IMPRESSÕES SOBRE A PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO CARMO
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IMPRESSÕES SOBRE A PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO CARMO
Frei
Mariano Júnior, ocd
Mariano Júnior, ocd
Hoje completam quatro dias que me
encontro em Itabaiana. Itabaiana é a segunda ou terceira maior cidade do menor
estado da federação: Sergipe. Sua população é pouco mais de 91 mil habitantes;
pertence à arquidiocese de Aracaju. É a última cidade antes do chamado sertão
de Sergipe. Quem vem do sertão sergipano quase que necessariamente passa por
Itabaiana
encontro em Itabaiana. Itabaiana é a segunda ou terceira maior cidade do menor
estado da federação: Sergipe. Sua população é pouco mais de 91 mil habitantes;
pertence à arquidiocese de Aracaju. É a última cidade antes do chamado sertão
de Sergipe. Quem vem do sertão sergipano quase que necessariamente passa por
Itabaiana
A cidade é conhecida como a
cidade dos caminhoneiros. Por aqui passam
caminhões de várias partes do país. E com isso vem também os desafios: houve época em que se
dizia que aqui era forte o roubo – não só de cargas, mas também de caminhões.
Ouvi de dentro da Fazenda Esperança – em Marechal Deodoro – que ao lado de um
posto policialhá pouco tempo foi desbaratada uma oficina de desmanche. Ouvi
também da boca de um dos que lá se encontram que Itabaiana era a única cidade do
Brasil em que foi proibido por lei municipal de os motociclistas pilotarem com
o capacete.
cidade dos caminhoneiros. Por aqui passam
caminhões de várias partes do país. E com isso vem também os desafios: houve época em que se
dizia que aqui era forte o roubo – não só de cargas, mas também de caminhões.
Ouvi de dentro da Fazenda Esperança – em Marechal Deodoro – que ao lado de um
posto policialhá pouco tempo foi desbaratada uma oficina de desmanche. Ouvi
também da boca de um dos que lá se encontram que Itabaiana era a única cidade do
Brasil em que foi proibido por lei municipal de os motociclistas pilotarem com
o capacete.
Se verdade ou não, fato é que a
fama de violência na cidade é grande. Isso em nível geral, mas não escapa à
Paróquia Nossa Senhora do Carmo que se encontra na periferia da cidade, num
bairro denominado São Cristóvão, mas conhecido como a paróquia da Invasão.
fama de violência na cidade é grande. Isso em nível geral, mas não escapa à
Paróquia Nossa Senhora do Carmo que se encontra na periferia da cidade, num
bairro denominado São Cristóvão, mas conhecido como a paróquia da Invasão.
“Paróquia da Invasão” porque,
segundo o moto-táxi que me levou ao convento, as casas foram construídas pelo
governo para serem vendidas a preço popular para o povo. Mas, uma vez prontas e
somada a demora em liberar para a população, a mesma população sofrida se sentiu
no direitode ocupar aquilo que lhe era destinada. Assim a região ficou
conhecida como a ‘invasão’, e a paróquia, como ‘Paróquia da Invasão’.
segundo o moto-táxi que me levou ao convento, as casas foram construídas pelo
governo para serem vendidas a preço popular para o povo. Mas, uma vez prontas e
somada a demora em liberar para a população, a mesma população sofrida se sentiu
no direitode ocupar aquilo que lhe era destinada. Assim a região ficou
conhecida como a ‘invasão’, e a paróquia, como ‘Paróquia da Invasão’.
O clima é bom, muito bom. Não é
tão quente como o de Marechal Deodoro. Esta, por sua vez, é aliviada pela brisa
do mar, que, como canta o poeta nordestino,não se cansa de beijar e balançar as
vagas do mar. A cidade de Itabaiana não tem mar, e consequentemente não possui
os beijos da brisa marítima; no entanto, é aconchegada pela Serra de Itabaiana
com um frescor todo especial, serra que traz em si a proteção de um Parque
Nacional.
tão quente como o de Marechal Deodoro. Esta, por sua vez, é aliviada pela brisa
do mar, que, como canta o poeta nordestino,não se cansa de beijar e balançar as
vagas do mar. A cidade de Itabaiana não tem mar, e consequentemente não possui
os beijos da brisa marítima; no entanto, é aconchegada pela Serra de Itabaiana
com um frescor todo especial, serra que traz em si a proteção de um Parque
Nacional.
Em quatro dias que aqui cheguei,
presidi apenas uma vez na eucaristia, assim mesmo foi fora da paróquia. O
antigo pároco deixou a impressão de que não queria muito a presença dos
religiosos na diocese. Isso percebi quando, no dia em que fui celebrar missa, sozinho
com ele em seu carro, falou-me que na diocese há mais de 120 padres e pouco mais
de 90 paróquias. E que havia mais padres diocesanos que paróquias, e que, fora
os carmelitas, havia cerca de 10 congregações masculinas prestando assistência
na diocese. Enfim, utilizando suas palavras, ‘os religiosos estavam tomando o
emprego dos diocesanos’.
presidi apenas uma vez na eucaristia, assim mesmo foi fora da paróquia. O
antigo pároco deixou a impressão de que não queria muito a presença dos
religiosos na diocese. Isso percebi quando, no dia em que fui celebrar missa, sozinho
com ele em seu carro, falou-me que na diocese há mais de 120 padres e pouco mais
de 90 paróquias. E que havia mais padres diocesanos que paróquias, e que, fora
os carmelitas, havia cerca de 10 congregações masculinas prestando assistência
na diocese. Enfim, utilizando suas palavras, ‘os religiosos estavam tomando o
emprego dos diocesanos’.
Fato é que ele foi convidado pelo
bispo a deixar a paróquia e assumir outra. Aqui deixou após um sexênio de zelo
pela ‘igreja pedra’. ‘Zelo pela igreja pedra’ é linguajar dele. Partilhou que
trabalhou muito a ‘igreja pedra e muito pouco a igreja povo’. E fez bem o seu trabalho. A casa é imensa,
muito grande. É verdade que não foi ele o idealizador, mas um padre que no passado
esperava ser bispo, e querendo fazer daqui um seminário, construiu ‘casa
paroquial’ pensando num seminário.
bispo a deixar a paróquia e assumir outra. Aqui deixou após um sexênio de zelo
pela ‘igreja pedra’. ‘Zelo pela igreja pedra’ é linguajar dele. Partilhou que
trabalhou muito a ‘igreja pedra e muito pouco a igreja povo’. E fez bem o seu trabalho. A casa é imensa,
muito grande. É verdade que não foi ele o idealizador, mas um padre que no passado
esperava ser bispo, e querendo fazer daqui um seminário, construiu ‘casa
paroquial’ pensando num seminário.
E por aqui passaram vários
padres, segundo antigo pároco e alguns paroquianos com quem conversei. Alguns,
não sei se maioria, deixaram o ministério, seja para edificar família, seja
para dedicar ao povo de Deus na política. Fato é que foram três ou quatro
padres, antes da vinda do último pároco.
padres, segundo antigo pároco e alguns paroquianos com quem conversei. Alguns,
não sei se maioria, deixaram o ministério, seja para edificar família, seja
para dedicar ao povo de Deus na política. Fato é que foram três ou quatro
padres, antes da vinda do último pároco.
Se a ‘Igreja pedra’ está bem
trabalhada, o mesmo não se pode dizer da ‘Igreja Povo de Deus’. Pastoralmente,
ou melhor, ‘movimentalmente’- isto porque
Movimento é diferente de Pastoral – na Paróquia se reúnem: ‘Apostolado
da Oração, Legião de Maria, Terço, Armada branca (=terço de crianças) e
Catequese. Há também uma missa muito frequentada – talvez mais pelo pessoal de
fora que dos da paróquia, chamada ‘missa da misericórdia’. No mais, pelo menos
na matriz, nada mais há, fora as missas dominicais. Há também nove capelas no
território paroquial que requer assistência do padre.
trabalhada, o mesmo não se pode dizer da ‘Igreja Povo de Deus’. Pastoralmente,
ou melhor, ‘movimentalmente’- isto porque
Movimento é diferente de Pastoral – na Paróquia se reúnem: ‘Apostolado
da Oração, Legião de Maria, Terço, Armada branca (=terço de crianças) e
Catequese. Há também uma missa muito frequentada – talvez mais pelo pessoal de
fora que dos da paróquia, chamada ‘missa da misericórdia’. No mais, pelo menos
na matriz, nada mais há, fora as missas dominicais. Há também nove capelas no
território paroquial que requer assistência do padre.
Digo de nota é o projeto ‘nossa
mesa’, ligado ao SESC e que, por duas ou até mais vezes por semana distribui
alimentos às famílias mais necessitadas, todas cadastradas. Funciona nas
dependências da matriz. Se é trabalho voluntário ou não, não me inteirei; mas
fato é que muito contribui para a subsistência dos mais carentes da zona
denominada ‘invasão’.
mesa’, ligado ao SESC e que, por duas ou até mais vezes por semana distribui
alimentos às famílias mais necessitadas, todas cadastradas. Funciona nas
dependências da matriz. Se é trabalho voluntário ou não, não me inteirei; mas
fato é que muito contribui para a subsistência dos mais carentes da zona
denominada ‘invasão’.
Algo, no entanto, acontece aqui
que não vi em lugar algum, embora tenha quase duas décadas de ordenado. Aqui há
uma ou duas funcionárias que são pagas pela prefeitura. Segundo meu confrade, alguns
dos coordenadores de comunidadestêm laços muito fortes com os políticos. Outro
fenômeno que observei é que a igreja matriz fica aberta apenas na parte da
manhã, com uma secretária (?) que trabalha apenas meio horário; secretária que
é funcionária da prefeitura (?).
que não vi em lugar algum, embora tenha quase duas décadas de ordenado. Aqui há
uma ou duas funcionárias que são pagas pela prefeitura. Segundo meu confrade, alguns
dos coordenadores de comunidadestêm laços muito fortes com os políticos. Outro
fenômeno que observei é que a igreja matriz fica aberta apenas na parte da
manhã, com uma secretária (?) que trabalha apenas meio horário; secretária que
é funcionária da prefeitura (?).
E o povo? Sem deixar de ser
detalhes, o povo é acolhedor. Como nos recorda o evangelho, joio e trigo
caminham juntos até a época da colheita em que o Dono da Messe virá separar o que
lhe pertence. Para quem se sente chamado
a ser discípulo missionário, trabalho é que não falta. O discípulo missionário
não precisará se preocupar com estrutura. Há ‘benfeitores’ de peso na cidade,
principalmente os ‘devotos da missa da misericórdia’, onde é grande a
frequência dos empresários, dizem.
detalhes, o povo é acolhedor. Como nos recorda o evangelho, joio e trigo
caminham juntos até a época da colheita em que o Dono da Messe virá separar o que
lhe pertence. Para quem se sente chamado
a ser discípulo missionário, trabalho é que não falta. O discípulo missionário
não precisará se preocupar com estrutura. Há ‘benfeitores’ de peso na cidade,
principalmente os ‘devotos da missa da misericórdia’, onde é grande a
frequência dos empresários, dizem.
Estranhou-me o fato de o padre
antecessor partilhar que, quando aqui chegou há seis anos, veio substituir um
padre muito querido, alguém que poderia se qualificado, ao nosso limitado entender,
como ‘pastor com cheiro de ovelhas’. E o ‘cheiro de ovelhas’ era tão forte que,
segundo o padre, trazia para a casa paroquial quem se encontrava caído à beira
do caminho, ou seja, todos os tipos de ovelhas machucadas, a saber,
prostitutas, travestis, bêbados, dependentes químicos. Com isso, achegava-se também à casa todo tipo
de bandidagem. Assim, muitas portas tiveram fechaduras arrombadas, danificadas.
Razão pela qual, em seus primeiros tempos de paróquia, dormisse nunca sozinho,
mas sempre acompanhado de um revólver.
antecessor partilhar que, quando aqui chegou há seis anos, veio substituir um
padre muito querido, alguém que poderia se qualificado, ao nosso limitado entender,
como ‘pastor com cheiro de ovelhas’. E o ‘cheiro de ovelhas’ era tão forte que,
segundo o padre, trazia para a casa paroquial quem se encontrava caído à beira
do caminho, ou seja, todos os tipos de ovelhas machucadas, a saber,
prostitutas, travestis, bêbados, dependentes químicos. Com isso, achegava-se também à casa todo tipo
de bandidagem. Assim, muitas portas tiveram fechaduras arrombadas, danificadas.
Razão pela qual, em seus primeiros tempos de paróquia, dormisse nunca sozinho,
mas sempre acompanhado de um revólver.
Hoje, pela segunda vez – há
quatro dias aqui me encontro! – resolvi visitar o lado direito da paróquia,
isto é, o pessoal da ‘invasão’; visitar mais o lugar que o pessoal propriamente
dito. Algumas pessoas – na verdade menos que meia dúzia! – me aconselharam a
não ir, pois consideram a região perigosa.
Tão perigosa, que um dos grupos da Legião de Maria resolveu trocar o
horário de reunião da noite para tarde a fim de evitar possíveis encontros com pessoas
não desejáveis; algumas legionárias optaram em não fazer a visita legionária na
região mais afastada, pois, ali o ‘perigo’ ronda com mais frequência.
quatro dias aqui me encontro! – resolvi visitar o lado direito da paróquia,
isto é, o pessoal da ‘invasão’; visitar mais o lugar que o pessoal propriamente
dito. Algumas pessoas – na verdade menos que meia dúzia! – me aconselharam a
não ir, pois consideram a região perigosa.
Tão perigosa, que um dos grupos da Legião de Maria resolveu trocar o
horário de reunião da noite para tarde a fim de evitar possíveis encontros com pessoas
não desejáveis; algumas legionárias optaram em não fazer a visita legionária na
região mais afastada, pois, ali o ‘perigo’ ronda com mais frequência.
E pensando nas atitudes o Mestre,
olhando sempre a sua humanidade, Ele que ‘desceu aos infernos para resgatar os
que lá se encontravam’, resolvi não obedecer aos que me aconselharam. Com certo
receio – o novo parece sempre causar medo ou insegurança! – , venci a mim mesmo
e segui pela direita da frente da Igreja. De frente a um asilo, que segundo
frei Claudiano é uma obra da paróquia vizinha, fui aconselhado por mais dois
senhores com quem puxei conversa para não seguir adiante. Mas não lhes dei ouvidos, fui até o final da
rua calçada e onde havia poste de luz na rua. Depois adentrei, ainda que
rapidamente, para o interior. As casas que vi são de alvenaria. Não é favela
como se vê no sudeste. São casas, pelo menos por fora, boas, embora sejam
pequenas e pobres. Encontrei com muitas crianças brincando na rua, em frente
das casas. Descobri uma praça no interior do povoado; praça sem árvores, cimentada
e com bancos. Encontrei um pequeno grupo de crianças correndo na praça.
Estranhei, pois, esperava maior número. Cruzei com alguns adolescentes a pé e
alguns que passaram por mim com motos.
Motos com 50 ou 100 cilindradas, daquelas que não precisam de placas ou
Permissão para conduzi-las. Sem me deter muito no olhar, percebi que os olhos
de muitos desses adolescentes pareciam denunciar que consomem drogas. Mas quase
não trocamos palavras, exceto com um ou outro uma ‘boa tarde’. Isso porque
quando saí de casa para visitar o ‘povo de Deus’ era mais ou menos 17 horas.
olhando sempre a sua humanidade, Ele que ‘desceu aos infernos para resgatar os
que lá se encontravam’, resolvi não obedecer aos que me aconselharam. Com certo
receio – o novo parece sempre causar medo ou insegurança! – , venci a mim mesmo
e segui pela direita da frente da Igreja. De frente a um asilo, que segundo
frei Claudiano é uma obra da paróquia vizinha, fui aconselhado por mais dois
senhores com quem puxei conversa para não seguir adiante. Mas não lhes dei ouvidos, fui até o final da
rua calçada e onde havia poste de luz na rua. Depois adentrei, ainda que
rapidamente, para o interior. As casas que vi são de alvenaria. Não é favela
como se vê no sudeste. São casas, pelo menos por fora, boas, embora sejam
pequenas e pobres. Encontrei com muitas crianças brincando na rua, em frente
das casas. Descobri uma praça no interior do povoado; praça sem árvores, cimentada
e com bancos. Encontrei um pequeno grupo de crianças correndo na praça.
Estranhei, pois, esperava maior número. Cruzei com alguns adolescentes a pé e
alguns que passaram por mim com motos.
Motos com 50 ou 100 cilindradas, daquelas que não precisam de placas ou
Permissão para conduzi-las. Sem me deter muito no olhar, percebi que os olhos
de muitos desses adolescentes pareciam denunciar que consomem drogas. Mas quase
não trocamos palavras, exceto com um ou outro uma ‘boa tarde’. Isso porque
quando saí de casa para visitar o ‘povo de Deus’ era mais ou menos 17 horas.
Interessante que no interior da
‘invasão’ encontrei uma igreja pentecostal, Igreja Pentecostal Fogo de Amor. Na
porta da igreja, que se localizava numa garagem, estava o pastor. Como se encontrava
na porta,resolvi aproximar e puxar conversa. Havia uma ou duas pessoas no
interior preparando o som e cadeiras para o culto, que se daria às 19 horas.
Conversamos pouco, foi a segunda vez que parei e puxei conversa. A primeira vez
foi quando perguntando por uma obra a dois senhores, eles me aconselharam não
seguir adiante, pois era ‘perigoso’. Com o pastor não houve esse tipo de
aconselhamento. Trocamos palavras a respeito da vida e do Reino e, após
cordiais contatos e apresentações, me despedi.
‘invasão’ encontrei uma igreja pentecostal, Igreja Pentecostal Fogo de Amor. Na
porta da igreja, que se localizava numa garagem, estava o pastor. Como se encontrava
na porta,resolvi aproximar e puxar conversa. Havia uma ou duas pessoas no
interior preparando o som e cadeiras para o culto, que se daria às 19 horas.
Conversamos pouco, foi a segunda vez que parei e puxei conversa. A primeira vez
foi quando perguntando por uma obra a dois senhores, eles me aconselharam não
seguir adiante, pois era ‘perigoso’. Com o pastor não houve esse tipo de
aconselhamento. Trocamos palavras a respeito da vida e do Reino e, após
cordiais contatos e apresentações, me despedi.
Refleti comigo: tem razão de o
catolicismo está perdendo adeptos. Muitos líderes religiosos católicos não se
misturam com o povão, pois tem medo daqueles por quem Jesus deu a vida.Pensei: certo
está o papa que não se cansa de exortar a Igreja a deixar a pastoral de
manutenção para abraçar a pastoral de ‘missão’. Indaguei a mim mesmo pensando
na igreja: “será possível passar de uma pastoral (de manutenção) a outra (de
missão) e viver numa segurança estrutural com muros altos, cercas elétricas, portões
e janelas com grades e cadeados? Por fim, conclui refletindo comigo mesmo: há
momentos que dizemos que ‘damos tudo para Deus,professamos votos de pobreza, castidade
e obediência para mais livres servir a Deus e seu Reino, e, no entanto,[ sem
querer julgar, mas só constatando e refletindo,] parece não sermos capazes de ‘ir
aos confins do mundo e ensinar tudo aquilo que Jesus ensinou’, pois não estamos
dispostos a sair de nosso comodismo e segurança. E os poucos que se dizem ‘sair
para servir’ – há exceções, graças a Deus! – fazem tantas exigências que é
preciso de uma ‘baita estrutura econômica’ para manter o missionário, ‘homem de
Deus’. Enfim, concluí que vivemos para nós e não para os outros. E fazemos isso
em nome de Deus”.
catolicismo está perdendo adeptos. Muitos líderes religiosos católicos não se
misturam com o povão, pois tem medo daqueles por quem Jesus deu a vida.Pensei: certo
está o papa que não se cansa de exortar a Igreja a deixar a pastoral de
manutenção para abraçar a pastoral de ‘missão’. Indaguei a mim mesmo pensando
na igreja: “será possível passar de uma pastoral (de manutenção) a outra (de
missão) e viver numa segurança estrutural com muros altos, cercas elétricas, portões
e janelas com grades e cadeados? Por fim, conclui refletindo comigo mesmo: há
momentos que dizemos que ‘damos tudo para Deus,professamos votos de pobreza, castidade
e obediência para mais livres servir a Deus e seu Reino, e, no entanto,[ sem
querer julgar, mas só constatando e refletindo,] parece não sermos capazes de ‘ir
aos confins do mundo e ensinar tudo aquilo que Jesus ensinou’, pois não estamos
dispostos a sair de nosso comodismo e segurança. E os poucos que se dizem ‘sair
para servir’ – há exceções, graças a Deus! – fazem tantas exigências que é
preciso de uma ‘baita estrutura econômica’ para manter o missionário, ‘homem de
Deus’. Enfim, concluí que vivemos para nós e não para os outros. E fazemos isso
em nome de Deus”.
Voltei, então, para casa, pedindo
perdão a Deus e misericórdia por todos nós, principalmente nós que recebemos
pela imposição das mãos de um sucessor dos apóstolos o ‘encargo’- diga-se múnus – de ‘reger, governar e ensinar’ o
povo de Deus.
perdão a Deus e misericórdia por todos nós, principalmente nós que recebemos
pela imposição das mãos de um sucessor dos apóstolos o ‘encargo’- diga-se múnus – de ‘reger, governar e ensinar’ o
povo de Deus.
Antes de chegar a casa, puxei
conversa com uma senhora que estava com a camisa estampada com a imagem de
Nossa Senhora do Carmo, paroquiana, frequentadora da igreja. E desta conversa,
ofereceu-me um copo de café, que tomei na calçada mesmo. Louvei e agradeci a
Deus, e pedi a Ele que não se esquecesse de recompensá-la pelo café, Ele que
prometeu não deixar sem paga a quem desse um copo de água em seu nome.
conversa com uma senhora que estava com a camisa estampada com a imagem de
Nossa Senhora do Carmo, paroquiana, frequentadora da igreja. E desta conversa,
ofereceu-me um copo de café, que tomei na calçada mesmo. Louvei e agradeci a
Deus, e pedi a Ele que não se esquecesse de recompensá-la pelo café, Ele que
prometeu não deixar sem paga a quem desse um copo de água em seu nome.
Itabaiana, 12 de fevereiro de
2015.
2015.
Frei Mariano Júnior,ocd
Observação: o texto foi lido e aprovado por frei Claudiano,
futuro pároco da Paróquia de Itabaiana, que aqui chegou uma semana antes de
mim. Embora com muitíssimo pouco tempo
de estadia aqui, temos consciência de que nossas impressões são por demasiadas
limitadas. Nós confabulamos e chegamos a seguinte conclusão interpessoal, com a
consciência de que cada comunidade tem o seu perfil próprio e depende do estado
de espírito de cada membro que a compõem.
Acreditamos que cada membro da comunidade deve ter claro para si mesmo o
porquê aqui veio. Diante dessa pergunta duas são as possíveis respostas: ou
para servir o povo de Deus (pastoral de missão) ou para ser servido pelo povo
de Deus (pastoral de manutenção). Sendo assim, projetamos:
futuro pároco da Paróquia de Itabaiana, que aqui chegou uma semana antes de
mim. Embora com muitíssimo pouco tempo
de estadia aqui, temos consciência de que nossas impressões são por demasiadas
limitadas. Nós confabulamos e chegamos a seguinte conclusão interpessoal, com a
consciência de que cada comunidade tem o seu perfil próprio e depende do estado
de espírito de cada membro que a compõem.
Acreditamos que cada membro da comunidade deve ter claro para si mesmo o
porquê aqui veio. Diante dessa pergunta duas são as possíveis respostas: ou
para servir o povo de Deus (pastoral de missão) ou para ser servido pelo povo
de Deus (pastoral de manutenção). Sendo assim, projetamos:
Quem aqui vier morar e chegar com o espírito missionário de
quem quer fazer comunidade de partilha, de vida, de doação ao outro e serviço –
pois o missionário é sempre um servo que se imola para o outro – há de
encontrar ambiente propício na paróquia, pois há uma estrutura – embora a casa
seja grande – que possibilita a manutenção dos frades que não queiram levar
vida ociosa e não são muitos exigentes para si mesmos. A manutenção viria de
esportulas de missas, dízimos (a trabalhar) e cursos).
quem quer fazer comunidade de partilha, de vida, de doação ao outro e serviço –
pois o missionário é sempre um servo que se imola para o outro – há de
encontrar ambiente propício na paróquia, pois há uma estrutura – embora a casa
seja grande – que possibilita a manutenção dos frades que não queiram levar
vida ociosa e não são muitos exigentes para si mesmos. A manutenção viria de
esportulas de missas, dízimos (a trabalhar) e cursos).