Formação: que formação?

Formação: que formação?


QUA,
30 DE MAIO DE 2012 10:33POR: CNBB
Dom
Francisco Biasin
Bispo de Barra do Piraí/Volta Redonda (RJ)
É raro participar de
alguma assembleia diocesana ou paroquial onde nestes últimos anos não apareça a
exigência ou a prioridade da FORMAÇÃO. Trata-se de um clamor que brota do
desejo de conhecer mais e de preparar pessoas e agentes para desempenhar melhor
o seu papel dentro da comunidade e no confronto com a cultura contemporânea.
Mas, qual é o sentido
esta palavra? Ele significa criar convicção, dar uma forma, modelar, adquirir
uma personalidade, um estilo de vida que caracterize alguém.
Podemos-nos
também perguntar: como acontece a formação?
Logo
nos deparamos com dois modelos de formação:
1.  
 Estática: parte das idéias, das normas, das doutrinas. Exige uma Verdade
objetiva e absoluta. Nela prevalece a execução, é ativista, genérica, aérea,
uniforme. Baseia-se na ascética, pois exige sacrifício e sublimação.
2.  
 Dinâmica: parte da vida, da situação de cada pessoa e de cada cultura,
dos anseios, dos relacionamentos. Exige a elaboração de um projeto de vida e,
portanto discernimento. Trata-se, portanto de uma formação situada, criativa,
fecunda, existencial. Exige mística, convicção. Fundamenta-se numa experiência
profunda de Deus.
Para nós cristãos a
luz sempre nos vem da Palavra de Deus que de forma pedagógica interveio na vida
e na história do seu povo.
Portanto toda a história do Povo de Deus manifesta a pedagogia de Deus que
acompanha a sua caminhada e o forma ensinando-o progressivamente. O Salmo 118
sobre a lei de Deus louva o homem reto “que na lei do Senhor vai progredindo”.
Através dos profetas
e dos acontecimentos, Ele vem acalentando o sonho da Terra Prometida e alterna
o uso da bondade com o uso dos castigos, mas sempre trata com misericórdia e
amor os seus filhos para reconduzi-los ao bom caminho.
No meio deste Povo a
fidelidade de Deus se expressa na escolha de um “pequeno resto” o resto de
Israel, os pobres de Javé aos quais manifesta o seu carinho e que cultiva,
sobretudo em meio ao sofrimento, para manter viva a sua promessa. Até chegar à
“plenitude dos tempos”, quando envia o seu Filho Jesus.(cfr. Gal 4,4).
Jesus, por sua vez,
experimenta a progressividade e o crescimento na sua existência de vida. Lucas
afirma no seu evangelho: “O menino crescia”(Lc 2,40). Ora, se há crescimento há
progressão, há avanços, há aperfeiçoamento.
Jesus usa da
pedagogia da progressão também com os apóstolos: prepara-os para a missão, às
vezes é duro com eles, chama atenção, toma atitudes, mas sempre dá chance até a
última hora: “Amigo, para que estás aqui?”(Mt 26,50)
Com as pessoas que
não entendem ou não querem entender, ele usa de uma psicologia e de uma
pedagogia de mestre: basta ver o diálogo com a Samaritana (Cfr Jo 4).
Torna-se duro, não
com os pecadores, mas com os chefes, os doutores da lei, os fariseus e os
sacerdotes porque impõem pesos nos outros, porque julgam e condenam sem dar
chance. Típico é o caso do comportamento de Jesus na ocasião em que estavam
apedrejando a mulher adúltera: ele apela para a fraqueza e o pecado de todos:
“Quem não tiver pecado, atire nela a primeira pedra”(Jo 8,7).
Jesus ensina mais com
a vida, a convivência, as atitudes, a partir dos fatos da vida do que com
discursos e cursos: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Ele
não apresenta uma Verdade formal, objetiva e fria, mas se propõe a si mesmo
como a Verdade. Ora, ele é pessoa viva, uma verdade que palpita, que cativa e
que abrange toda a pessoa: cabeça, coração, afetividade, sexualidade,
relacionamentos e socialidade. Ele não é uma verdade abstrata, um sistema que
se impõe e escraviza, mas Verdade que liberta e salva. São Paulo exclamará: “É
para a liberdade que Cristo vos libertou!”(Gal 5,1)
A
experiência da Igreja
A formação dos fiéis
na Igreja nunca se deu somente a nível acadêmico, aliás a formação na Igreja
abrange todos os aspectos da sensibilidade humana: a arte em todas as suas expressões,
o conhecimento intelectual, as manifestações religiosas, os relacionamentos
interpessoais, as várias fases da vida pessoal, familiar, social etc.
Assim a Igreja forma
os fiéis quando celebra, quando faz festa, quando realiza obras sociais, quando
prepara as pessoas para os ministérios (ordenados ou não), quando organiza a
atividade pastoral, quando usa os meios de comunicação. A formação, portanto,
não consiste apenas em organizar cursos e palestras, mas abrange todas as suas
expressões da vivência eclesial.
É claro que, vivendo
na história, a Igreja tem adotado, ao longo dos séculos, a metodologia de
ensino, de educação e de formação de cada época.
Hoje o método da
Igreja, sobretudo aqui na AL é participativo, indutivo, a partir da
experiência, interativo e aberto ao diálogo.
No Doc. de Aparecida se afirma que “a formação é permanente e dinâmica, de
acordo com o desenvolvimento das pessoas e com o serviço que são chamadas a
prestar, em meio às exigências da história” (DA 279) E quando fala da formação
bíblico doutrinal, acrescenta: “Junto a uma forte experiência religiosa e uma
destacada convivência comunitária, nossos fiéis necessitam aprofundar o
conhecimento da Palavra de Deus e os conteúdos da fé, visto que esta é a única
maneira de amadurecer sua experiência religiosa. Neste caminho acentuadamente
vivencial e comunitário, a formulação doutrinal não se experimenta como um
conhecimento teórico e frio, mas como uma ferramenta fundamental e necessária
no crescimento espiritual, pessoal e comunitário” (DA 226d).
Enfim, na Igreja a
formação significa em primeiro lugar estilo de vida segundo o evangelho para
alcançar a plena maturidade em Cristo e testemunho de vida. Isso, naturalmente,
inclui também a participação a cursos de formação, a encontros para conhecer e
motivar mais o testemunho e a vivência.
Mas, participar de
cursos e ter títulos acadêmicos, até de teologia, sem ter uma vida que
testemunhe o evangelho no amor, no perdão, na solidariedade, no desapego, no
respeito dos outros e na fraternidade, não significa ter a “forma Christi”, que
só se dá na configuração a Cristo Senhor. Em outras palavras, a formação cristã
aponta para uma vida de santidade. E nós na Igreja devemos trabalhar para isso
se quisermos que a formação ajude na trans-formação da vida das pessoas, das
nossas comunidades e da sociedade em que vivemos.

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