Retiro da comunidade São José – Sete Lagoas, MG

Retiro da comunidade São José – Sete Lagoas, MG

Comunidade, Espiritualidade
de comunhão, vida fraterna, conforme os documentos da Igreja e a doutrina de
Santa Teresinha

Somos construtores de comunidades de comunhão,
construtores de unidade e enviados em missão.  Somos discípulos e missionários de Jesus,
conforme o carisma que recebemos do próprio Deus e por mediação de nossos pais
Santa Teresa e São João da Cruz, cuja doutrina nós temos que conhecer em profundidade
e vive-la em intensidade.
Meditar, refletir e rezar sobre: comunidade,
fraternidade, espiritualidade de comunhão, conforme os documentos da Igreja e
de nossos santos, em modo particular de Santa Teresinha, foi o tema escolhido
pelo Frei Pierino, para o retiro da comunidade São José de Sete Lagoas, nos
dias trinta de novembro e primeiro de dezembro.
Iniciamos com um momento de comunhão:  a celebração da Santa Missa no Carmelo pela
ereção canônica da Comunidade Santa Teresinha OCDS de Sete Lagoas, significou
isso, a comunhão das comunidades, todas representadas, pelas monjas carmelitas,
por frei Pierino, frade Carmelita Descalço, pelas duas comunidades da OCDS, a
comunidade Santa Teresinha e a comunidade São José.
A comunidade que se abre à comunhão com Deus
é contagiante. Torna-se evangelizadora, manifestando a própria identidade,
composta de cristãos, discípulos de Jesus e Carmelitas descalços seculares. E a
comunhão foi o tema da oração sacerdotal de Jesus: “Para que todos sejam um
A comunidade de comunhão manifesta a presença
de Jesus. Onde há caridade e unidade, Deus ali está. Deus não pode estar
presente na desunião, na desagregação e na divisão. A divisão é o contrário de
Deus, pois é o contrário do amor. Somos chamados a viver o amor, que é o
próprio Deus, e criar comunhão com todos, sem excluir ninguém.

São João Paulo II, em seu documento “Novo
Millennio Ineunte
” assinalou: Fazer da Igreja a casa e a escola da
comunhão, eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se
quisermos ser fieis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas
do mundo.”
A comunhão não se acha pronta e a comunidade
também não. É construída todos os dias. E nós somos os construtores. Há gestos positivos,
que constroem a comunidade e gestos negativos, que a destroem. Incrementar o
que há de positivo e abolir o que há de negativo: esse é nosso trabalho
desafiador.
Deus quer que o ser humano se assemelhe
sempre mais a Ele, tendo como modelo, medida e fonte deste amor – comunhão,
o próprio Jesus em seu mistério pascal.
Para imitarmos Cristo, nós precisamos morrer
constantemente para que nasça vida nova.
Não há vida nova, em nós, sem morte. Tem que
morrer em nós o egoísmo, ou seja, tudo que nos separa de Deus e dos irmãos de
caminhada.
Cristo, em seu mistério pascal, é a fonte, o
modelo e a medida de como se constrói a comunidade e a comunhão. Ele instituiu
a Igreja como um “Corpo”: vários membros diferentes, mas que devem estar unidos
pela comunhão. Também instituiu como “Povo” peregrino a caminho; e como “Família”,
onde os filhos são infinitamente amados por Deus. A Igreja não exclui ninguém,
porque Deus não exclui ninguém.
Espiritualidade da comunhão
significa, em primeiro lugar, ter o olhar do coração voltado para o mistério
da Trindade, que habita em nós e cuja luz há de ser percebida também no rosto
dos irmãos que estão ao nosso redor.
Espiritualidade da comunhão, significa
também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico,
isto é, como « um que faz parte de mim », para saber partilhar as suas alegrias
e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades,
para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade.
(CARTA APOSTÓLICA NOVO
MILLENNIO INEUNTE)
O bem e o mal que o outro faz, são meus
também. Essa bela realidade, que o outro faz parte de mim, só se descobre
mediante a prática do amor que nos identifica com quem amamos. O mandamento
novo é “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.
Santa Teresinha dizia que, quando ela
praticava a caridade fraterna, era Jesus que amava nela.
A
comunidade está sempre em construção e todos somos construtores. Nós somos
aquilo que somos. Ninguém tira nem acrescenta nada em nós, à nossa verdade. E a
nossa verdade é aquilo que somos diante de Deus. Esta verdade, quando acolhida
e aceita, torna-nos livres, da liberdade dos filhos de Deus.
A
verdadeira Igreja é uma comunidade em saída.  E a caridade, no fundo, é sair de si e prestar
atenção no outro, quem quer que seja.
Espiritualidade da comunhão é
ainda “a capacidade de ver antes de mais nada o que há de positivo no outro,
para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus: um « dom para mim », como o é
para o irmão que diretamente o recebeu”
.
 Por
fim, espiritualidade da comunhão é saber « criar espaço » para o
irmão, levando « os fardos uns dos outros » (Gal 6,2) e rejeitando as tentações
egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas,
ciúmes”.
Não haja ilusões! Sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão
os instrumentos exteriores da comunhão. Revelar-se-iam mais como estruturas sem
alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e
crescimento. (NOVO MILLENNIO INEUNTE).
É evangélico julgar todo agir de nossos
irmãos numa perspectiva de bondade: assim faz nosso Pai que está no céu. Ele
faz nascer o sol sobre os justos e sobre os pecadores. O nosso Pai do Céu é
infinitamente misericordioso e nos acolhe, nos aceita e nos ama como somos e a
pesar daquilo que somos.
Uma das verdades mais fundamentais do
cristianismo, verdade por demais desconhecida é esta: o que salva é o olhar.
Tudo depende do olhar, a realidade muda conforme nosso olhar. Existindo amor,
Ele sempre nos coloca do lado da bondade, da benignidade, da indulgência, da
compaixão, da esperança e da promoção da vida. Um olhar bom não para na
exterioridade. Temos que ter um olhar profundo, um olhar contemplativo.
No profundo do nosso eu, há “alguém” (o
proprio Deus) e nós temos que entrar em contato com Ele. Não somos ocos, como
diria a Santa Madre Teresa: somos habitados por aquele que quer dar sentido
último e pleno à nossa existência.
O que dá valor às nossas ações é nossa reta
intenção.
O bem
e o mal que o outro faz são meus também.
Essa
bela realidade, que o outro faz parte de mim, só se descobre mediante a prática
do amor, que nos identifica com quem amamos.

Olhar
Dá-me, senhor, um olhar
livre,
Límpido e simples,
Que rompa as correntes
Do meu egoísmo
E abra as portas
De minha prisão,
De minha fácil e estreita
prisão.
Dá-me um olhar profundo
Que não se limite
A roçar as pessoas de modo
fugaz,
Dum jeito apressado.
Que seja meu olhar
Desarmado, sem vínculos e
atento.
Dá-me, Senhor, um olhar
Que ultrapasse a casca das
coisas
E penetre para além das
fachadas.
Um olhar explorador eu quero
Que chegue,  Senhor, no teu aposente,
No centro do ser
E, no centro, fixe teu
rosto,
No centro, fixe o rosto do
outro
E, nele, te veja e te adore
Senhor.
(Frei Pierino Orlandini,
OCD)
O amor é o fulcro, o centro, o coração da
vida e da doutrina de S. Teresinha
, em sua dupla vertente:
vertical e horizontal
. É claro que o amor fraterno em S. Teresinha tem como
razão básica e fundamental o próprio Deus. Amando a Deus, ama-se tudo o que é de
Deus e a Ele se refere: particularmente, os filhos de Deus, nossos irmãos de caminhada.
Antes de morrer, ela disse, como se fosse um
testamento por ela deixado para todos:” Só o amor conta”. Na
verdade, toda a sua vida foi um ato de amor que ela procurou viver, dar,
receber, realizar a cada instante, em cada palavra, em cada gesto, em cada pensamento.
Quis viver de amor e morrer de amor.
“Viver de amor é navegar sem cessar
Semeando paz, alegria em todos os corações.
Piloto amado, a caridade me incita
Pois te vejo nas almas, minhas irmãs.
A caridade, eis minha única estrela.
Á sua luz navego sem rodeios.
Minha vida está escrita na minha vela:
“Viver de amor” (16
de novembro de 1895)
S. Terezinha entende que o verdadeiro amor é
feito de pequenas coisas: ultrapassar o negativo, saber ver e apreciar o
positivo que existe em cada pessoa, não excluir ninguém do nosso convívio. E,
com a simplicidade e o realismo que lhe são próprios, indica-nos algumas normas
elementares para viver o amor evangélico.
“Compreendo agora que a caridade perfeita
consiste: a) em suportar os defeitos dos outros; b) em não se surpreender com
suas fraquezas; c) edificar-se com os menores atos de virtudes que as vemos
praticar; d) alegrar, amando, não somente os que nos são caros, mas todos os
que estão em casa, sem excluir ninguém.
Para que aumente em nós o verdadeiro amor
fraterno, faz-se necessário aumentar nosso amor para com Jesus,
identificando-nos sempre mais com seus sentimentos, ensinamentos, gestos. “Em
toda dinâmica comunitária, Cristo em seu mistério pascal permanece o modelo de
como se constrói a unidade. O mandamento do amor mútuo tem nele, de fato, a
fonte, o modelo, a medida: devemos amar-nos como ele nos amou. E Ele nos amou
até dar sua vida. Nossa vida é a participação da caridade de Cristo. Em seu amor
ao Pai e aos irmãos, um amor esquecido de si mesmo”
. (Vida fraterna
em comunidade, N. 21
).
A correção fraterna,
tão necessária para o crescimento pessoal e o crescimento de qualquer
comunidade de fé, não é coisa fácil. É preciso que se ame muito quem se quer corrigir,
que se queira verdadeiramente o bem dele. É interessar-se sadiamente pelo crescimento
do outro. No fundo, é amor que, quando existe de modo autêntico, se difunde, se
expande e, como suave perfume, enche a casa assim que, de certa maneira, todos
se sintam impulsionados a caminhar na santidade.
O amor fraterno, na prática e no ensinamento
de S. Teresinha, possui todas as características que São Paulo lhe atribui em
sua Carta ao Coríntios (1Cr 13).
Parafraseando o Apóstolo, podemos dizer que
em S. Teresinha o amor fraterno é sobrenatural, universal, encarnado, sem
interesses, paciente, indulgente, benevolente, operoso; é amável e alegre,
atencioso, delicado, humilde e generoso; é constante e incondicional. É o mesmo
amor de Jesus que ela vive e ensina a viver.
Que Deus nos conceda a graça de sermos fieis
e perseverantes, a exemplo de Maria, fiel discípula e missionária até o fim.
 

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