
O MEU CORPO MINHA IGREJA
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Frei Patrício Sciadini, ocd.
ESTOU sozinho na basílica de Santa Teresinha, no Cairo. Não falo ainda nada de árabe, só posso escutar com o silêncio, com os olhos e com o coração. Nem sempre é necessária a palavra para se comunicar. Uma vez escrevi que a palavra é a última e quem sabe pior maneira para se comunicar, é necessário que a palavra deixe de ser palavra e se faca carne, assim é no mistério de Deus, nem sempre aos homens e às mulheres foi compreensível a palavra que Deus lhes dirigia através da mediação dos profetas. Por isso que o Pai quis nos dizer a sua palavra definitiva na encarnação do seu filho Jesus.
Contemplando a basílica a comparei ao meu corpo, que é feito de muitos membros e todos eles comunicam-se reciprocamente. Uma igreja parece um corpo deitado silenciosamente. No centro está o coração onde sempre deveria ter o coração, que é o altar onde se imola em cada momento o Cordeiro Santo, que é o Cristo Jesus. É ele crucificado de braços abertos que não metem medo, mas estão esperando para nos abraçar na ternura do seu amor. O altar, o sacrário da igreja, deveriam ser iluminados, cheios de vida, floridos, com o doce perfume do incenso que sobe para o alto, como oração que o Senhor aceita de bom grado. A igreja sempre foi considerada um corpo vivo, não só pelo apóstolo Paulo, mas sim pelo mesmo Jesus que nos fala do seu corpo que será pedra angular, que foi rejeitada pelos construtores mas que agora, na nova comunidade não fundada mais sobre a lei mas sobre o amor, a pedra fundamental não será mais as duas tabuas de pedra recebida por Moises mas sim o mesmo corpo vivo de Cristo.
Não sei como alguns exegetas podem avançar a hipótese de que Jesus não fundou a Igreja. Se não for ele, quem foi que deu vida à nova comunidade, a Igreja nova, feita de pedras vivas de quem mais tarde nos falará o apóstolo Pedro? A contemplação da igreja nos chama a contemplar outra Igreja santa, um outro templo vivo que somos nós, o nosso corpo. “Não sabeis vós que sois templos vivos do Espírito Santo?” nos interroga e confirma o apóstolo Paulo. No nosso corpo somos chamados a viver com intensidade a vida da plenitude de Jesus.
Em todos os povos tem permanecido de pé os grandes templos e igrejas que foram construídas como manifestação de fé e de amor a Deus. Não há povo que não se tenha tirado o pão da boca para construir igrejas. O ser humano tem tido capacidade de idealizar belíssimas catedrais, templos estupendos e adorná-los com pedras preciosas, mas nem sempre tem sido capaz de construir uma humanidade mais fraterna. É a hora de acreditar que o verdadeiro templo em que o Pai quer ser adorado não será só de pedras, mas sim de gente. O verdadeiro templo é o corpo humano que, se viver segundo os ensinamentos de Cristo, ressuscitará um dia glorioso.
Meu corpo é a minha igreja onde devo entrar todos os dias, permanecer nela silenciosamente, vigiando para que as tempestades e os furacões do mal não o destruam. O meu corpo igreja santa de Deus não pode ser contaminado, deve ser mantido pronto para ser imolado como oferta agradável ao Senhor, junto com os corpos de tantos irmãos.
Veja se você também consegue entrar na basílica do seu corpo e contemple o Deus que vive em você. Não tenha medo de sua pobreza, de suas telhas quebradas e nem da sujeira que dói encontrar. É sempre possível reconstruir o seu templo, a sua igreja, com os tijolos não de barro, mas feitos de amor e de perdão. Olhe também as “igrejas-corpos” dos seus irmãos e coopere para sua edificação e não para sua destruição. Meu corpo, minha igreja, é com ele e nele que devo aprender, junto com os outros, a amar e viver não no individualismo, mas na comunhão a minha vida de cada dia, cantado os louvores do Senhor que nenhuma igreja poderá parar de cantar.