
Mensagem à OCDS – Crescer na amizade com Deus e os irmãos

Fr. Emerson de Jesus, OCD.
Há tempos, pretendo dirigir uma palavra à OCDS.
Primeiro, quero agradecer-vos pelas manifestações de apoio desde a nossa eleição, em novembro de 2019. Tais manifestações confirmam a nossa comunhão – juntos andemos, frades e OCDS, perseverando na observância do carisma recebido.
Depois, devo apresentar-me à OCDS, pois muitos não me conhecem. Eu sou filho do Carmelo de Montes Claros – MG. Vivi próximo ao Carmelo e sempre colaborei com as irmãs, assumindo os serviços externos. Todos os dias, após a Santa Missa, passava pela portaria do Carmelo para organizar os serviços. Diligentemente, percorria toda a cidade, para providenciar tudo o que as monjas solicitavam. Esse trato estreito com elas, por meio das celebrações, diálogo diário e serviços externos, foi providencial. Ali, nasceu a minha vocação.
Contando com a ajuda das irmãs, conheci os frades. Primeiro, conversei com os frades que assistiam o Carmelo de Montes Claros; em seguida, fui a Caratinga e convivi com postulantes e noviços. Foi uma experiência de discernimento e confirmação da vocação. Mantive contato com frei Afonso e, por orientação dele, participei do encontro vocacional, em São Roque – SP. No ano de 2001, fui admitido ao postulantado. Em 2002, professei os primeiros votos e segui para o estudantado em Belo Horizonte – MG. Passado o tempo da formação inicial, professei os votos solenes em 2008, na Paróquia de Nossa Senhora do Carmo (Caratinga – MG). Em 2010, fui ordenado presbítero, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora (Belo Horizonte – MG), onde exerci o ministério e participei da formação no Convento São João da Cruz até o ano de 2013.
No capítulo de 2014, fui nomeado ecônomo provincial e, portanto, transferido para o Convento Santa Teresinha (São Paulo – SP). Durante o triênio 2014-2016, colaborei com a comunidade do Rio de Janeiro – RJ e também com a comunidade de Marechal Deodoro – AL.
No capítulo de 2017, fui designado para a missão do Rio de Janeiro – RJ. Fui reitor da Basílica de Santa Teresinha e prior do Convento. Ao final do triênio 2017-2019, disposto a atender os apelos de Deus, decidi ir a Portugal, para colaborar com a Província Portuguesa. Frei Afonso e o Conselho aprovaram a minha decisão. Eu estava certo de que, em 2020, seguiria para terras lusitanas. Contudo, uma grande reviravolta se deu em minha vida: fui eleito provincial e, disposto a corresponder à confiança dos frades, assumi o ofício no triênio 2020-2022.
Em brevíssimas palavras, essa foi a minha trajetória no Carmelo Teresiano.
Nestes anos, convivi com as monjas e os seculares de diversas localidades da Província, o que reforçou a minha vocação. Portanto, a palavra que vos dirijo é precisamente esta: a convivência é garantia da fidelidade ao carisma teresiano. Como Santa Teresa nos diz, na convivência, desenganamo-nos mutuamente (cf. Livro da Vida 16,7).
Recordo o que diz o texto preliminar da Declaração Carismática dirigido aos frades, mas que explicita elementos do carisma comuns aos frades, às monjas e aos seculares: a comunidade ajuda a crescer, “trata-se de abrir-se ao outro com confiança, de deixar entrar o outro na própria vida e, assim, chegar a ser irmãos (…). É necessário viver com humildade, ou seja, caminhar na verdade, ser transparente diante dos irmãos, mostrando-se como é, com as próprias fragilidades e riquezas, e permitir que os outros nos ajudem a descobrir a verdade sobre nós mesmos” (Declaração Carismática, n. 44). A nossa fraternidade supõe essa abertura ao outro na confiança; não somos autossuficientes, precisamos uns dos outros, para perseverar na vocação. Compartilhamos riquezas e fraquezas e, assim, ajudamo-nos mutuamente.
Tratando ainda da convivência, exorto-vos a observar com redobrada atenção o número 21 da Declaração Carismática: “o carisma teresiano consiste essencialmente em uma experiência de amizade. Se a tradição franciscana fala da ‘perfeita alegria’, Teresa fala da ‘perfeita amizade’: ‘é coisa muito importante ter sempre a consciência tão limpa que nada vos impeça de pedir a Nosso Senhor a perfeita amizade que a Esposa pede’ (Conceitos do Amor de Deus 2,21). Fomos criados por amor e estamos destinados a amar. E a amizade não é outra coisa para Santa Teresa que a plenitude da relação de amor com Deus e com os outros. ‘É de lastimar e sofrer muito se, por nossa culpa, não chegarmos a essa amizade tão excelente e nos contentarmos com pouco’ (CAD 2,16)”. Sigamos, pois, investindo na amizade, não nos contentemos com pouco. A amizade com Deus é movimento interior que se mostra fora. Do trato com Deus procede a amizade entre nós, então, podemos avançar sem medo no caminho de Teresa de Jesus e de João da Cruz, apropriando-nos da nossa verdade e alcançando o coração de nossos irmãos e irmãs.
Deus nos confirme na vocação ao Carmelo Teresiano! Sigamos fiéis a nossa história e a nossa experiência de Deus, purifiquemos o cotidiano de nossas comunidades, desprendendo-nos de tudo o que contradiz nossa vocação, e conservemos o dom que o Espírito Santo comunicou ao coração de Teresa e, por meio dela, alcançou cada um de nós. Na observância do genuíno carisma do Carmelo Teresiano, nossa vida torna-se luz que brilha na noite do mundo, apontamos para o mundo novo prometido por Deus e reafirmamos a nossa confiança na fidelidade divina.
Bom triênio para todos nós, Carmelitas Descalços da Província São José! A Santíssima Virgem do Carmo nos sustente na vocação!