A EXPERIÊNCIA DE PERDÃO E COMUNHÃO FRATERNA:

A EXPERIÊNCIA DE PERDÃO E COMUNHÃO FRATERNA:

 exigências
do AMOR
O século
XXI apresenta muitos desafios aos seres humanos. A equação desenvolvimento
econômico e meio ambiente; o processo de democratização de alguns países; a
descoberta da cura de algumas doenças como o câncer e a AIDS; a politização das
sociedades, particularmente da nossa, são alguns exemplos dos desafios que
temos pela frente enquanto “humanidade”, nação, comunidade e indivíduo.
Contudo, talvez, o maior desafio será o de alcançar um profundo diálogo e
respeito, entre tantos interesses convergentes e divergentes, que possibilite a
conciliação e, sobretudo, o consenso.

Saber
dialogar exige outro saber, o ouvir
Na tradição monástica, é costumeiro escutar que, “como temos dois
ouvidos e uma boca, isso significa que devemos ouvir duas vezes mais do que
falar”. Para Platão, o diálogo – dialética – é um meio pelo qual os indivíduos
buscam a verdade, saem das considerações sensíveis (das emoções) e chegam às
coisas inteligíveis (racionais). Assim, o diálogo é uma das portas para se
chegar à verdade, a conciliação e certamente à comunhão.
Contudo,
atualmente, a concorrência é uma das exigências para a sobrevivência. Estas
duas palavras estão infelizmente se tornado sinônimas. Com isso, além de outras
coisas como o hedonismo, o imediatismo, o utilitarismo e o cinismo, estamos,
consciente ou inconscientemente, encarnando esses “novos” valores da nossa sociedade
“pós-moderna”. Atualmente, moral, ética, sinceridade, bondade, caridade,
amizade (exceto se for virtual), coerência, fidelidade, subjetividade, estão
“fora de moda”. Simplesmente, estes “arquivos” estão selecionadas para serem
deletados definitivamente da grande pasta chamada VIDA e, destarte, a comunhão
torna-se impossível.
Parece que amiúde,
trazemos esses valores para a nossa vida espiritual e, principalmente,
comunitária. Decerto, não notamos que muitas das nossas atitudes estão cheias
de egoísmo e de “segundas” intenções, no fundo, de incoerências com o
compromisso batismal de sermos “imagem e semelhança” (Gn1,26) de um “Deus que é
amor” (1Jo 4,8). Esquecemos que ser cristão é uma luta diária para cumprir aquilo
que nos caracteriza: “viver é Cristo” (Fl 1,21).
Quando
menos esperamos, vemos no meio das nossas comunidades algumas exigências e
atitudes que não condizem com o evangelho e, consequentemente, com a
espiritualidade carmelitana descalça. Contudo, Santa madre Teresa deixa bem
claro que  “nesta casa […], todas as
irmãs [e irmãos] devem se amar”(C 4,7), e “Se por acaso vos escapar alguma
palavrinha dita de repente, corrigi logo a situação e orai muito. Quando
qualquer coisa como essa perdurar, se­jam grupinhos, desejos de ser mais do que
as outras ou questiúnculas ligadas à honra (e parece que o sangue gela em
minhas veias quando escrevo isto, só de pensar que algum dia essas coisas
venham a acontecer, pois vejo ser esse o principal mal dos mosteiros [nas comunidades]), quando isso acontecer,
dai-vos por perdidas. Pensai e crede que expulsastes vosso Esposo de casa e que
O obrigastes a procurar outra pousada, pois O deixastes fora do Seu lar. Clamai
a Sua Majestade. Procurai remediar a situação […]” (C 7, 10).
Porém, para
Teresa, “não há problema que não seja resolvido com facilidade entre os que se
amam, e deve ser grave a coisa capaz de causar um problema
” (C 4, 5).
E como
saber se a coisa é grave para causar um problema na comunidade? Somente o
diálogo, iluminado e fundamentado no amor fraterno, no desapego e na humildade
(cf. C 4,4) pode nos dizer se a coisa é séria, passível de causar problema
entre os membros de uma comunidade. E mesmo se for, somente o amor entre os
irmãos poderá resolver o impasse. Então, a primeira pergunta que deve ser feita
é: Nós nos amamos? Se a resposta for positiva, ótimo. Assunto encerrado! Se
não, é melhor que todos revejam o que significa SER cristão e Carmelita
Descalço, e então, fazer a sua escolha…
Amar é
uma ação que exige atitude, testemunho, coragem
. Prova maior disso é o exemplo que Deus Pai nos
deu e continua a nos dar diariamente: “Com efeito, de tal modo Deus amou o
mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça,
mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). É o Pai quem nos dá o seu Filho amado para
salvar-nos, para ensinar-nos que a nossa vida só terá sentido se fizermos o que
ele nos diz: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo”
(Jo 15,12). No amor, esta implícito outras dimensões da vida cristã: o
respeito, a caridade, o desapego, a unidade, a paz, entre outras. Mas o amor
traz consigo uma dimensão sublime, talvez a mais divina de todas as outras
dimensões: o perdão.
Do
verdadeiro amor nasce o perdão entre os irmãos. É esse, sem dúvida, o maior
poder que Jesus nos concedeu: o de perdoar. O perdão liberta quem errou e cura
aquele que sofreu com o erro. Ao mesmo tempo, por meio do diálogo, do respeito
e da sinceridade, é o ponto de partida para um novo recomeço e uma nova vida
fundamentada no amor de Jesus, que nos deu a sua vida para nos salvar (Jo 10,
17-18).
Por certo,
numa comunidade comumente as diferenças, as discussões, as antipatias estão
presentes. Mas, tudo isso deve ser suplantado por meio da caridade fraterna e
do perdão. Santa Teresa referindo-se às palavras do Pai nosso: “perdoai as
nossas ofensas assim como nós perdoamos” (Mt 6,12) nos lembra: “Trata-se,
irmãs, de algo a que devemos dar muita atenção; uma coisa tão grave e tão
importante quanto o perdão de nossas culpas, que mereceriam o fogo eterno, pelo
nosso Senhor nos é concedida por algo tão ínfimo quanto o fato de nós
perdoarmos, ainda mais que o perdão inferior que é o nosso ocorre tão poucas
vezes que quase nada temos a oferecer […]” (C36, 2).
No entanto,
para que isso se cumpra, é necessário seguir o conselho de Jesus: “Vigiai e
orai para que não entreis em tentação” (26,41). Na tentação de achar que sempre
estamos certos; que somos sempre as vítimas, que sempre aquilo fizemos é que
era o melhor para a comunidade, que esse ou aquele é que tem a razão, ou seja,
de sermos parciais… Em tudo isso, “O conhecimento é muito importante para
tudo esclarecer” (C 4,5).
Teresa
lembra-nos que  “a suma perfeição […] consiste
em estar a nossa vontade em tamanha conformidade com Deus que jamais deixemos
de querer com todas as nossas forças tudo aquilo que percebamos que Ele quer,
aceitando com a mesma alegria o saboroso e o amargo e compreendendo que Sua
Majestade assim o quer” (F 5,10), e que a “obediência [é] o caminho ou meio
mais rápido para chegar a esse estado tão prazeroso” (F 5,11).
Não podemos
esquecer que desde o princípio da fundação do Carmelo Teresiano, santa madre
queria “seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição” (C 1,2) e que
todas as irmãs fizessem o mesmo. Esse é o cerne do carisma teresiano, ou seja,
o Evangelho de Cristo. Só assim, podemos “construir” o nosso “tratado de
amizade — estando muitas vezes tratando a sós — com quem sabemos que nos ama”
(V 8,5) e viver plenamente os desdobramentos dessa relação, ou seja, uma vida
harmoniosa com o próximo.
No século
XXI, o catolicismo não poderá continuar sendo um cristianismo intelectualizado,
devocional ou de sacristia, mas sim da vivência, da prática, do TESTEMUNHO
diário manifestado em nossas comunidades e famílias. Em suma, de uma profunda
espiritualidade. Que o Carmelo Descalço, por meio da sua unidade e fidelidade
ao evangelho, continue sendo “uma estrela da qual [sai] um grande resplendor”
(V 32,11) para o mundo e para a Igreja. Caminhemos à luz do Cristo que VIVE
entre nós!
Comissão
de Formação OCDS

1 Comment

  • maria ignez
    05/06/2012

    OBRIGADA PELO TEXTO. IREMOS REFLETIR, HOJE, NA REUNIÃO.

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