Santa Elisabete da Trindade

Santa Elisabete da Trindade

“ESTA BELA UNIDADE INTERIOR” (UR 4)

 

Neste dia em celebramos a Memória de S. Elisabete da Trindade na Igreja, sem dúvida alguma, para todo carmelita é um dia de júbilo e louvor ao Deus Trindade, que no seu mistério de Amor infundiu na vida e na prática desta nossa irmã, a graça de reconhecer a sua plenitude, e, tudo fazer-se como “Louvor de glória” (Ef 1,12) nesta misteriosa ação trinitária. Nossa santa soube penetrar neste mistério que lhe foi o verdadeiro chamado à santidade e à missão, penetrou no “belo silêncio” nascido da oração íntima com a Santíssima Trindade, mergulhou e se fortaleceu amorosamente na Eucaristia.

Vivemos num mundo exteriorizado, onde “o homem que vive fora de si, alienado da sua raiz, entregue às suas posses, disperso nas suas atividades”. Um homem assim dissipa, como o filho pródigo, a sua substância; aliena-se a si mesmo. Santa Elisabete nos ajuda a criar condições para o exercício da contemplação, conduzindo-nos a concentração de nossas aspirações nas inspirações nascidas da “vida em Deus”. Com ela, somos chamados a dar passos firmes na fé.

Para nós que nos “dispersamos facilmente as forças da nossa alma na distração ao exterior, em vez de as unificar pelo recolhimento que apenas procura o amor”, S. Elisabete da Trindade nos propõe e estabelece a unidade (C 121; 184; 274) —, nos nossos encontros e tarefas, ela pode evangelizar e estetizar a nossa vida com o mote de “esta bela unidade interior” (UR 4), “este belo silêncio” (UR 27). Só assim manifestaremos, como ela, o que o Espírito quer comunicar à Igreja e ao mundo, como única vontade de Deus: a vivência unificada do amor, do “calado amor”, do silêncio contemplativo que se “deixa amar”, e do “efetivo amor” do serviço apostólico. Desta maneira, ela estará crítica e salvificamente presente hoje em nós, interpelando-nos à Presença do “Deus todo Amor”, que nos comunga a todos, no caminho crístico do exercício ativo e passivo do amor de Deus e do Homem, que «não se podem separar» (G.S. 24).

“ESCONDIDA COM CRISTO EM DEUS ”

 

A Igreja tem em Cristo… que se proclamou “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6), um imenso patrimônio espiritual para oferecer à humanidade. É o caminho cristão que leva ao encontro com Deus, à oração, à ascese, à descoberta do sentido da vida, como também, ao compromisso evangelizador, ou mesmo “um areópago a evangelizar” (S. João Paulo II, R.Mi., p. 38). Quando meditamos a vida e os escritos de Santa Elisabete da Trindade encontramos plenamente a “unidade de vida”, não com bases apenas teológica para descobrir o sentido doutrinal. mas o olhar de quem compreende  ter tido caminho cristão que vale a pena ser seguido, razão central encontrada no silêncio de uma vida inteiramente “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3)  

O cristão move-se “em Deus”, mais ou menos como o filho adotivo que se não habituou ainda em sua nova família. A pessoa batizada só possui imperfeitamente esta vida essencialmente deiforme e não sabe ainda como fazer para viver “à maneira de Deus” . É importante, pois, que as Pessoas divinas venham ensinar-lhe a habitar na família trinitária como Deus mesmo e, mais especialmente, “à maneira do Verbo” visto que a conformidade com o Filho marca o têrmo supremo de nossa predestinação em Cristo.

“O ESPOSO QUE AMO ACIMA DE TUDO”

 

Movida pelo Espírito de Cristo S. Elisabete da Trindade experimentou os seu dons, e, à partir de uma justa entrega e abandonou não exitou em levá-los à plenitude. Inspirada é fortalecida pelo Santo Temor de Deus, jamais cometeu uma falta mortal ou permitiu que sua alma ficasse manchada. Para ela importava sempre a consciência de pecado: “Lamento os pecados que tanto mal vos fizeram”. (Diário, 14 de março de 1899). Antes morrer do que pecar: “Se eu devesse algum dia ofender mortalmente o Esposo que amo acima de tudo, então, ó morte, ceifa-me antes que cometa tão grande mal” (Diário, 10 de março de 1899). Sob a influência deste Espírito de Temor, sua alma treme diante da Infinita Majestade que nela habita e poderia aniquilá-la num momento, como lhe parece merecer, por causa de suas faltas. “Estou disposta a morrer antes que ofender-vos voluntariamente, ainda que seja pelo pecado venial”. (Diário, 11 de março de 1899). Por outro lado, o Espírito Santo a levou ao desapego de tudo e a refugiar-se, acima de qualquer motivo humano, em Deus só, vazia de todas as coisas criadas. Levando a cabo esta máxima da pedagogia de Jesus: “Bem-aventurados os pobres de espírito” (Mt 5, 3), viveu desprendida de tudo, a única riqueza ambicionada é a Santíssima Trindade. Quanto ao resto: nada.

“O SEGREDO DA FELICIDADE”

 

Através do dom de fortaleza, um dos mais caraterísticos da fisionomia espiritual e da doutrina mística de S. Elisabete, ela é perfeitamente conduzida à contemplação da Alma do Crucificado, verdadeiro segredo da transformação tão rápida de sua atitude diante do sofrimento. No começo da vida religiosa, levada pelo entusiasmo do primeiro fervor, devoram-na uma fome e sede incríveis de santidade: “Gosto de viver nestes tempos de perseguição. Como devíamos ser santos… Implorai para mim essa santidade de que tenho tanta sede… Pudesse eu amar como os santos, como os mártires” ! (Carta ao Cônego, 11 de setembro de 1901). Assim iluminada pelo Deus Crucificado, soube descobrir nos menores atos da vida ordinária o melhor meio de dar a Deus o penhor de seu amor. “Não sei se terei a felicidade de dar a meu Divino Esposo o testemunho do sangue, mas, pelo menos, se levar plenamente minha vida de Carmelita, tenho a consolação de gastar-me por Ele” (Carta ao Cônego, julho de 1903). Se me perguntassem em que consiste o segredo da felicidade, dizia: “em não fazer mais caso de si, em renunciar-se sempre”. (Carta a Fr. de S…, 11-9-1906).

Em uma de suas cartas à sua mãe dizia: “Receias que eu seja uma vítima destinada ao sofrimento. Peço que te não aflijas, pois não sou digna disto. Imagina que não é pouca honra partilhar os sofrimentos do meu Esposo Crucificado e ir à paixão com Ele e com Ele ser redentora”. (Carta a sua mãe, 18 de julho de 1906). Meses depois, declara ainda a “prova de amor” através do sofrimento crendo ser indigna de tamanho amor: “O sofrimento atrai-me cada vez mais. Este desejo parece sobrepujar o do céu que, entretanto, é bem forte. Deus não me tinha ainda feito compreender que a dor é a maior prova de amor que Ele possa dar à criatura. Em cada novo sofrimento, beijo a Cruz de meu Mestre e digo-Lhe: obrigada! Sinto-me indigna. Considera que o sofrimento foi o companheiro de sua vida e não mereço que o Pai me trate como a Ele. O sinal pelo qual reconhecemos que Deus está em nós e que seu amor nos domina, é recebermos não só com paciência, mas com gratidão, o que nos fere e faz sofrer. Para chegarmos a este ponto, cumpre contemplarmos o Deus Crucificado por amor e esta contemplação, se é verdadeira, leva­-nos ao amor do sofrimento. Mãe querida, recebe, à luz que jorra da cruz, toda provação, toda contrariedade, toda maneira de agir pouco agradável. É assim que agradamos a
Deus e progredimos no amor. Oh! agradece-Lhe por mim, pois me sinto tão, tão feliz! Pudesse eu espalhar um pouco desta felicidade entre as pessoas queridas Nosso encontro será à sombra da Cruz para aí aprendermos a ciência do
sofrimento” (Carta a sua mãe, 25 de setembro de 1906).

“ÀQUELES ALTOS CUMES”

 

A Igreja de Jesus jamais se esquecerá, no de correr dos séculos de sua história militante, de que seu berço foi a oração contemplativa do Cenáculo, e de que a base constante de sua ação sobre as almas é a oração dos santos. A maior parte das grandes famílias religiosas adotaram esta maneira de encarar o apostolado, e as Ordens mais apostólicas têm por costume sustentar o ministério exterior dos religiosos pela oração contínua das religiosas. No Carmelo, Santa Elisabete da Trindade viu-se neste ponto, em presença duma das tradições mais caras à sua Ordem e mais fecundas para o bem espiritual da Igreja. Imolando-se pela Igreja, ela imolou-se espiritualmente pelos sacerdotes. São eles, os sacerdotes, que se beneficiam primeiramente da imolação silenciosa das filhas de S. Teresa. S. Elisabete professou sempre o verdadeiro culto pelo sacerdócio. Quando um padre lhe recomendava seu ministério, tomava muito a peito a promessa de rezar por ele..
Exemplo disto, são as suas cartas, onde se dirige a alguns deles, entre elas, destacamos a carta ao seu pároco, que durante muito tempo foi seu confessor, estava disso persuadido. “Senhor Paróco… desde nosso último locutório, sinto-me particularmente unida convosco e um poderoso impulso de oração transporta minha alma até a vossa, sobretudo no santo Ofício. Prometo reservar-vos, cada dia, um grande momento na recitação de Terça, a fim de que o Espírito do Amor, que sela e consuma a Unidade na Santíssima Trindade, vos dê copiosa efusão de Si mesmo, vos transporte, sob a luz da fé, até àqueles altos cumes onde a vida é só paz, amor, união, reflexo dos raios do Sol Divino” (Carta de 11 de fevereiro de 1902).

DEBAIXO DA HUMILDE HÓSTIA

 

Como percebemos, S. Elisabete está consciente de que são os sacerdotes, que se beneficiam da imolação silenciosa do altar, e por isso, professou sua cumplidade e culto pelo sacerdócio. E coloca-se em perfeita adoração crendo que “a linguagem do Verbo é a efusão do Dom”. Relata uma de suas experiências ao seminarista Chevignard: “Não é assim que Ele fala à nossa alma no silêncio? Para mim, este caro silêncio é uma beatitude. Da Ascensão ao Pentecostes estivemos em retiro, no Cenáculo, à espera do Espírito Santo. Estávamos tão bem! Durante toda esta oitava temos o Santíssimo exposto no Oratório; são horas divinas que passamos naquele cantinho do céu, onde possuímos a visão em substância, debaixo da humilde Hóstia. Sim, é o mesmo que os bem-aventurados contemplam na claridade e que nós adoramos na fé. Outro dia, alguém me escrevia este belo pensamento que vos envio: “a fé é um face a face nas trevas”. Porque não seria o mesmo para nós, visto que Deus não quer outra coisa senão apoderar-se de nós como se apoderou dos santos? Mas eles estavam sempre atentos, como diz o Pe. Vallée, “Eles calam-se, recolhem-se, e não têm outra atividade senão transformarem-se no ser que os recebe”.

“A SANTÍSSIMA TRINDADE PLENAMENTE PRESENTE NA EUCARISTIA”

Aprendemos com a doutrina espiritual de S. Elisabete da Trindade que, para nos unir a Deus, inteiramente no interior, é necessário que a alma se torne «um mesmo espírito com Ele» (C 175) e a estenda a toda a alma (UR 43), consciente do seu nada, continuamente avançando nesta “bela unidade interior” (UR 4), neste “belo silêncio” (UR 27) que a moveu para Deus, através do Espírito de Cristo. Num permanente exercício dos dons espirituais, e com clara consciência do serviço apostólico à Igreja, dela aprendemos, que a copiosa efusão de Si mesmo, permitirá ao próprio Espírito nos conduzir, sob a luz da fé, “àqueles altos cumes onde a vida é só paz, amor, união, reflexo dos raios do Sol Divino”, sendo para o Deus Trindade um desejado “Louvor de Glória”. Peçamos portanto, a intercessão de S. Elisabete da Trindade neste dia, para avançarmos em nosso chamado à santidade e à missão, através do “belo silêncio” nascido da oração íntima com a Santíssima Trindade plenamente presente na Eucaristia.

 

SANTA ELISABETE DA TRINDADE,
ROGAI POR NÓS!

Por:
Estela da Paz, OCDS.
(Comunidade São José, Petrópolis/RJ)
Comissão de História.
Comissão de Espiritualidade.

 

Referências:
REIS. P. Manuel Fernandes dos, ISABEL DA TRINDADE: INTERIORIDADE TEOLOGAL UNIFICADA (I)
PHILIPON, OP.. M.M. A DOUTRINA ESPIRITUAL DE IRMÃ ELISABETH DA TRINDADE. 2a. EDIÇÃO 1957. Livraria AGIR Editora, RIO DE JANEIRO.

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