9. DIA: (Ch 3, 18-69)
Continuando com o terceiro e quarto versos da canção três, o poeta nos diz:
As profundas cavernas dos sentidos!
Essas cavernas de que fala São João da Cruz são as potências da alma: a memória, o entendimento e a vontade, deste modo, elas têm um sentido relacionado diretamente ao ser humano. Mas essas não são as únicas cavernas dos escritos do Santo Padre, outras cavernas aparecem no Cântico Espiritual (37, 3) e têm um forte valor cristológico, pois significam os mais altos e profundos mistérios da sabedoria de Deus que está em Cristo.
As cavernas iluminadas da alma, conforme compara São João da Cruz: “é como o sol quando, de cheio, investe totalmente no mar e ilumina até mesmo as profundezas e as cavernas, tornando-as semelhantes a pérolas e ouro riquíssimos […], então esse sol divino do Esposo traz à tona as riquezas da alma, das quais até os anjos se maravilham” (CB 20,14).
Na Chama, não apenas se descobrem as riquezas da alma, como também chega-se a revelar a infinidade de que são capazes as potências, isto é, de se comunicarem com o próprio Deus. No processo espiritual, nosso entendimento é purificado para poder se unir a Deus pela fé; nossa memória é purificada para poder se unir a Deus pela esperança e nossa vontade é purificada para poder se unir a Deus pelo amor, como nos explica são João da Cruz: “Quanto à primeira caverna, que é o entendimento, o seu vazio é sede de Deus. […] E esta sede é das águas da sabedoria de Deus, objeto do entendimento. A segunda caverna é a vontade e seu vazio é fome de Deus tão grande que faz a alma desfalecer. […]
E esta fome é da perfeição de amor que a alma pretende. A terceira caverna é a memória; o seu vazio leva a alma a desfazer-se e derreter-se pela posse de Deus. Profunda é, pois, a capacidade destas cavernas, porquanto nelas só pode caber o que é profundo e infinito, ou seja, o mesmo Deus.
Assim, de certo modo, a sua capacidade será infinita; sua sede, também infinita; sua fome, igualmente profunda e infinita.” (Ch 3, 19-22).