos adentrar à leitura do Livro da Vida, vale ressaltar, que não poderá ser lido considerando uma autobiografia no sentido técnico da palavra. Pois aqui, conheceremos Teresa menina, jovem, carmelita expressa com o sabor de uma longa e detida confissão de sua vida, que em linguagem coloquial, nos seduz e conduz aos seus projetos audaciosos.
Santa Teresa é uma reformadora da vida religiosa do seu tempo. O seu espírito crítico leva-a a seguir novos caminhos. Teresa concede particular atenção a oração, sem deixar de abordar a triste e difícil situação da Igreja, problemas da Espanha do século XVI.

Teve amigos que participaram de sua vida espiritual, entre eles, dominicanos e jesuítas, frequentes parceiros de amigos espirituais são Pedro de Alcântara se destaca, e as extravagantes penitências eram admiradas por ela, a comoviam, mas sem incentivá-la à imitá-lo. Mas, será a amizade com são João da Cruz que santa Teresa ter a seus propósitos dilatados e alargados, pois a seu lado reformara o Carmelo masculino. Amizade nascida no ano de 1567, em Medina, que mudará a vida dos dois frente a realização da vontade de Deus. Entre seus diálogos Teresa o convence a deixar de lado a ideia de ir para a Cartuxa pedindo-lhe que aderisse à nova família carmelita. João aceita e volta a Salamanca para fazer um ano de teologia. Em 1568 volta de Salamanca e continua dialogando com Teresa sobre a nova vida carmelita. Acompanha-a na fundação das monjas em Valladolid aprendendo o estilo da reforma.

De Teresa de Jesus, dizemos ser uma mulher que fala de Deus. Fala de Deus como de Alguém conhecido. Quem mergulhar na leitura destas suas Obras terá a real impressão de que ela se encontrou com Ele, antes de se pôr a escrever. Mas nem todos viram a Santa de Ávila por esse prisma, houve quem dissesse tratar-se de uma mulher inquieta, andarilha, desobediente e teimosa, que a título de devoção inventava más doutrinas, andando fora da clausura, contra o que ordenara o Concílio de Trento e os prelados; ensinando como mestra, contra são Paulo, que ordenara às mulheres não ensinar. As ações, palavras e escritos dessa mulher audaciosa perturbaram a tantos, mas iluminaram a muitos outros em seu tempo e ao longo da história. A sua doutrina tornou-se um texto de indiscutível sabedoria, onde todos vão beber com segurança, em busca de uma autêntica experiência de Deus.

Santa Teresa vive e transcorre a sua vida preferentemente na sua Ávila e na sua Castela, com alguns lances na Andaluzia. É uma santa tipicamente castelhana, por seu caráter sincero e nobre.

Enquanto carmelitas, ao celebrarmos o nascimento de santa Teresa, nossa Madre, é momento de agradecermos a Deus por sua vocação “polifacética”, respondida e desenvolvida em meio a um coração que “ama a Deus”, que “morre por que não morre”; porque crê unicamente em Deus “sois o meu fim”; e para Ele destina sua vida continuamente a dizer: “Que mandais fazer de mim?” (P. 5; 1; 2). Mas com ela aprendermos e renovarmos o nosso chamado e vocação, e dela ouvir o contundente conselho “Ditosas vidas que se acabaram no serviço da Igreja!”. (V 40, 15)
Santa Teresa de Jesus, roga por nós!
#ComissãoDeHistória
#EstelaDaPaz
Ref.:
Araújo, Estela Márcia Paz M.100 Anos da OCDS no Brasil. 2018.
Alvarez OCD, Frei Tomás. Obras completas.
MARIONES. OCD. Ildefonso. O CARMELO TERESIANO.
CERVER. OCD. Frei Jesus Castellano. Teresa de Jesus, Mestra da vida Espiritual. (Tradução de Frei Antônio João Perim, OCD)
Sánchez. Secundino Castro. site da Ordem do Carmo em Portugal