Fala uma carmelita: orar é falar com Deus

Fala uma carmelita: orar é falar com Deus


Entrevista com Ir. Susana da Santíssima Trindade, madre do carmelo Nossa
Senhora do Carmo, da cidade de Porto Alegre
Em vista da festa da Apresentação de Jesus no
templo e do XVII Dia da Vida Consagrada, próximo sábado, 2 de fevereiro, ZENIT
está entrevistando diversos religiosos e religiosas.
Hoje quem fala aos leitores de ZENIT é a
Madre Susana da Santíssima Trindade, do primeiro mosteiro a ser fundado no sul
do Brasil no ano de 1839, o Carmelo Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Porto
Alegre.
Publicamos a seguir a entrevista:
***
ZENIT: Por que uma pessoa entra na vida
monástica?
Ir. Susana: Em primeiro lugar, para responder
a um chamado de Deus.
Mais do que uma escolha humana, a vocação à
Vida Consagrada, que, como nos diz o documento pós-sinodal Vita Consecrata:
“pertence ao mistério da Igreja como elemento imprescindível intimamente ligado
ao mistério de Cristo”, e portanto, exige de cada vocacionado(a) uma resposta
com liberdade e responsabilidade. Na vida monástica, essa resposta requer ainda
uma grande determinação em deixar tudo e todos com maior radicalidade para uma
entrega mais profunda no seguimento de Jesus.
ZENIT: Qual é o sentido da vida monástica
hoje?
Ir. Susana: No “hoje” de nossa problemática
socio-global, o que dá sentido à vida monástica ainda continua sendo o ‘amor à
Deus e a dedicação da própria vida ao serviço daqueles que de nós necessitam’.
Pela oração, encontramos respostas para os desafíos que chegam a nós sob
pedidos de intercessões pelas diversas vicisitudes da vida.
ZENIT: Fale-nos um pouco do seu mosteiro?
Vida, número de membros, fundação…
Ir. Susana: Nosso Mosteiro foi o primeiro a
ser fundado no sul do Brasil, por uma leiga chamada Joaquina Isabel de Brito no
ano de 1839 .Direta ou indiretamente, os onze Mosteiros que compõem a
Associação dos Carmelos do Sul do Brasil, excetuando um, tiveram sua origem
neste Carmelo. Após esses mais de 160 anos, nossa comunidade continua
realizando sua missão contemplativa. Atualmente, em nossa comunidade, somos 15
irmãs, com um grupo de 6 jovens no noviciado em formação inicial. Temos mais de
35 Irmãs já falecidas que nos deixaram grandes testemunhos de santidade, e hoje
por certo, intercedem junto à santa Igreja Triunfante no Carmelo da Eternidade.
ZENIT: Qual é a espiritualidade que vocês
seguem?
Ir. Susana: Nós somos Monjas Descalças da
Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo e fazemos parte de uma
família religiosa, enriquecida com um carisma próprio, para desempenhar uma
missão peculiar no Corpo Místico de Cristo. Sob o Patrocínio da Virgem Maria,
temos nossa índole primeiramente mariana e bíblica, segundo as tradições
espirituais dos Veneráveis Padres antigos, especialmente o Profeta Elias, como
inspirador.
Orientamos nossa vida, segundo o carisma e o
processo de vida espiritual de nossa fundadora Santa Teresa de Jesus,
dedicando-nos completamente à oração e à contemplação das coisas divinas,
vivendo os conselhos evangélicos de castidade pobreza e obediência, com Regra e
Constituições próprias, em uma pequena comunidade fraterna, fundada na solidão,
oração e estrita pobreza. Contamos também com o precioso contributo de vida e
escritos de São João da Cruz, no qual a Divina Providência comunicou o mesmo
espírito do carisma teresiano, auxiliando Santa Teresa nos alicerces da Ordem.
Enfim, nossa espiritualidade, perspassa um vasto grupo de santos carmelitas que
deram impulso ao afã contemplativo-missionário de Nossa Mãe Santa Teresa de
Jesus, e cujos escritos e exemplos de vida, contribuíram para o bem da Igreja,
da Ordem e da humanidade inteira. Entre eles: Santa Teresinha do Menino Jesus e
da Santa Face, Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), São Rafael
Kalinowsk, Beata Elisabete da Trindade, etc.
ZENIT: Para o mundo vocês estão presas e
estão perdendo a vida. É assim mesmo?
Ir. Susana: Obviamente que não. Nós nos
sentimos as pessoas mais livres e libertadas de tantas cadeias com que o
‘mundo’ prende e engana as pessoas, e, por isso mesmo, arraigadas em Deus
unicamente, sentimo-nos as mais felizes. As grades e os muros de nossa clausura
não significam prisão, pelo contrário, são um auxílio necessário que nos
oferece o ambiente que exige essa vida de oração, que constitui nossa vocação.
“Quem perder sua vida, vai guardá-la para a eternidade”, diz Jesus. Não
sentimos de forma alguma a vivência vocacional como uma perda.
ZENIT: Temos um Papa que escolheu um nome
monástico para o seu pontificado, Bento XVI. O que tem significado Bento XVI
para a espiritualidade monacal?
Ir. Susana: Muito nos motivou, quando Sua
Santidade, o Papa Bento XVI, escolheu e explicou o significado de seu nome como
Sumo-pontífice, ou seja, que se inspirou em seu antecessor o Papa Bento XV, por
ter sido um homem de paz, e no papel desempenhado pelo santo Patrono da Europa,
São Bento de Núrsia. Percebemos, com isso, a serenidade e sensibilidade de Sua
Santidade, o Papa Bento XVI, à respeito da vida monástica, ou seja, conta, em
seu ideal pontifício com o patrocínio de um grande contemplativo. Ressalta
também, a admiração pelo santo Patriarca do Monaquismo Oriental, evocando uma
frase chave da Regra de São Bento, que também muito nos inspira: “ Não antepor
nada ao amor de Cristo.”
ZENIT: A vida de oração é muito complicada?
Ir. Susana: Orar é falar com Deus. Segundo
Santa Teresa de Jesus, nossa Fundadora, rezar é estar muitas vezes a sós com
Aquele que sabemos que nos ama. Santa Teresinha no diz que, rezar é um impulso
do coração, que nos leva a Deus na dor, na alegria, na tristeza e em todos os
momentos da vida. Segundo esses conceitos de oração, deixados por tão grandes
santas, e pela nossa vivência e experiência cotidiana, podemos afirmar, com
certeza que, a oração não tem nada de complicado, é simplesmente tratar de amizade
com o “Mestre Amigo”, que sempre está atento a cada um de seus filhos.
ZENIT: Realmente há paz detrás dessas grades
ou muros?
Ir. Susana: Sim. Muita paz, se queres
experimentar a verdadeira paz, venha até junto de Deus, pois o Senhor Jesus é a
fonte da verdadeira Paz e da serenidade. Não é possível estar com Deus e não
gozar da sua paz.
ZENIT: Na sua opinião, qual é a essência de
um consagrado?
Ir. Susana: Um consagrado é por essência um
dom da Trindade à Igreja. E, à imitação de Jesus, vivendo os conselhos
evangélicos de castidade, pobreza e obediência, torna-se com Ele um outro
“Cristo”, anunciando e desgastando a própria vida no anúncio do Reino de Deus e
na união do Seu Corpo Místico.
ZENIT: Vocês fazem algum trabalho apostólico?
Ir. Susana: Nosso apostolado, como
contemplativas, é realizado exclusivamente através da oração. Somos como que a
raiz de uma árvore, que é a Igreja. As folhas, flores e frutos, são os que
realizam as obras externas, e nós contemplativos, permanecemos no escondimento
e no silêncio, aurindo a seiva que sustenta e alimenta a vitalidade dessa
árvore, para que produza abundantes frutos, alimentando assim, os que dela se
aproximam.
ZENIT: Como está a preparação para a Jornada
Mundial da Juventude 2013?
Ir. Susana: Estamos já, há alguns anos,
acompanhando, na medida do possível, as JMJ de outros Países, como a de Sidney,
na Austrália e de Madrid, na Espanha, animando nossas preces com o mesmo
entusiasmo dos milhões jovens que delas participam.
Desde o início da preparação da JMJ no
Brasil, não tivemos dúvida de fazer outro tanto. Estamos dedicando momentos
especiais de oração com nossas jovens vocacionadas, além de também termos
participado no concurso da letra do Hino da JMJ 2013.  
Também, tivemos a alegria de receber em nossa
Capela, a visita da Cruz Peregrina e do Ícone da Virgem Maria no dia 4 de
novembro de 2012, onde unimos esse momento tão emocionante, precedido por uma
celebração de ação de graças pela Vestição Monástica de uma de nossas jovens.
Foi um dia de muitas bênçãos para nós e de um considerável número de pessoas
que participaram conosco, aliás, bem acima do  esperado.
Temos nos unido a todos os que rezam e se
sacrificam para que esse momento de graça, que será vivido intensamente pela
nossa juventude, que aqui em terras Brasileiras se encontrarão com nosso Santo
Padre, produza frutos de verdadeira conversão e de uma aproximação sempre maior
dos jovens com a verdadeira Fonte da Vida que é Jesus.

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