
COMENTARIO DO EVANGELHO DE HOJE FEITO POR SANTA TERESA DE JESUS
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João 6,60-69.
Depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que palavras
insuportáveis! Quem pode entender isto?»
Mas Jesus, sabendo no seu íntimo que os seus discípulos murmuravam a
respeito disto, disse-lhes: «Isto escandaliza-vos?
E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes?
É o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada: as palavras que vos
disse são espírito e são vida.
Mas há alguns de vós que não crêem.» De facto, Jesus sabia, desde o
princípio, quem eram os que não criam e também quem era aquele que o havia
de entregar.
E dizia: «Por isso é que Eu vos declarei que ninguém pode vir a mim, se
isso não lhe for concedido pelo Pai.»
A partir daí, muitos dos seus discípulos voltaram para trás e já não
andavam com Ele.
Então, Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?»
Respondeu-lhe Simão Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de
vida eterna!
Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus.»
Comentário ao Evangelho do dia feito por
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja
O Caminho da perfeição, 34/36 (trad. Seuil 1961, p. 200)
«Nós cremos»
Quem quiser que peça o pão material! Nós pedimos ao Pai eterno que mereçamos receber o nosso pão celeste com disposições tais que, se não tivermos a alegria de O contemplar com os olhos do corpo, de tal forma Ele se esconde, que Ele se revele pelo menos aos olhos da alma e Se manifeste a
ela. É este um alimento inteiramente diferente, cheio de alegria e de delícias; ele é o sustento da vida. […]
Conheço uma pessoa a quem o Senhor deu uma fé tão forte, que quando ouvia alguém dizer que gostava de ter vivido na época em que Cristo, o nosso Bem, estava neste mundo, se ria consigo mesma. Dado que O possuímos, pensava ela, no Santo Sacramento de um modo tão verdadeiro como naquele tempo, que mais podemos desejar? […] E deitava-se a Seus pés; aí chorava em companhia de Maria Madalena, como se O tivesse visto com os olhos do corpo em casa do fariseu (Lc 7, 36ss). Mesmo quando não sentia devoção, a fé dizia-lhe que Ele estava verdadeiramente ali.
Com efeito, seria preciso ser-se mais estúpido do que se é e cegar-se voluntariamente para sentir a menor dúvida quanto a isto. Não se trata aqui de um trabalho da imaginação, como quando pensamos no Senhor na cruz ou em qualquer outra circunstância da Sua Paixão; aí representamos a coisa em nós mesmos, tal como ela se passou. Aqui, ela tem realmente lugar; é uma verdade certa, e não é necessário ir procurar o Senhor noutro sítio, bem longe de nós. Com efeito, sabemos que enquanto a matéria do pão não for consumida pelo calor natural do corpo, o bom Jesus está em nós; consequentemente, aproximemo-nos d’Ele. Quando Ele estava neste mundo, o simples contacto das Suas vestes curava os doentes; por que duvidar, se temos fé, de que Ele continua a fazer milagres quando está tão intimamente unido a nós? Por que não nos daria Ele aquilo que Lhe pedimos, uma vez que está na nossa própria casa?