A Paixão – Sonetos em Sequência de Frei César Cardoso, OCD

A Paixão – Sonetos em Sequência de Frei César Cardoso, OCD

A PAIXÃO 


“Cristo crucificado entre dois ladrões”, 
pintura de Peter Paul Rubens

                   I     

O último suspiro na cruz destes,

A última gotícula gotejastes,

A última palavra vós dissestes,

Por último, ao alto vós olhastes.

Na cruz tua dor última sentistes,

O último movimento operastes,

O último sentimento distinguistes,

O último diálogo vós travastes.

Aquele por quem tudo foi bem feito,

Fez tudo o que tinha que fazer,

Em nada do que fez deixou defeito.

É próprio do amor nada reter,

Dar tudo e do modo mais perfeito

E à última fibra se perder.

                         II

Na cruz tuas promessas realizas,

Antigas predições são acabadas,

Antigas profecias são cumpridas,

E todas as empresas praticadas.

As fases todas foram suplantadas,

Os passos todos foram executados,

As falas todas foram declaradas,

E todos os sinais efetivados.

O cálice inteiro foi bebido,

E todos os combates encarados.

O amor inteiramente foi vivido.

Pois todos os sermões foram pregados,

E todo o sofrimento padecido,

Ao fim esteve tudo consumado.

                         III

No lenho tudo foi finalizado,

As tuas sensações enfraquecidas,

Os sonhos foram todos realizados,

E todas as estradas percorridas.

Na cruz as trevas foram dissipadas,

E todos os demônios encolhidos,

As forças foram bem desafiadas,

E todos os poderes combalidos.

A espera não foi desiludida,

Os velhos sacrifícios são passados,

E toda, qualquer dúvida dirimida.

Foi todo imperfeito, aperfeiçoado,

Foi cada incompletude concluída,

Foi tudo feito, dito e consumado.

                        Frei César Cardoso, ocd

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