Santa Teresinha do Menino Jesus e a Santíssima Virgem Maria, um Relacionamento Filial

Autor: Frei Luis Filipe, ocd
Nas “últimas palavras” no “Caderno amarelo” da madre Inês de Jesus, descobrimos nos ditos de Teresa no dia 31 de Agosto, durante o período de “matinas” (meia-noite) este estranho dito à sua irmã de sangue e da vida religiosa, a madre Inês de Jesus: “Quem poderia ter inventado a Santa Virgem?”. Para um leitor desavisado esta exclamação fora de contexto poderia, até, abalar a sua fé, mas, para o mais atento poderia descobrir que Teresa se encontrava naquilo que é chamado na vida espiritual de “a noite escura do espírito” e que mostra como Deus purifica aqueles que mais ama, purificando-os, sobretudo, nas três grandes potências que Ele nos deu: a Fé, a Esperança e a Caridade. Aqui, vemos que Teresa está sendo purificada em sua Fé pela mão amorosa de Deus.
Notamos, contudo, que desde a infância de Teresa sempre houve um apego incondicional à Mãe de Deus e nossa. Vejamos, por exemplo, no poema, escrito por ela “Porque te amo, ó Maria” na estrofe 2;
“Para que um filho possa amar sua mãe,
Que ela chore com ele e partilhe suas dores …
Pois tu, querida Mãe, nestas plagas de exílio,
Quanto pranto verteste a fim de conquistar-me! …
Ao meditar tua vida escrita no Evangelho,
Ouso te contemplar e me acercar de ti;
Nada me custa crer que sou um de teus filhos,
Pois te vejo mortal e, como eu, sofredora”.
Notamos, assim, já esta aproximação que se afirma desde a declaração em que ela , em sua infância, estando possuída por uma doença estranha (de cunho nervoso-psicológico) é curada pela “Virgem do sorriso”: “Não encontrando socorro nenhum na terra a pobre Teresa apelou para a sua Mãe do Céu. Pedia-lhe de todo o coração que se compadecesse dela … de repente a Santíssima Virgem pareceu-me bonita, tão bonita, que nunca vira algo semelhante, seu rosto exalava uma bondade e uma ternura inefáveis, mas o que calou fundo em minha alma foi o “sorriso encantador da Santíssima Virgem”. Todas as minhas penas se foram naquele momento, sim, a “florzinha” ia renascer para a vida, o raio luminoso que a aquecera não ia parar com seus favores, não faz tudo de uma vez só, mas suavemente, docemente, levantou sua flor e a fortificou de tal forma que cinco anos mais tarde, desabrochava no Monte fértil do Carmelo”(História de uma alma, manuscrito (A). Ainda durante este tempo da infância notamos Teresa estudando na abadia das beneditinas e aí se tornar “filha de Maria”, isto é, pertencendo à “Legião de Maria” e , como era seu costume, ser bastante fiel ao que prometia.
Outra coisa que nos interessa aqui é a sua devoção substanciosa e esclarecida em relação à Mãe de Deus. Vejamos, então, num outro famoso exemplo: “…Pelo contrário, gosto muito das orações em comum, pois Jesus prometeu ficar no meio dos que se reúnem em nome Dele. Sinto, então, que o fervor das minhas irmãs supre o meu; sozinha(tenho vergonha de confessá-lo), a recitação do terço, custa-me mais do que usar um instrumento de penitência… sinto que o recito mal; mesmo fazendo esforço para meditar sobre os mistérios do rosário, não consigo fixar a minha mente… …Durante muito tempo , lastimei essa falta de devoção que me intrigava, pois amo tanto Nossa Senhora que deveria ser-me fácil recitar em honra dela orações que lhe agradam. Agora , lastimo menos, penso que por ser minha Mãe, a Rainha dos Céus deve perceber a minha boa vontade e se agradar com ela …”(História de uma alma, Manuscrito C).
Desta maneira, vemos que Teresa não corre atrás de quaisquer tipos de devoções, mas que a sua devoção é centrada sobre a Palavra de Deus e, portanto é assim que ela gostaria que a Virgem Santíssima fosse apresentada a todos, isso descobrimos, também num dos ditos feitos à madre Inês de Jesus:”…Como gostaria de ser padre para pregar sobre a Santa Virgem uma única vez teria sido suficiente para dizer tudo o que penso sobre o assunto … para que um sermão sobre a Santa Virgem me agrade e me faça bem, preciso ver a sua vida real e não sua suposta vida, e estou certa de que a sua vida real devia ser absolutamente simples. Ela é mostrada inatingível, seria preciso mostrá-la imitável, ressaltar as suas virtudes, dizer que vivia de Fé, como nós, dar provas disso por meio do Evangelho, onde lemos:”Eles não compreendiam o que lhes dissera” … sabe-se perfeitamente que a Santa Virgem é a Rainha do Céu e da terra, mas ela é mais Mãe do que Rainha… (“ultimas palavras” caderno amarelo dito de 21 de agosto). Notamos de forma bastante forte o sentido de filiação que existe em Teresa do Menino Jesus e Maria o que pode ficar comprovado pelo último bilhete que ela escreveu pouco antes de falecer de tuberculose e que reza assim “Se eu fosse a rainha do Céu”.
”Ó Maria, se eu fosse a rainha do Céu e vós fósseis Teresa, eu gostaria de ser
Teresa para que fosseis a Rainha do Céu!…8 de Setembro de 1897″.
Desta forma nos deparamos com o profundo e filial amor de Teresa para com a Virgem Santíssima e também nos mostra o quanto esse mesmo amor nos pode aproximar de Jesus, da Santíssima Trindade e… consequentemente dos irmãos.
Só devemos, pois, agradecer a santa Teresinha do Menino Jesus que com seu exemplo nos leva a Maria e, esta a Jesus. Ela a “onipotência suplicante”.