Mensagem do Definitório Extraordinário OCD – Caminhar na Verdade

Mensagem do Definitório Extraordinário OCD – Caminhar na Verdade

Caminhar na verdade
Mensagem do Definitório Extraordinário OCD
Old Goa (Índia), de 4 a 10 de fevereiro de 2019
  
São Paulo exorta os cristãos da comunidade de Roma para se deixarem
transformar por meio de uma renovação pessoal profunda que lhes permita viver
sempre de acordo com a vontade de Deus: “Não vos conformeis com as normas
do presente século, mas transformai-vos sinceramente pela renovação da mente,
para que possais discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é
agradável, o que é perfeito “(Rm 12,2). Com este desejo e este espírito, o
Definitório Extraordinário reuniu-se de 04-10 fevereiro de 2019 Old Goa
(Índia), muito perto de onde teve início a presença da Ordem na Índia, bem como
a Basílica que guarda o túmulo de São Francisco Xavier, um dos grandes
missionários da história da Igreja. Agradecemos aos nossos irmãos de
Karnataka-Goa e às outras províncias indianas pela acolhida fraterna e calorosa
e pela solicitude com que prepararam a reunião. Durante estes dias, celebramos
com alegria o quarto centenário da chegada dos primeiros Carmelitas Descalços
na Índia (Goa 1619), e agradecemos ao Senhor pela abundância de vocações nos
últimos tempos, o que fez da Índia o país que atualmente tem o maior número de
frades carmelitas descalços. Este duplo olhar para o passado e presente pode
confirmar a vitalidade do carisma Teresiano, sem desvincular-se de suas raízes
históricas, que continua a desenvolver-se com energia sempre renovada, conjugando
a necessária continuidade com constante atualização.
A releitura das Constituições
O Capítulo Geral realizado em Avila em maio 2015 decidiu que a Ordem
entrará em um processo de reflexão e discernimento sobre como viver o carisma
no momento presente. Para tanto, ele pediu a todos os religiosos que realizassem
uma releitura orante e comunitária das Constituições, com o objectivo principal
de descobrir se nossa vida real corresponde ao ideal carismático e as regras
práticas que o regem. Além disso, a leitura da Constituição deveria servir para
discernir se era conveniente reescrevê-lo, no todo ou em parte, para continuar
a expressar de forma atualizada e compreensível os valores permanentes que
constituem o carisma de nossa família religiosa. O Definitório de Goa foi a
ocasião oportuna para recolher a experiência da primeira fase do processo,
avaliar seus resultados e orientar os futuros passos. Seguindo as indicações e
materiais da comissão internacional cujos membros agradecemos o esforço que levaram
a cabo, as comunidades realizaram um trabalho que em alguns casos já produziu
bons resultados de renovação e de compromisso pessoal e comunitário. Depois de
analisar as propostas e sugestões recebidas de toda Ordem sobre os textos
legislativos, o Definitório respondeu ao encargo que lhe foi confiado pelo
Capítulo Geral de tomar uma decisão sobre o caminho a seguir a partir de agora,
com base nestes pressupostos “reelaboração das Constituições, revisão pontual
das mesmas e / ou elaboração de uma Declaração sobre a vida Carmelitano-Teresiana”
(é hora de andar!, 32).
A Ordem no contexto atual de mudança
O processo seguido até este momento nos levou a constatar a vitalidade
da Ordem, sua capacidade de se estabelecer e de se inculturar em múltiplas
áreas do nosso mundo. Nos últimos anos, embora tenha havido um declínio
significativo em regiões de presença tradicional como a Europa, a expansão do
Carmelo Teresiano foi rápida e extensa em muitos outros lugares. Resulta
evidente a atualidade e a universalidade de um carisma que tantos séculos
depois dá sentido às vidas de muitas pessoas de lugares tão diferentes.
Ao mesmo tempo, tomamos consciência de algumas tendências na vida da
Ordem. Uma delas é a grande diversidade nas formas concretas de vida e
atividade. Há diferenças notáveis de todo tipo: número de membros nas
comunidades, tipo de apostolado, prática da oração em comum … A variedade de
estilos de vida parece refletir, e também produzir, diferentes maneiras de
entender o carisma, variando de uma visão quase monástica até uma abordagem
totalmente centrada nas atividades ministeriais.
Outra tendência que observamos é a crescente autonomia prática que se
dá em diversos níveis na vida da Ordem: dos religiosos em relação à comunidade,
das comunidades em relação à província e, ainda mais, de cada província em
relação às outras províncias e ao conjunto da Ordem. Juntamente a muitos outros
fatores, certamente essa tendência não é estranha ao individualismo cada vez
mais pronunciado que caracteriza as sociedades modernas e que influencia
fortemente a vida religiosa. A acolhida alegre de uma diversidade que enriquece
o todo deve ser acompanhada de um discernimento sério que permita manter a
coesão e a unidade da Ordem.
Retomar o caminho da renovação
Um fator que tem influência decisiva na situação da Ordem é a magnitude
da mudança que está ocorrendo em nossas sociedades em muitas áreas:
tecnológica, cultural, antropológica, eclesial … As formas de viver e pensar
de hoje tem pouco a ver com aquelas de 40 ou 50 anos atrás. Vivemos em um mundo
que muda cada vez mais rapidamente.
A Igreja precisa responder a essas mudanças com uma renovação
permanente que lhe permita viver e transmitir a mensagem do Evangelho com
linguagem e formas adequados à situação atual, bem como aos diversos contextos
culturais, políticos e sociais do nosso mundo. A chamada para estarmos atentos
e reagirmos seriamente diante das situações de mudança e necessidades dos
tempos e lugares que fizeram o Concílio Vaticano II continua válida, mas deve
ser uma atitude constante da Igreja e de todos quanto a formamos.
Os Religiosos, movidos pelo Espírito, têm sabido responder, em cada
momento histórico, com criatividade e generosidade às necessidades da
humanidade, e agora são chamados a acolher com especial interesse e intensidade
ao convite urgente de renovação. A Congregação para os Institutos de Vida
Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, acolhendo o convite do Papa Francisco
a viver na novidade evangélica, exortou os religiosos a aprofundar a dinâmica
da renovação pós-conciliar e “agarrar o desafio de uma novidade que exige
não apenas acolhida, mas também discernimento. É necessário criar estruturas
que sejam realmente adequadas para proteger a riqueza inovadora do Evangelho, a
fim de vivê-la e torná-la disponível para todos, conservando a sua qualidade e
bondade “(Para vinho novo, odres novos, 2).
Também, é claro, nossa Ordem deve fazê-lo. O P. Geral, em seu discurso
neste Definitório Extraordinário, sublinhou que o tema principal neste momento
é precisamente “a renovação, isto é, a adaptação dos modos de compreender
e viver o carisma no contexto antropológico que tem mudado em nosso tempo
“; trata-se de “retomar o caminho de renovação iniciado, mas
certamente não concluído com a aprovação das Constituições
pós-conciliares” (Objetivo, método e temas de uma declaração carismática,
páginas 2 e 11). Seguindo as recentes indicações da Igreja, também nossas irmãs
Carmelitas Descalças estão avançando nesse caminho.
A revisão dos textos legislativos
Uma revisão das Constituições e das Normas Aplicativas seria, sem
dúvida, uma ajuda neste desejo de renovação e atualização carismática que compartilhamos.
As Constituições, como qualquer texto legislativo, são necessariamente
limitadas e contingentes, e exigem uma atualização permanente. No entanto,
notamos que a Ordem como um todo valoriza a riqueza das atuais Constituições e
não sente a necessidade de uma reelaboração completa do texto. É mais
compartilhada a impressão de que a revisão de alguns pontos específicos seria
possível e conveniente; no entanto, o consenso não é majoritário, e menos ainda
sobre quais são os elementos para modificar, suprimir ou adicionar. Estamos
igualmente conscientes de que uma atualização séria e profunda das
Constituições exige um tempo prévio de reflexão e mentalização doutrinal em
toda a Ordem, que será necessariamente longo, em torno do carisma
carmelita-teresiano e dos sinais de tempos e lugares.
Por todas estas razões, o Definitório Extraordinário decidiu não
empreender, por enquanto, a redação de um novo texto constitucional, nem a
revisão do atual. Muitas das propostas de modificação que foram apresentadas podem
ser assumidas com a revisão das Normas Aplicativas, que é uma competência do
Capítulo Geral já prevista no próprio texto legislativo. Neste sentido, durante
o Definitório de Goa já iniciamos o diálogo sobre alguns dos pontos que seria
conveniente rever, com base nas informações recebidas das comunidades e na
experiência do Definitório geral. O trabalho continuará durante os próximos
meses para que o Capítulo Geral possa ter os instrumentos necessários para
avançar nesta revisão.
Para uma declaração carismática
Em sintonia com o desejo expresso por um número significativo de circunscrições
da Ordem, o Definitório Extraordinário aceitou por uma grande maioria
empreender a elaboração de uma Declaração sobre a vida Carmelitano-Teresiana
(fontes, história, atualidade), que foi uma das possibilidades delineadas pelo
Capítulo Geral de 2015.
Como o Padre Geral definiu, o objetivo da dita Declaração seria
“ajudar a ler e compreender o carisma e as Constituições de forma adequada
para a situação atual, seus desafios e os diversos contextos sócio-culturais em
que a ordem está presente “. Trata-se, pois, de expor sinteticamente e com
uma linguagem atualizada os elementos essenciais de nossa identidade
carismática, aqueles que nos definem como uma família em particular na Igreja e
todos nós aspiramos a implementar, independentemente do nosso lugar de origem
ou de residência, nossa cultura, nossa comunidade ou nossa atividade.
Um primeiro passo essencial é retornar às fontes de nossa família e
nossa espiritualidade. Por outro lado, é necessário conhecer e analisar com lucidez
a realidade do nosso tempo. Devemos também levar em conta a diversidade de
regiões, culturas e situações em que vivemos atualmente. A combinação adequada
dessas perspectivas deve permitir uma atualização das formas de expressão e dos
modos de viver o carisma que lhe dê nova força e vigor.
O documento que pretendemos elaborar está chamado a ser uma exposição
atualizada de nossa identidade carismática, um texto de referência com o qual
todos nós nos sentamos identificados, para nos ajudar a fortalecer nosso
sentido de pertença à Ordem e guiar-nos no compromisso de responder com alegria
filial ao chamado que recebemos do Senhor para viver a seu serviço na família
iniciada por Teresa de Jesus e João da Cruz. Dita redefinição atualizada de
nossa identidade também deveria ajudar a fortalecer alguns dos aspectos mais
fracos na nosso modo atual de caminhar na verdade e de viver com fidelidade
criativa.
O itinerário a seguir
O Definitório Geral assumirá a tarefa de concretizar a maneira de
preparar a revisão das Normas Aplicativas e a redação da Declaração
Carismática. Embora a contribuição qualificada de pessoas específicas seja
essencial, também se buscarão meios para facilitar uma ampla participação das
circunscrições da Ordem no processo.
Então, estamos todos convidados desde já a aprofundar a reflexão sobre
a nossa identidade carismática e da nossa legislação, mantendo nas comunidades
o espírito e a prática do diálogo fraterno sobre estes temas que têmos
intensificado nos últimos meses em relação às Constituições.
Acima de tudo, somos chamados a promover uma atitude de renovação
permanente, o que implica uma abertura sincera e constante ao Espírito que nos
fala através da Palavra de Deus, dos nossos irmãos e da história. Devemos
continuar alimentando o desejo de assimilar e viver com um compromisso
empolgado os elementos que constituem nossa identidade.
Todos os membros da família do Carmelo Teresiano (frades, freiras e
leigos) estão comprometidos com esse caminho de renovação, no qual devemos
avançar juntos. Agradecemos a todos por orarem ao Senhor para que este processo
dê frutos para o bem da Igreja e da humanidade.
No final do nosso encontro em Goa, confiamo-nos de modo especial aos
Beatos Carmelitas, Dionísio e Redenção, que iniciaram aqui o itinerário da vida
carmelitana que os levou a testemunhar a Cristo com a oferta das suas próprias
vidas. Invocamos em toda a Ordem a proteção de Maria, Mãe do Carmelo, para nos
ajudar agora e sempre a caminhar na verdade.
Old Goa, 10 de fevereiro de 2019.

Tradução de Luiz Roberto
*Texto enviado por Luciano Dídimo

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Caminar en la verdad
Mensaje del Definitorio Extraordinario OCD
Old Goa (India), 4-10 febrero 2019

San Pablo exhorta a los cristianos de la comunidad de Roma a dejarse transformar por medio de una renovación personal profunda que les permita vivir siempre de acuerdo con la voluntad de Dios: “No os amoldéis a las normas del mundo presente, sino procurad transformaros por la renovación de la mente, a fin de que logréis discernir cuál es la voluntad de Dios: lo que es bueno, lo agradable, lo perfecto” (Rm 12,2). Con este deseo y con este espíritu, el Definitorio Extraordinario se ha reunido del 4 al 10 de febrero de 2019 en Old Goa (India), muy cerca del lugar donde se inició la presencia de la Orden en la India, así como de la basílica que custodia el sepulcro de san Francisco Javier, uno de los grandes misioneros de la historia de la Iglesia. Agradecemos de corazón a nuestros hermanos de Karnataka-Goa y de las demás provincias indias su acogida fraterna y calurosa y la solicitud con la que han preparado el encuentro.
Durante estos días hemos celebrado con gozo el IV Centenario de la llegada de los primeros carmelitas descalzos a la India (Goa 1619), y hemos agradecido al Señor la abundancia de vocaciones en tiempos recientes, que ha convertido a la India en el país del mundo que cuenta actualmente con un mayor número de frailes carmelitas descalzos. Esta doble mirada al pasado y al presente permite constatar la vitalidad del carisma teresiano que, sin desvincularse de sus raíces históricas, sigue desarrollándose con energía siempre renovada, conjugando la necesaria continuidad con la actualización permanente.

La relectura de las Constituciones

El Capítulo General celebrado en Ávila en mayo del 2015 decidió que la Orden entrara en un proceso de reflexión y de discernimiento sobre la forma de vivir el carisma en el momento presente. Para ello, pidió a todos los religiosos que llevaran a cabo una relectura orante y comunitaria de las Constituciones, con el objetivo principal de descubrir si nuestra vida real corresponde al ideal carismático y a las normas prácticas que lo regulan. Por otra parte, la lectura del texto constitucional debía servir para discernir si era conveniente reescribirlo, en todo o en parte, para que siga expresando de forma actualizada y comprensible los valores permanentes que constituyen el carisma de nuestra familia religiosa.
El Definitorio de Goa ha sido el momento oportuno para recoger la experiencia de la primera etapa de dicho proceso, valorar sus resultados y orientar los pasos futuros. Siguiendo las indicaciones y los materiales de la comisión internacional -a cuyos miembros hemos agradecido el esfuerzo que han llevado a cabo-, las comunidades han realizado un trabajo que en algunos casos ha producido ya buenos frutos de renovación y de compromiso personal y comunitario.
Después de analizar las propuestas y sugerencias recibidas de toda la Orden sobre los textos legislativos, el Definitorio ha respondido al encargo que le había encomendado el Capítulo General de tomar una decisión respecto al camino a seguir a partir de ahora, sobre la base de estas hipótesis: “reelaboración de las Constituciones, revisión puntual de las mismas y/o redacción de una Declaración sobre la vida carmelitano-teresiana” (¡Es tiempo de caminar!, 32).

La Orden en el contexto actual de cambio

El proceso seguido hasta este momento nos ha llevado a constatar la vitalidad de la Orden, su capacidad de implantarse y de inculturarse en múltiples zonas de nuestro mundo. En los últimos años, si bien se ha producido una disminución importante en las regiones de presencia tradicional como Europa, la expansión del Carmelo Teresiano ha sido rápida y extensa en muchos otros lugares. Resulta evidente la actualidad y la universalidad de un carisma que tantos siglos después da sentido a la vida de muchas personas de lugares tan distintos.
Al mismo tiempo, hemos tomado conciencia de algunas tendencias en la vida de la Orden. Una de ellas es la gran diversidad en las formas concretas de vida y actividad. Se dan diferencias notables de todo tipo: número de miembros en las comunidades, tipo de servicio apostólico, práctica de la oración en común… La variedad de estilos de vida parece reflejar, y también producir, formas diferentes de comprender el carisma, que van desde una visión casi monástica hasta un planteamiento totalmente centrado en las actividades ministeriales.
Otra tendencia que observamos es la creciente autonomía práctica que se da a diversos niveles en la vida de la Orden: de los religiosos respecto a la comunidad, de las comunidades respecto a la provincia y, más todavía, de cada provincia respecto a las demás provincias y al conjunto de la Orden. Junto a otros múltiples factores, seguramente esta tendencia no es ajena al individualismo cada vez más acusado que caracteriza las sociedades modernas y que influye poderosamente en la vida religiosa. La acogida gozosa de una diversidad que enriquece al conjunto debe ir acompañada de un discernimiento serio que permita mantener la cohesión y la unidad de la Orden.

Reemprender el camino de renovación

Un factor que tiene una influencia decisiva en la situación de la Orden es la magnitud del cambio que se está produciendo en nuestras sociedades en muchos ámbitos: tecnológico, cultural, antropológico, eclesial… Las formas de vivir y de pensar hoy tienen poco que ver con las de hace 40 o 50 años. Vivimos en un mundo que cambia cada vez más rápidamente.
La Iglesia necesita responder a estos cambios con una renovación permanente que le permita seguir viviendo y transmitiendo el mensaje del Evangelio con lenguajes y formas adecuados a la situación actual, así como a los distintos contextos culturales, políticos y sociales de nuestro mundo. La llamada a estar atentos y reaccionar seriamente ante las cambiantes situaciones y necesidades de los tiempos y los lugares que hizo el Concilio Vaticano II no ha perdido vigencia, sino que debe constituir una actitud constante de la Iglesia y de cuantos la formamos.
Los religiosos, movidos por el Espíritu, han sabido responder en cada momento histórico con creatividad y generosidad a las necesidades de la humanidad, y también ahora están llamados a recoger con especial interés e intensidad la invitación urgente a la renovación. La Congregación para los Institutos de Vida Consagrada y las Sociedades de Vida Apostólica, recogiendo la invitación del Papa Francisco a vivir en la novedad evangélica, ha exhortado a los religiosos a profundizar la dinámica de la renovación postconciliar y a “captar el desafío de una novedad que exige no solo acogida, sino también discernimiento. Es necesario crear estructuras que sean realmente aptas para custodiar la riqueza innovadora del Evangelio con el fin de vivirla y ponerla al servicio de todos, conservando su calidad y bondad” (Para vino nuevo, odres nuevos, 2).
También, por supuesto, debe hacerlo nuestra Orden. El P. General, en su intervención en este Definitorio Extraordinario, subrayaba que el tema principal en este momento es precisamente “el de la renovación, es decir, de la adaptación de los modos de comprender y vivir el carisma en el contexto antropológico que ha mutado en nuestro tiempo”; se trata de “reemprender el camino de renovación comenzado, pero ciertamente no concluido con la aprobación de las Constituciones post-conciliares” (Objetivo, método y temas de una declaración carismática, p. 2 y 11). Siguiendo las indicaciones recientes de la Iglesia, también nuestras hermanas carmelitas descalzas están avanzando en este camino.

La revisión de los textos legislativos

Una revisión de las Constituciones y de las Normas Aplicativas sería sin duda una ayuda en este deseo de renovación y actualización carismática que compartimos. Las Constituciones, como cualquier texto legislativo, son necesariamente limitadas y contingentes, y requieren una actualización permanente. Sin embargo, hemos constatado que la Orden en su conjunto valora la riqueza de las actuales Constituciones y no siente la necesidad de una reelaboración a fondo del texto. Es más compartida la impresión de que sería posible y conveniente la revisión de algunos puntos concretos; sin embargo, el consenso no es ni mucho menos mayoritario, y menos aún sobre cuáles son los elementos a modificar, suprimir o añadir. Somos igualmente conscientes de que una actualización seria y profunda de las Constituciones requiere un tiempo previo de reflexión doctrinal y de mentalización en toda la Orden, que será necesariamente largo, en torno al carisma carmelitano-teresiano y a los signos de los tiempos y los lugares.
Por todo ello, el Definitorio Extraordinario ha decidido no emprender por ahora la redacción de un nuevo texto constitucional, y tampoco la revisión del actual. Muchas de las propuestas de modificación que se han presentado se pueden asumir con la revisión de las Normas Aplicativas, que es una competencia del Capítulo General ya prevista en el propio texto legislativo. En este sentido, durante el Definitorio de Goa hemos iniciado ya el diálogo sobre algunos de los puntos que sería conveniente revisar, a partir de las indicaciones recibidas de las comunidades y de la experiencia del Definitorio General. El trabajo proseguirá durante los próximos meses para que el Capítulo General pueda disponer de los instrumentos necesarios para avanzar en dicha revisión.

Hacia una Declaración carismática

En sintonía con el deseo expresado por un número considerable de circunscripciones de la Orden, el Definitorio Extraordinario ha aceptado por una amplia mayoría emprender la redacción de una Declaración sobre la vida carmelitano-teresiana (fuentes, historia, actualidad), que era una de las posibilidades apuntadas por el Capítulo General del 2015.
Tal como lo ha definido el P. General, el objetivo de dicha Declaración sería “ayudar a leer y comprender el carisma y las Constituciones en modo adecuado al momento actual, a sus desafíos y a los diversos contextos socio-culturales en los cuales la Orden está presente”. Se trata, pues de exponer de modo sintético y con un lenguaje actualizado los elementos esenciales de nuestra identidad carismática, aquellos que nos definen como familia particular en la Iglesia y que todos aspiramos a poner en práctica, sea cual sea nuestro lugar de origen o de residencia, nuestra cultura, nuestra comunidad o nuestra actividad.
Un primer paso imprescindible es volver de verdad a las fuentes de nuestra familia y de nuestra espiritualidad. Por otra parte, es necesario conocer y analizar con lucidez la realidad de nuestro tiempo. Hay que tener en cuenta igualmente la diversidad de regiones, culturas y situaciones en las que estamos viviendo actualmente. La adecuada conjunción de estas perspectivas debería permitir una actualización de las formas de expresión y de los modos de vivir el carisma que le dé nueva fuerza y vigor.
El documento que queremos darnos está llamado a ser una exposición actualizada de nuestra identidad carismática, un texto de referencia con el que todos nos sintamos identificados, para que nos ayude a fortalecer nuestro sentido de pertenencia a la Orden y nos oriente en el compromiso de responder con fidelidad gozosa a la llamada que hemos recibido del Señor a vivir a su servicio en la familia iniciada por Teresa de Jesús y Juan de la Cruz. Dicha redefinición actualizada de nuestra identidad debería contribuir también a reforzar algunos de los aspectos más débiles en nuestro modo actual de caminar en verdad y de vivir con fidelidad creativa.

El itinerario a seguir

El Definitorio General asumirá la tarea de concretar el modo de preparar la revisión de las Normas Aplicativas y la redacción de la Declaración carismática. Si bien será fundamental la aportación cualificada de personas concretas, también se buscarán los medios para facilitar una amplia participación de las circunscripciones de la Orden en el proceso.
Así pues, todos estamos invitados desde ahora a profundizar la reflexión sobre nuestra identidad carismática y sobre nuestros textos legislativos, manteniendo en las comunidades el espíritu y la práctica del diálogo fraterno sobre dichos argumentos que hemos intensificado en los meses pasados a propósito de las Constituciones.
Sobre todo, estamos llamados a fomentar una actitud de renovación permanente, lo que supone una apertura sincera y constante al Espíritu que nos habla a través de la Palabra de Dios, de los hermanos y de la historia. Debemos seguir alimentando el deseo de asimilar y de vivir con compromiso ilusionado los elementos que constituyen nuestra identidad.
Todos los miembros de la familia del Carmelo Teresiano (frailes, monjas y laicos) estamos comprometidos en este camino de renovación, en el cual debemos avanzar juntos. Agradecemos a todos la oración al Señor para que este proceso dé sus frutos en bien de la Iglesia y de la humanidad.
Al terminar nuestro encuentro en Goa, nos encomendamos de una forma especial a los beatos mártires carmelitas Dionisio y Redento, que iniciaron aquí el itinerario de vida carmelitana que los llevó a dar testimonio de Cristo con la ofrenda de la propia vida. Invocamos sobre toda la Orden la protección de María, Madre del Carmelo, para que nos ayude ahora y siempre a caminar en la verdad.

Old Goa, 10 de febrero de 2019.

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