5o DOMINGO DA QUARESMA

Já estamos no  quinto domingo da quaresma, temos mais um trecho do evangelho de João. Essa passagem aparece apenas no Evangelho dele e faz parte do discurso público final de Jesus antes da sua paixão que começa em João 12. É a referencia que a hora de Jesus chegara. O evangelho de João, do começo ao fim enfatiza a hora de Jesus. É bom entendermos que Jesus se refere a sua paixão como a sua hora,. Ele usa “minha hora” para significar o momento da salvação na história.

Vejamos o que diz o Evangelho de hoje em Jo 12, 20-33:

“Entre os que tinham ido adorar a Deus na festa da Páscoa, estavam alguns gregos.

21Eles se aproximaram de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, disseram: “Senhor, queremos ver Jesus”.

22Filipe combinou com  André, e os dois juntos o disseram a Jesus.

23Jesus respondeu: “Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem.

24Digo verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas, se morrer, dará muito fruto.

25Aquele que ama a sua vida a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo a conservará para a vida eterna.

26Quem me serve precisa seguir-me; e, onde estou, o meu servo também estará. Aquele que me serve, meu Pai o honrará.

27Agora meu coração está perturbado, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não; eu vim exatamente para isto, para esta hora.

28Pai, glorifica o teu nome! Então veio uma voz do céu: “Eu já o glorifiquei e o glorificarei novamente”.

29A multidão que ali estava e a ouviu disse que tinha trovejado; outros disseram que um anjo lhe tinha falado.

30Jesus disse: “Esta voz veio por causa de vocês e não por minha causa.

31Chegou a hora de ser julgado este mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.

32Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”.

33Ele disse isso para indicar o tipo de morte que haveria de sofrer.”

Nesse evangelho Deu Pai fala pela terceira vez no ministério público de Jesus. O Pai falou no batismo, na transfiguração e agora serão as últimas palavras do Pai do Céu: “eu o glorifiquei e o glorificarei de novo.”

Isso se passou na festa da páscoa, na peregrinação do povo a Jerusalém. Centenas de judeus iam a essa festa. João diz algo a mais aqui: “havia um gregos que foram adorar.” Aqui significa que pagãos, não judeus, acreditavam no Deus dos judeus e quiseram celebrar com eles, adorar o Deus de Israel.

No mesmo instante em que Jesus ouve que os apóstolos o procuravam, ele declara: “É chegada a hora do filho do homem ser glorificado.” Vamos lembrar que nos capítulos anteriores de João, Jesus vinha dizendo: “minha hora ainda não chegou.” Lembremos das bodas de Caná, que Jesus diz a sua mãe que sua hora ainda não havia chegado. Mas, na hora que os apóstolos o buscam, a hora da paixão, a hora da última ceia, a hora da redenção do mundo é chegada!

Os profetas do antigo testamento disseram muitas vezes que um dos sinais messiânicos seria a conversão dos pagãos.  O livro de Zacarias 8, 23, descreve os gentios dizendo: “virão muitas e poderosas nações buscar o Senhor dos exércitos em Jerusalém e implorar a face do Senhor. Naquele dia tomarão um judeu pela orla do seu manto e dirão: queremos ir ter convosco porque soubemos que Deus está convosco.” Isaías 2 e Miquéias 4 diriam sobre isso que não só a Palavra de Deus sairia de Sião mas que as nações viriam a Jerusalém para começar a adorar o verdadeiro Deus. Assim, o que Jesus vê nesses gregos que querem estar com ele é um sinal que o tempo das nações chegara, porque os gentios estavam se convertendo. Ele faz desse momento o começo de sua hora, o tempo de ser glorificado. O tempo chegou!

No antigo testamento a glorificação de Deus era uma maneira de dar glórias  ao Senhor. Aqui Jesus usa a expressão glorificar para expressar sua Paixão e morte, de maneira que sua paixão e morte seriam o último ato de louvor e glória a Deus.

Para ilustrar tudo isso ele faz um tipo de comparação com a semente que cai na terra: “se o grão de trigo caído na terra não morrer fica só. Se morrer produz muito fruto.” Jesus é como esse grão de trigo. Jesus então deve morrer e ser enterrado antes de ressuscitar e dar o fruto da vida eterna. Jesus faz uma declaração mais explícita ainda: “quem ama sua vida, perdê-la-á. Mas quem odeia sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna.” O que significa odiar sua vida neste mundo? Não é uma murmuração quando não se está feliz! A palavra odiar no Antigo Testamento é termo usado para separar você de alguém. É uma hipérbole que define desapego. É como quando Jesus disse: “se você ama seu pai mais que a mim, não é digno de mim.” Você não deve apegar-se a esta vida, não deve tê-la como fim único mas, se você entrega sua vida a Jesus, você terá a vida eterna como prioridade. E  Jesus será o supremo exemplo disso: ela não se apegou a sua vida humana mas se entregou à cruz para cumprir a vontade do Pai.

No versículo 26  ele completa: “se alguém quer me servir, siga-me e onde eu estou, estará também meu servo.” É equivalente ao que Jesus diz nos evangelhos sinóticos: “quem quer me seguir, tome sua cruz e siga-me.”

Os próximos versículos nos introduzem na hora, na hora de Jesus. Isso nos lembra o Jardim do Getsêmani, mas a ênfase é diferente. Jesus aqui nos diz: “agora sinto-me angustiado e que direi? Pai, livra-me dessa hora? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai glorifica o teu nome!” Jesus declara aqui que não vai fugir da hora. Ele aceita e declara isso. Então o Pai fala: “já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo.” e o que o Pai quer dizer com isso? É uma referencia aos dois maiores momentos da salvação: a encarnação e a paixão! São dois pilares do credo: nascimento de Jesus, sua morte, paixão e ressureição, Natal e Páscoa.

Se voltarmos ao início do Evangelho de João ele diz: “A Palavra se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória.” Existe uma glória na encarnação e outra glória quando o filho de Deus entregar sua vida . Ele entregará seu corpo humano que tomou na encarnação e se permitirá ser morto para que sua ressureição nos dê a vida eterna.

Tem um profundo significado que o Pai tenha se referido aqui ao mistério do Natal e da Páscoa, Deus revela sua glória nesses grandes mistérios. É belo como alguns na multidão ouvem a voz do Pai. Alguns não entendem. Eles falam de trovão, ou de anjos. Existe um tipo de voz que nem todos conseguem ouvir. Nessa hora Jesus vem em socorro e diz: “Essa voz não veio por mim mas sim por vossa causa.”  Ele sabia o que iria acontecer e qual seria sua missão. A voz veio para nós também, para que saibamos a que veio o Messias. Então Jesus continua: “Agora é o juízo desse mundo! Agora será lançado fora o príncipe desse mundo.” Jesus fez vários exorcismos que aparecem nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Mas o evangelho de João só narra o exorcismo da cruz! João revela que a cruz não é só o Sacrifício Pascal ou dia da expiação, mas é também um grande exorcismo. Isso porque, entregando a vida dele na cruz, Ele tira o poder da morte das mãos do diabo e tira seu poder quando afirma: “Agora será lançado fora o príncipe desse mundo.” Depois do pecado original, Satanás tinha um certo poder sobre a vida dos homens e o mundo e a morte de Jesus na cruz tira do demônio esse poder.  João completa de maneira única o que os outros evangelistas falaram. João nos diz que Jesus via sua cruz como um grande exorcismo cósmico do mundo.

Jesus usa a mesma terminologia do domingo passado para descrever sua morte: “E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim.” Os profetas haviam dito que um dia Jerusalém atrairia a todos, a nova Jerusalém com seu novo templo, onde viriam adorar o Deus único. Jesus se coloca aqui como o centro da Nova Jerusalém, o novo templo. Ele é a verdadeira habitação de Deus e o templo é seu corpo crucificado, é a cruz que será o veículo da salvação, não só para os judeus, mas para os gentios que vieram busca-lo no último dia de seu ministério público.

A primeira leitura é dos profetas e a Igreja escolheu essa porque aponta para o novo testamento. É uma das mais importantes profecias do antigo testamento. Está em Jr 31, 31-34 e fala da nova aliança. Diz assim: “eis que virão dias, diz o Senhor, em que eu concluirei com a casa de Israel um nova aliança. Não como aliança que eu fiz com seus pais para retirá-los da terra do Egito e que eles violaram e eu fiz valer a força sobre eles, diz o Senhor. Esta será a aliança que concluirei com a casa de Israel. Depois desses dias, diz o Senhor, imprimirei minha lei em suas entranha e ei de inscrevê-las em seu coração. Serei seu Deus e eles serão o meu povo. Não será mais necessário ensinar o próximo ou seu irmão dizendo: conhece o Senhor. Todos me reconhecerão, do menor ao maior, diz o Senhor. Pois perdoarei sua maldade e não mais lembrarei do seu pecado.”

Por que essa profecia de Jeremia é tão importante? 

Deus promete que virá fazer um anova aliança, não mais gravada numa tábua de pedra, mas gravada no coração do seu povo. Por isso é tão significativo pra nós católicos que na última ceia Jesus liga suas ações com o estabelecimento da nova aliança, em seu sangue. Que ele derramaria a última gota pelo perdão dos pecados. A Igreja nos recorda essa profecia para nos preparar para a Semana Santa, onde na quinta feira Santa ele inaugura o que Jeremias falou.

O salmo é o 50. É um salmo de penitência, que a Igreja justapões com Jeremia para pedirmos: “criai em mim um coração que seja puro.” Um coração puro seria o coração que Jeremias profetizou, um coração de carne, onde Deus lhes imprimiria Sua vontade.

Que possamos nesse últimos passos, próximos da Semana Santa, refletir na grandeza de nossa salvação. Na história da salvação que nos trouxe tão grande salvação!

Feche seus olhos e reflita na vida de Cristo… faça um instante de silêncio e permita-se invadir pela graça que quer te alcançar agora e preparar tua alma para o céu…o Espírito Santo capacita e dar forças a continuar na missão, a morrer como o grão de trigo…