A AVE MARIA – 2ª Parte – “CHEIA DE GRAÇA”
do Céu, um demônio do inferno ou João Duns Scotus”! Ao ouvir o seu nome, aquele
fradezinho desconhecido, humilde, de hábito remendado, que contava apenas 30
anos, curvou a cabeça afirmativamente. E toda a cidade de Paris ficou a saber
que estava dentro de seus muros o astro da Universidade de Oxford, e que na
Sorbonne refutaria a tese de que a Virgem Maria fora concebida, como todos os
filhos de Adão, com o pecado original.
em que seria discutido o assunto entre os mais categorizados teólogos do mundo,
na presença dos legados pontifícios, saía esse humilde franciscano do convento
e, ao passar por uma igreja, vê lá no alto uma estátua de Nossa Senhora.
Descobre-se e suplica: “Faze-me digno de
Te louvar, ó Virgem Santíssima; dá-me forças contra os teus inimigos”. A
estátua milagrosamente inclina a cabeça em sinal de assentimento. Os
companheiros notam o prodígio e ajoelham entre gritos de alegria.
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Beato João Duns Scotus |
janeiro de 1305. Na grande sala, são apresentados mais de duzentos argumentos
contra a doutrina da Imaculada Conceição. Acabando de falar todos os mestres,
Scotus avança e sobe à tribuna. Sem apontamentos nas mãos, enumera todas as
duzentas objeções expostas e a todas pulveriza com testemunhos das Sagradas Escrituras
e dos Santos Padres, com tal lucidez e vigor, que um formidável aplauso coroou
a doutrina de que a Virgem Santíssima foi concebida sem o pecado original.
chamara-Lhe o embaixador do Céu, São Gabriel. E já o próprio Deus A anunciara
no Gênesis, ao condenar a serpente infernal: “Eu porei inimizades entre ti e a
Mulher, entre a tua posteridade e a posteridade d’Ela. Ela te pisará a cabeça e
tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gen 3, 15).
dos méritos infinitos de Cristo, Deus podia preservar a sua Mãe dessa mancha.
Convinha à glória do Filho tal glória para a Mãe. E Deus assim o fez.
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Santa Isabel de Portugal |
Portugal honra-se de ter sido um dos primeiros “Cavaleiros” a combater pela Imaculada. O bispo de Coimbra, Dom Raimundo Enrardo, instituiu em 13 de outubro de 1320 a festa da Imaculada Conceição nessa cidade. Diz a tradição que foi a pedido da Rainha Santa Isabel que tal festividade foi instituída.
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Santa Beatriz da Silva |
Em 1484, a portuguesa Santa Beatriz da Silva fundou em Toledo, Espanha, a Ordem da Imaculada Conceição. As cortes de Lisboa, em 1646, tomam Nossa Senhora da Conceição por Padroeira do Reino e o rei Dom João IV, com o príncipe e Estados promete e jura “confessar e defender sempre, até dar a vida, sendo necessário, que a Virgem Senhora Mãe de Deus foi concebida sem pecado original”.
Sem a Imaculada Conceição de Maria nunca a humanidade conheceria bem, nem compreenderia, a obra prima que tinha sido a criação do ser humano em estado de graça: toda a beleza, toda a bondade, toda a perfeição, toda a felicidade com que Deus fixara o Seu sinete nessa criação. À vista de Maria, a “Cheia de Graça”, resplandece esse sinete, monumento do amor de Deus à humanidade. E porque nisso estava a glória do mesmo Deus e a felicidade do mesmo homem, tal verdade tinha também de resplandecer. O Espírito Santo, presente na Igreja, a iluminou e o grande Pontífice Pio IX proclamou esse dogma em 1854.
Inesquecível e histórico dia 08 de dezembro desse ano, quando o Vigário de Cristo, “pela autoridade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e pela sua própria, definiu que ‘a Bem-Aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original desde o primeiro instante da sua conceição'”. Tal dia ficou escrito em letras de ouro não só no Céu, mas também na terra, no coração de todos os cristãos, que exultaram com a glória de sua Mãe Celeste, ao mesmo tempo que sentiam, e sentem, receber dessa prerrogativa de Maria, concebida sem pecado, uma especial proteção para sua pobre condição de pecadores e para a suas lutas diárias contra o pecado.
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São João Maria Vianney (o Cura d’Ars) |
Testemunho eloquente dessa exultação foi o passado em Ars, onde São João Maria Vianney – que desde o berço amava a Santíssima Virgem e manifestava a sua devoção radiosa para com ela, dizendo que, “se para dar alguma coisa a Nossa Senhora fosse preciso vender-se, ele se venderia” – já em 1836 havia consagrado a sua paróquia a “Maria concebida sem pecado” e em 1844 havia erigido na sua igreja uma grande estátua da Imaculada.
Toda a paróquia foi iluminada e os sinos tocaram tanto que os povos vizinhos acorreram julgando tratar-se de um incêndio. Era o incêndio da fé e do amor à Imaculada. No final, no seu sermão, ele exclamou:
“Que felicidade! Que felicidade! Eu sempre pensei que faltava este raio no esplendor das verdades católicas. Era uma lacuna que não podia permanecer na religião”!
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Santa Catarina Labouré |
A própria Virgem veio do Céu à terra confirmar o Dogma, para a maior alegria e confiança de seus filhos. Em 27 de novembro de 1830, aparece a Santa Catarina Labouré, mandando-a cunhar a medalha, hoje chamada “milagrosa”, na qual se lê a invocação: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”!
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Santa Bernadette Soubirous |
Em 1858, aparecendo em Lourdes, França, a Bernadette Soubirous, diz-lhe: “Eu sou a Imaculada Conceição”!
Cheia de graça, Mãe da Divina Graça, Maria encanta os corações com esse tesouro celeste, que é a vida divina a circular na alma humana. Em Maria, tudo é pureza, tudo é graça, tudo é santidade; e quanto mais as almas gravitam à volta da sua devoção, mais se acende nelas esse desejo e força de pureza, graça e santidade. Ela, concebida sem pecado, dá a todos os seus devotos a força, a coragem, a eficácia para resistirem e lutarem contra as tentações, para evitarem o pecado e detestá-lo, superando assim, por meios sobrenaturais, as consequências da culpa original.
O escritor Camilo Castelo Branco exprimiu muito bem este fato e sentimento: “Maria! Esta palavra é um manancial de sublimes relances, qual deles para maiores prodígios de entusiasmos. O gênio do homem, circunscrito entre as balizas da angustiada culpa original, não sei porque atração celeste, parece desprender-se de suas algemas e transportar-se ao sacrário dos mistérios, quando os olhos do espírito se fixam extáticos na auréola que circunda a fronte de Maria”.
Com o pecado, apareceu a infelicidade sobre a terra, e é por isso que, onde falta a graça divina, tudo são trevas e desassossego e remorsos. Maria, a Cheia de Graça, é por isso mesmo a “Cheia de Felicidade”, e, como Mãe nossa, dada por Cristo no Calvário a todos os pobres pecadores, Ela tem uma missão específica: auxiliar a restaurar a graça divina no coração humano, e, com ela, a felicidade, e, especialmente, a felicidade eterna.
Quando a Imaculada apareceu a Bernadette, disse-lhe: “Tu serás feliz, mas, não neste mundo, e, sim, no outro”!
E o grande apóstolo e mártir dos nossos dias, São Maximiliano Maria Kolbe, fundador da Milícia da Imaculada, recomendava com absoluta convicção:
“Amai a Imaculada, amai a Imaculada e sereis felizes”!
Neste duelo entre Deus e satanás, entre a Graça e o pecado, entre a felicidade e a infelicidade, Maria está presente, com o seu carinho maternal como dom precioso de Deus à humanidade. Lembramos, neste combate, a visão do Apocalipse:
“Apareceu no Céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol, e a lua debaixo de seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça… E foi visto um outro sinal no Céu: era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez pontas e nas suas cabeças sete diademas… e o dragão parou diante da Mulher”… (Apoc. 12).
É o combate anunciado no Gênesis… Sempre a serpente a armar ciladas, a tentar morder o calcanhar de Maria… Em vão! E sempre o pé virginal e imaculado de Maria e rechaçar a sua cabeça!
Mas esta luta não terminou. Maria continua a lutar contra o dragão, para defender os seus filhos, ou, para os arrancar às garras do tentador, se nelas estão presos.
Ditosos aqueles por quem Maria vela! E felicidade também, e glória, de todos aqueles que enfileiram nesta luta ao lado de Maria. E o lado da vitória!
Estas palavras “Cheia de Graça” da Ave Maria, bem saboreadas e meditadas, dar-nos-ão a devoção mais alta, que é a devoção ao estado de Graça, pela qual realizamos a verdadeira grandeza do cristão, a que o Batismo nos deu direito: sermos irmãos de Crsito, com direito: sermos irmãos de Cristo, com direito real a chamarmos “Pai” (Abbá) ao Pai Celeste, a chamarmos Mãe à Santíssima Virgem Maria e a herdarmos o Paraíso!