Decreto Inter Mirifica – Sobre os meios de comunicação

Decreto Inter Mirifica – Sobre os meios de comunicação



Frei Marcos Matsubara, odc


O reto exercício da comunicação
exige, todavia, que a comunicação, no seu conteúdo, seja sempre verdadeira e,
resguardadas a justiça e a caridade, íntegra, “Evangelizar neste novo
continente sem fronteiras geográficas significa estabelecer um profundo diálogo
do Evangelho com a cultura midiática”
Todo ser humano é fruto da comunicação. Em primeiro lugar, da
comunicação do amor de Deus que nos criou e nos comunicou (e continua
comunicando) o seu amor de várias formas, a começar pelo fato de estarmos vivos
e participarmos desta magnífica experiência da aventura humana… Só o fato de
estarmos aqui já é, por si, expressão da comunicação de uma grande graça
divina.  Quem neste mundo escolheu nascer ou existir?  Se
vivemos é porque Deus, no seu desígnio misterioso, assim o quis. Contudo, o
Senhor, que  jamais impôs limites à sua comunicação de amor, nos deu
muito mais e podemos dizer, sem sombra de dúvida, que a maior comunicação do
amor de Deus se deu em seu Filho Jesus Cristo.  É assombroso o amor
que Deus nos comunicou em Jesus.  Se Jesus não tivesse estado entre
nós, nunca teríamos  entendido a Deus… Como  poderíamos
nós, tão pequenos e frágeis entender  a grandiosidade de Deus não
fosse pelos gestos humanos carregados de amor divino, comunicados por
Jesus?   Em outras palavras, Deus, na sua infinita benevolência,
quis comunicar-se plenamente com a humanidade e sua maior expressão  de
comunicação do amor é seu próprio Filho Jesus.  Um dia, “o Verbo se
fez Carne  e habitou entre nós”…   Lembremos das
palavras de São João da Cruz, um carmelita descalço apaixonado  por
Deus:  “Deus nos deu o seu Filho, que é a sua Palavra única (e
outra não há) , tudo nos falou de uma vez nessa Palavra, e nada mais tem para
falar” (2S 22,3) 


Mas para além desta  divina comunicação do amor,  cada
um de nós é também fruto da comunicação do amor entre um homem e uma mulher;  somos
fruto igualmente  da comunicação do amor de uma família, do grupo
social em que vivemos, da nossa cultura…   Pensemos bem:  o
ser humano é um ser comunicacional.  Somos humanos porque nos comunicamos.
Vejamos o exemplo de uma cadela que acabou de ter uma ninhada de filhotinhos.
Se, por acaso, eu separar um dos filhotes do restante da ninhada e criá-lo
isoladamente, ainda sim ele vai crescer um cachorro, talvez com algumas
pequenas diferenças  porque foi afastado  do convívio dos
demais… mas ainda será um cachorro.    Com o ser humano
isso não acontece.   Se isolarmos uma criança recém-nascida do
convívio dos demais seres humanos ela “deixará” de ser humana.  Não
vai aprender a falar, porque isso aprendemos  com os outros; nem vai
aprender a pensar ou raciocinar porque esta capacidade precisa ser
desenvolvida  ao longo dos anos no contato com as pessoas e  talvez
nem ande sobre duas pernas  porque isso também aprendemos  na
nossa infância.  Resumindo: sem comunicação não há  vida  plena  e
não poderia ser diferente, afinal de contas  todos sabemos que o amor
é comunicação. Deus é amor e nos comunica o seu amor…  Dependemos
da comunicação  para sermos plenamente humanos.  
Certa vez, eu estava pregando um retiro para as irmãs carmelitas
descalças  num mosteiro  em Minas Gerais e dizia que o amor
é comunicativo e se numa comunidade ou família não houver comunicação (e aqui
podemos  enumerar as várias expressões de comunicação relacional como
diálogo, expressões de afeto, atenção, gestos de  gentileza…) não
haverá da mesma forma amor entre seus membros. Então podemos dizer que  o
termômetro do amor é a comunicação.  Uma família que se ama também
sabe se comunicar, como também numa comunidade religiosa em que não há
comunicação entre os seus membros, não há verdadeiramente o amor.

Se, por um lado,  sabemos  que a comunicação é um
elemento importante na vida das pessoas,  devemos também atentar para
o fato de que toda comunicação precisa ser realizada da maneira mais verdadeira
possível. Toda comunicação precisa levar a verdade de modo que quem comunica
precisa respeitar aquele que vai receber sua mensagem em seu direito legítimo
de receber uma comunicação fidedigna.
Há praticamente cinquenta anos atrás, (quando eu acabava de nascer) a
Igreja vivia um momento especial e estava celebrando o Concílio Vaticano
II,  que foi, por assim dizer, um novo Pentecostes vivido  por
todo o Povo de Deus. O Concílio Vaticano II foi responsável por mudanças
importantíssimas no seio da igreja, atualizações urgentes, transformações
necessárias. Os mais velhos devem lembrar da época em que as missas eram
celebradas com o padre de costas para o povo  numa língua (o latim)
que quase ninguém mais entendia…  E, durante o Concílio (realizado
entre 1962 e 1965) foi elaborado um Documento muito importante sobre a relação
da Igreja e os Meios de Comunicação Social é o chamado decreto “”Inter
Mirífica
”,  objeto da nossa reflexão de hoje nesta novena . A expressão
latina “Inter Mirífica” traduzida em português seria  algo como
“Entre as maravilhas”. Que maravilhas são estas? As maravilhas da tecnologia de
nossos dias…  A comunicação é realizada nos dias atuais por meios
cada vez mais eficientes, poderosos, rápidos e criativos. Entre as maravilhas
do mundo atual nós caminhamos tantas vezes, estupefatos, surpresos, atônitos
porque novas possibilidades se nos apresentam e questionam… Cinquenta anos
atrás a Igreja já estava atenta à necessidade urgente de sabermos usar estes
novos recursos para evangelizar.
“O decreto Inter Mirifica é o
segundo dos dezesseis documentos publicados pelo Vaticano II. Aprovado a 4 de
dezembro de 1963, assinala a primeira vez que um concílio geral da Igreja se
volta para a questão da comunicação.(…). Pela primeira vez , um documento
universal da Igreja assegura a obrigação e o direito de ela utilizar os
instrumentos de comunicação social. Além disso, o Inter Mirifica também
apresenta a primeira orientação geral da Igreja para o clero e para os leigos
sobre o emprego dos meios de comunicação social. Havia agora uma posição
oficial da Igreja sobre o assunto: 
A Igreja
Católica, tendo sido constituída por Cristo Nosso Senhor, a fim de levar a
salvação a todos os homens e, por isso, impelida pela necessidade de
evangelizar, considera como sua obrigação pregar a mensagem de salvação, também
com o recurso dos instrumentos de comunicação social, e ensinar aos homens seu
correto uso. Portanto, pertence à Igreja o direito natural de empregar e
possuir toda sorte desses instrumentos, enquanto necessários e úteis à educação
cristã e a toda a sua obra de salvação das almas.(IM 3).
O documento refere-se aos
instrumentos de comunicação, tais como imprensa, cinema, rádio, televisão e
outros meios semelhantes, que também podem ser propriamente classificados como
meios de comunicação social (IM 1). A maior contribuição do Inter Mirifica, no
entanto, foi sua assertiva sobre o direito de informação: 
É
intrínseco à sociedade humana o direito à informação sobre aqueles assuntos que
interessam aos homens e às mulheres, quer tomados individualmente, quer
reunidos em sociedade, conforme as condições de cada um (IM 5).
Considerando provavelmente como
a mais importante declaração do documento, este trecho demonstra que o direito
à informação foi visto pela Igreja não como um objeto de interesses comerciais,
mas como um bem social.               
Fonte:www.paulinas.org.br/sepac/…/intermirifica.aspx


Passados 50 anos desde que o Documento InterMirífica foi publicado
continua ainda a missão e o desafio para toda Igreja continuar no seu esforço
de levar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo a todas as pessoas,  a
partir dos novos meios de comunicação, entre os quais não podemos esquecer da
Internet que passou a ser um meio poderoso de veiculação de informações,
particularmente entre as gerações mais jovens.   Embora a
internet  seja reconhecidamente  o modo mais moderno de
comunicação, muitas vezes acaba sendo um meio de divulgação de idéias erradas,
de pseudoverdades,  distorções, ilusões e até mentiras
perversas…   Por isso  devemos ver a internet como o
mais novo areópago* (lugar em que São Paulo, teve a coragem de anunciar a Jesus
Cristo entre os pensadores gregos  em Atenas)  onde cada
cristão e a Igreja como um todo deve anunciar a Boa Nova da Salvação  por
meios criativos, usando uma nova linguagem, novos métodos e uma nova postura… 

Terminando minha  partilha, quero lembrar a canção de um artista
muito conhecido em nosso país. Muitas coisas  eu queria ter dito aqui
para vocês,  mas me deparo com a pobreza de minhas idéias e a
insuficiência das palavras.  Espero ter motivado  o amor de
cada um pela pessoa de Jesus Cristo, razão da nossa vida e de nossa fé: 
Eu tenho tanto prá lhe falar, mas com palavras não sei dizer…”


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