Intimidade Divina – 07/10/2010

Intimidade Divina – 07/10/2010

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Bem-aventurada sois, Virgem Maria, que conserváveis a palavra de Deus, meditando-a no coração (Lc 2,19)

A festa de hoje foi instituída há cerca de quatro séculos, em memória e ação de graças, pelas grandes vitórias que os cristãos obtiveram mediante o Rosário de Maria. Já há tempos e em diversos ambientes havia penetrado o uso de recitarem, todos os dias, certo número de ave-marias intercaladas, em cada dezena, por um pai-nosso. Pouco a pouco, foram acrescentando, a cada dezena, a consideração de um dos principais mistérios da vida de Jesus. Depois dividiram este Rosário em três partes de cinco dezenas cada uma, como rezamos hoje. Assim organizado, o Rosário é verdadeira meditação evangélica feita com Maria. Procuramos imitar a sua atitude diante do que via, e ouvia do Filho: “Conservava todas essas coisas, meditando-as em seu coração” (Lc 2,19). A primeira palavra que a Virgem ouviu, referente a Jesus, foi a do Anjo: “Eis que conceberás e darás à luz um Filho a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo” (Lc 1,31-32).
Quantos momentos obscuros teve Nossa Senhora na vida! A dúvida de José, a pobreza de Belém, a fuga para o Egito e tantos outros ainda! Neles terá Nossa Senhora recordado e meditado as palavras do Anjo. Jesus é o Filho do Altíssimo! Podem os homens persegui-lo até a morte, todavia triunfará: “Seu reino não terá fim” (ibidem, 33).
Terá também recordado a saudação de Isabel que, por iluminação divina, reconhecera em Maria a Mãe do Salvador. Depois, o nascimento de Jesus envolto em luz celeste, o canto dos Anjos, a jubilosa visita dos pastores.
Se tais acontecimentos são registrados no Evangelho, devemo-lo a Maria que, após tê-los guardado e meditado no segredo do coração, narrou-os aos primeiros discípulos e em particular a S. Lucas, o evangelista da Infância de Jesus.
Outra palavra que certamente Maria jamais esqueceu é a de Simeão: a profecia dos sofrimentos do Menino feito “sinal de contradição”, e a espada que traspassará seu coração de Mãe (Lc 2, 34-35). Enfim, a primeira palavra de Jesus a ela: “Não sabíeis que é preciso que eu me ocupe das coisas que são de meu Pai?” (ibidem, 49). Palavra austera, não compreendida imediatamente, mas longamente meditada, mormente nos anos silenciosos de Nazaré e depois nas horas de solidão, quando o Filho percorria a Palestina pregando às multidões, e chegavam até ela os ecos do ódio dos inimigos.
Nos mistérios dolorosos e gloriosos do Rosário, não está Maria sempre presente como nos gozosos; todavia, não falta sua presença por meio daquela intensa participação que sempre teve em toda a vida do Filho. Em dois momentos culminantes, porém, volta e aparece em primeiro plano: no Calvário e no Cenáculo.
Depois de ter acompanhado, em seu retiro, por informação dos discípulos, os primeiros passos da Paixão de Jesus – a agonia do Getsêmani, a flagelação, a coroação de espinhos -, Maria encontra-se com ele no lugar da crucifixão. Aí, a Paixão do Filho funde-se com a da Mãe: aos pés da cruz consuma, com Jesus agonizante, seu holocausto supremo. Maria tem o coração dilacerado, recebe nos braços Jesus morto, coloca-o no sepulcro, mas não vacila na fé. Está certa de que o Filho do Altíssimo não pode ser vencido pela morte.
Ao raiar do terceiro dias, quando correm as primeiras notícias da Ressurreição, Maria não tem objeções ou dúvidas. Assim também, mais tarde, não surpreende a Ascensão de Jesus ao céu. Já sabia e sempre crera que seu reino não teria fim. Ao ficar sem Jesus seu lugar é junto aos outros filhos que o Senhor lhe confiara na cruz. Apóstolos e discípulos se recolhem em torno dela no cenáculo, à espera do Espírito Santo. Maria lhes anima a oração, sustenta-lhes a fé, recorda-lhes a doutrina do filho.
Eis o itinerário que o Rosário nos ajuda a percorrer com Maria para penetrar as inefáveis grandezas dos mistérios de Cristo: Encarnação, Paixão, Ressurreição. Quem mais que Nossa Senhora os compreendeu e viveu? Quem mais que ela pode dar-nos a compreensão deles? O cristão que bem reza o Rosário pode intuir alguma coisa dos sentimentos do coração de Maria, ante os grandes mistérios de que foi testemunha e protagonista. É que ele se põe em contato espiritual com Maria para acompanhá-la nas várias etapas de sua vida. Assim se transforma o Rosário em profunda meditação, aliás, em contemplação, sob a guia de Nossa Senhora.
Continuamente repetidas, querem as ave-marias exprimir a atitude da alma que se ergue para a Virgem, a fim de ser por ela introduzida na compreensão cada vez mais luminosa dos divinos mistérios. Seja esta graça o fruto da festa de hoje: “Ó Pai… concedei ao vosso povo reviver com tanta fé os mistérios de vosso Filho, que alcance as promessas da Redenção” (Oração ao Ofertório da Missa).
Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D.

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