CHAMA VIVA
Oh! Chama de amor viva
que ternamente feres
De minha alma no mais profundo centro!
Pois não és mais esquiva,
Acaba já, se queres,
Ah! Rompe a tela deste doce encontro.
Oh! Cautério Suave!
Oh! Regalada Chaga!
Oh! Branda mão!
Oh! Toque Delicado!
Que a vida eterna sabe
E paga toda dívida!
Matando, a morte em vida, me hás trocado
Oh! Lâmpadas de fogo!
Em cujos resplendores
As profundas cavernas dos sentidos
Que estava escuro e cego
Com estranhos primores
Calor e luz, dão junto a seu querido!
“Quão manso e amoroso
Despertas em meu seio
Onde tu só secretamente moras;
Nesse aspirar gostoso,
De bens e glória cheio,
Quão delicadamente me enamoras!”
Introdução à Chama Viva de Amor
O livro Chama Viva de Amor é uma das quatro obras maiores de São João da Cruz, que encerra o magistério escrito do Santo. Trata-se de um livro que situa o orante no mais alto estágio da vida interior e que, com frequência, faz remissões ao processo purificativo da alma e àquilo que lhe espera na vida eterna. Ou seja, o dinamismo temático da obra tem como ponto referencial um presente de união qualificada, um passado de purificação e um futuro de glória. É talvez o livro que, a seu modo, melhor sintetiza os pontos centrais da aventura mística.
O escrito é um comentário ao poema homônimo e ambos foram dedicados a Doña Ana de Peñalosa, leiga e dirigida espiritual de São João da Cruz, provavelmente em Granada, em torno de 1586, num período de quinze dias, conforme relata fr. Juan Evangelista. A produção poética tem uma estrutura original, trata-se de uma composição de quatro estrofes ou estâncias, com seis versos metrificados, variando entre heptassílabos (versos com sete sílabas poéticas) e hendecassílabos (versos com onze sílabas poéticas) e com rimas alternadas no formato ABCABC (primeiro verso rima com o quarto; o segundo com o quinto e o terceiro com o sexto). Perceber esse “detalhe” formal da escansão poética é entender que a inspiração divina não suplanta a transpiração humana. Sem dúvida, o místico foi iluminado por Deus ao escrever esse poema, mas está evidente também o quanto ele empreendeu esforço para plasmar o que lhe foi inspirado dentro de uma estrutura estética padronizada.
O teor do poema alcança os temas do amor e da morte. É um poema de alta tensão, em termos sentimentais. Ele busca a brevidade e intensidade que não lhe poderiam dar as imagens e espaço do Cântico Espiritual. A Chama interiorizou o espaço místico do Cântico e da Noite em um espaço psicológico e assim conseguiu a máxima abstração poética de todos os poemas sanjuanistas.
No tocante à prosa, ou seja, ao comentário do poema, o Doutor místico não nos oferece um tratado científico de teologia e nem de antropologia, mas todos nós sabemos que o ser humano está sempre no seu ponto de mira. Assim, ao longo das páginas dos escritos sanjuanistas, vemos não somente o caminho de salvação do ser humano, senão também o seu processo de humanização. Em Chama, vemos uma dimensão do ser humano que era desconhecida para a ciência comum e inclusive à religiosa: “as substanciais veias da alma”, o “mais profundo centro”, “as cavernas do sentido”, as “entranhas do espírito”,
enfim, a interioridade humana, habitada e sempre em festa. Nessa obra, lemos as melhores descrições do homem novo visto por dentro.
Obviamente que Deus também é centro temático da obra. Para São João da Cruz, é possível contemplar a Deus nele mesmo, em sua relação intratrinitária, e sobretudo em sua relação com os seres humanos. O Deus de João da Cruz é, definitivamente, dom e comunicação. Quanto mais operoso Deus se mostrar, mais se revela e, portanto, mais conhecível será. E onde maior for suas operações, mais alta será sua revelação. De tal forma que, na obra sanjuanista, sobretudo em Chama, temos uma espécie de narrativa das ações e qualidades de Deus (Ch 3, 6). Deus é agente, antes e mais que o homem, sempre se adianta a nós mesmos, quando nos despertamos para Ele já existe uma longa história divina de aproximação Dele a nós. E, enquanto Deus, age e opera como Deus.
Haveria muitos temas e subtemas a serem citados aqui, mas vamos deixar que a leitura do próprio santo suscite no leitor o interesse pelo aprofundamento da obra. É cada vez mais importante darmos espaço para que João da Cruz nos fale, e só podemos fazer isso deixando nossos preconceitos de lado e nos permitindo uma leitura aberta, interessada, persistente. O santo da noite escura é ainda mais o santo da chama do amor que ilumina e afugenta todas as trevas. Que a luz e o amor que abundam da obra sanjuanista nos alcancem e nos ajudem a bem viver esse retiro.
Para isso, convidamos você a participar desses 13 dias meditando o poema Chama Viva.. Em cada dia do retiro nós estaremos explicando e meditando duas estrofes do poema, para facilitar sua compreensão. Tenha uma determinada determinação em nos acompanhar nessa bela e profunda viajem rumo ao seu interior. Sugerimos você a buscar um horário fixo e um lugar apropriado para nos acompanhar pelo site da Província São José ou no Youtube da OCDS Província São José.
Artur da Santa Mãe de Deus, ocds.
Província São José
Fátima
Louvado seja Deus e Maria Santíssima pela vida e vocação do Frei Cleber, muito agradecida a Deus!@ São João da Cruz rogai por nós!!
José Inocêncio Bueno Passos
Que a chama viva de amor, resplandeça em nós.
Oh! Deus de amor infinito, sejais a Luz em nossa caminhada.
José Inocêncio Bueno Passos
Que a chama viva de amor, resplandeça em nós.
Que o amor seja fonte de paz em nossas vidas.
Graça Ewerton
Saudade do Frei Wilson em nossa Cidade de Belém. Agradeço a Deus a graça da minha vocação ao Carmelo. São João da Cruz rogai por nós!
Anônimo
Felicíssima por esta oportunidade de mergulhar no livro mais gostoso de se ler das obras de nosso santo padre João da Cruz. Obrigada comissão… Deus lhes recompense pelo trabalho empreendido.
Rose
Obrigada a equipe de espiritualidade por essa riqueza inigualável para nós!
Momento de formação e oração 🙏.
Obrigada também ao frei Wilson por nós guiar no amor e busca da vontade de Deus.