
A Paixão – Sonetos em Sequência de Frei César Cardoso, OCD
A PAIXÃO
I
O último suspiro na cruz destes,
A última gotícula gotejastes,
A última palavra vós dissestes,
Por último, ao alto vós olhastes.
Na cruz tua dor última sentistes,
O último movimento operastes,
O último sentimento distinguistes,
O último diálogo vós travastes.
Aquele por quem tudo foi bem feito,
Fez tudo o que tinha que fazer,
Em nada do que fez deixou defeito.
É próprio do amor nada reter,
Dar tudo e do modo mais perfeito
E à última fibra se perder.
II
Na cruz tuas promessas realizas,
Antigas predições são acabadas,
Antigas profecias são cumpridas,
E todas as empresas praticadas.
As fases todas foram suplantadas,
Os passos todos foram executados,
As falas todas foram declaradas,
E todos os sinais efetivados.
O cálice inteiro foi bebido,
E todos os combates encarados.
O amor inteiramente foi vivido.
Pois todos os sermões foram pregados,
E todo o sofrimento padecido,
Ao fim esteve tudo consumado.
III
No lenho tudo foi finalizado,
As tuas sensações enfraquecidas,
Os sonhos foram todos realizados,
E todas as estradas percorridas.
Na cruz as trevas foram dissipadas,
E todos os demônios encolhidos,
As forças foram bem desafiadas,
E todos os poderes combalidos.
A espera não foi desiludida,
Os velhos sacrifícios são passados,
E toda, qualquer dúvida dirimida.
Foi todo imperfeito, aperfeiçoado,
Foi cada incompletude concluída,
Foi tudo feito, dito e consumado.
Frei César Cardoso, ocd