QUINTA-FEIRA SANTA – CEIA DO SENHOR. MEDITANDO COM OS SANTOS DO CARMELO

QUINTA-FEIRA SANTA – CEIA DO SENHOR. MEDITANDO COM OS SANTOS DO CARMELO

“EIS O FUNDAMENTO E A FONTE DE TODO O TRÍDUO PASCAL!”

“Vendo o bom Jesus a necessidade, buscou um meio admirável por onde nos mostrou o máximo de amor” (C 33) “Elevarei o cálice da salvação invocando o nome do Senhor” (Sal 115)

A Eucaristia, presença salvífica de Jesus na comunidade dos fiéis e seu alimento espiritual, é o que de mais precioso pode ter a Igreja no seu caminho ao longo da história. Mysterium fidei! – «Mistério da fé». Quando o sacerdote pronuncia ou canta estas palavras, os presentes aclamam: «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!».

 

Com estas palavras ou outras semelhantes, a Igreja, ao mesmo tempo que apresenta Cristo no mistério da sua Paixão, revela também o seu próprio mistério: Ecclesia de Eucharistia. Se é com o dom do Espírito Santo, no Pentecostes, que a Igreja nasce e se encaminha pelas estradas do mundo, um momento decisivo da sua formação foi certamente a instituição da Eucaristia no Cenáculo. O seu fundamento e a sua fonte é todo o Triduum Paschale, mas este está de certo modo guardado, antecipado e « concentrado » para sempre no dom eucarístico. Neste, Jesus Cristo entregava à Igreja a atualização perene do mistério pascal. Com ele, instituía uma misteriosa « contemporaneidade » entre aquele Triduum e o arco inteiro dos séculos.

 

A nossa reflexão sobre a instituição da Eucaristia durante a Última Ceia está associada a uma ceia ritual, que constituía o memorial do acontecimento fundador do povo de Israel: a libertação da escravidão do Egito. Desta ceia ritual com a imolação dos cordeiros (Ex 12, 1-28. 43-51), fazendo memória do passado, ao mesmo tempo nos remete à memória profética, ou seja, ao anúncio duma libertação futura. O memorial da antiga libertação abri-se, assim, à súplica e ao anseio por uma salvação mais profunda, radical, universal e definitiva. Ao instituir o sacramento da Eucaristia, Jesus antecipa e implica o sacrifício da cruz e a vitória da ressurreição; ao mesmo tempo, revela-Se como o verdadeiro cordeiro imolado, previsto no desígnio do Pai desde a fundação do mundo, como se lê na I Carta de Pedro (1, 18-20).

 

Ao colocar o dom de Si mesmo neste contexto, Jesus manifesta o sentido salvífico da sua morte e ressurreição, mistério este que se torna uma realidade renovadora da história e do mundo inteiro. Com efeito, a instituição da Eucaristia mostra como aquela morte, de per si violenta e absurda, se tenha tornado, em Jesus, acto supremo de amor e libertação definitiva da humanidade do mal. Na instituição da Eucaristia, o próprio Jesus falara da « nova e eterna aliança », estipulada no seu sangue derramado (Mt 26, 28; Mc 14, 24; Lc 22, 20). Esta finalidade última da sua missão era bem evidente já no início da sua vida pública; de facto, nas margens do Jordão, quando João Baptista vê Jesus vir ter com ele, exclama: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29).

 

É significativo que a mesma expressão apareça, sempre que celebramos a Santa Missa, no convite do sacerdote para nos abeirarmos do altar: «Felizes os convidados para a ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo».

 

Meditemos no mistério de amor da Eucaristia com os santos do Carmelo, fundamento de todo o Tríduo Pascal:

“O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE”.
(Santa Teresa de Jesus – Caminho de Perfeição 33, 1-4. 42, 1)

 

“ISTO NOS PEDE O NOSSO BOM MESTRE”

“Vendo o bom Jesus a necessidade, buscou um meio admirável por onde nos mostrou o máximo de amor que nos tema e, em Seu nome e no de Seus irmãos, fez esta petição: «O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, Senhor». Entendamos, irmãs, por amor de Deus, isto que pede o nosso bom Mestre, que nos vai a vida em não passar de corrida sobre isto, e tende em muito pouco o que haveis dado, pois tanto haveis de receber…


Vendo o bom Jesus o que por nós tinha dado, e a grande dificuldade que havia como está dito por sermos nós tais como somos e tão inclinados a coisas baixas e de tão pouco amor e ânimo, era mister vermos o Seu para despertarmos, e isto não uma vez, mas cada dia, aqui se deve ter determinado a ficar conosco…” (C 33, 1-2)

 

“SANTÍSSIMO SACRAMENTO”

“Que Pai haveria, Senhor, que tendo-nos dado Seu Filho, e tal Filho, e pondo-O em tal estado, quisesse consentir que ficasse entre nós a padecer de novo cada dia?… Oh! valha-me Deus! que grande amor o do Filho, e que grande amor o do Pai!… Como pode a Vossa piedade, cada dia, ver as injúrias que Lhe fazem? E quantas não se hão-de hoje fazer a este Santíssimo Sacramento! E quantas mãos inimigas Suas não O há-de ver o Pai! Que desacatos o destes hereges!” (C 33,3)

 

“NÃO HAVERÁ QUEM FALE POR ESTE AMANTÍSSIMO CORDEIRO?”

“Ó Senhor Eterno! Como aceitais tal petição? Como o consentis? Não vejais o Seu amor, que a troco de fazer perfeitamente a Vossa vontade e de a fazer por nós, se deixará fazer em pedaços cada dia!… Põe-se também diante de Seu Pai, como a dizer-Lhe: já que uma vez no-lO deu para que morresse por nós, que já é «nosso», não no-lO torne a tirar, mas O deixe servir, cada dia, até se acabar o mundo; que isto vos enterneça o coração, filhas minhas, para amar o Vosso Esposo: não há escravo que, de boa vontade, diga que o é, e o bom Jesus parece que se honra disso.” (C 33, 4)

 

“ERA A ÚLTIMA CEIA DA SUA VIDA”

“Parece-me que tem razão o bom Jesus ao pedir isto para Si, porque bem vemos como estava cansado desta vida, quando na Ceia disse a Seus Apóstolos: «Desejei com grande desejo comer convosco esta ceia», que era a última da Sua vida. Por aí se vê que cansado já devia estar de viver agora não se cansarão, mesmo que tenham cem anos, mas sempre com de. sejos de viver mais. Verdade é que não a passamos tão mal nem com tanto trabalhos como Sua Majestade a passou, nem tão pobremente. Que foi toda a Sua vida, senão uma contínua morte, trazendo a que Lhe haviam de dar tão cruel sempre diante dos olhos?” (C 42,1)

POEMA “FONTE”
(São João da Cruz – Poema 8)


Cantar da alma que se alegra em conhecer a Deus pela Fé.

 

1. Aquela eterna fonte está escondida,
mas eu bem sei onde tem sua guarida,
mesmo de noite.

 

2. Sua origem não a sei, pois não a tem,
Mas sei que toda a origem dela vem,
mesmo de noite.

 

3. Sei que não pode haver coisa tão bela,
E que os céus e a terra bebem dela,
mesmo de noite.

 

4. Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
E que ninguém pode nela em vão passar,
mesmo de noite.

 

5. Sua claridade nunca é obscurecida,
E sei que toda luz dela é nascida,
mesmo de noite.

 

6. Sei que tão caudalosas são suas correntes,
Que céus e infernos regam, e as gentes,
mesmo de noite.

 

7. A corrente que desta fonte vem
É forte e poderosa, eu o sei bem,
mesmo de noite.

 

8. A corrente que destas duas procede,
Sei que nenhuma delas a precede
mesmo de noite.

 

9. Aquela eterna fonte está escondida,
Neste pão vivo para dar-nos vida,
mesmo de noite.

 

10. De lá está chamando as criaturas,
Que nela se saciam às escuras,
porque é de noite.

 

11. Aquela viva fonte que desejo,
neste pão de vida já a vejo,
mesmo de noite.

 

(Toledo, cárcere – 1578)

“Que bem sei eu a fonte que mana e corre mesmo de noite”.
(Santa Edith Stein – Ciência da Cruz)

 

Referindo-se ao poema 8, “FONTE”, de São João da Cruz. Diz Santa Edith Stein:

 

“A alma canta o que intimamente a move. E o que a comove não é, como naqueles poemas, sa própria sorte, mas a vida íntima da Divindade, que lhe é revelada pela Fé: A fonte eternamente viva de onde fluem todos os seres e que a todos dá vida e luz; desta fonte nasce um regato igual a ela, e de ambos nasce um terceiro regato de igual plenitude”.


“O cântico que se entoam essas verdades não é mera criação poética, intelectual, é canto de sons musicais puríssimos”.


“A doutrina da Fé se tornou fluxo vital: é um oceano que com onfas tranqüilas flutua na alma e nela desprende uma canção “.


“Toda vez que as ondas se quebram na orla, ouve-se-lhes o eco: ‘Embora seja noite’ (‘Mesmo de noite’)”.


“A alma, sendo limitada, é incapaz de conter o mar intenso. O olhar de seu espírito não está afeito à luz celeste; tudo lhe parece escuro”.


“Assim, em plena UNIÃO com a Santíssima Trindade, saboreando o pão da vida em que ela se comunica, a alma vive uma vida de saudade (“porque é de noite”)”.


“Esses versos bem traduzem a natuteza da contemplação obscura”.

COLÓQUIOS EUCARÍSTICOS
(Santa Elisabeth da Trindade, 1899)

Domingo, 12 de fevereiro de 1899.

 

Oh! que três dias deliciosos eu passei! À noite fazia uma boa meia hora de adoração ao Santíssimo Sacramento antes do Ofício das oito horas. Quem poderia dizer a doçura que se experimenta nesses colóquios cordiais durante os quais tem a sensação de que não se está mais na terra e só se vê e se ouve a Deus!


É Deus que fala à alma, é Deus que lhe diz coisas tão suaves e tão profundas. Deus que lhe pede para aceitar o sofrimento! Jesus, enfim, que deseja um pouco de amor, para o consolar!…

 

Ah! Durante estes colóquios divinos, estes êxtases sublimes, como eu peço a Jesus a sua Cruz. Esta cruz que é o meu sustento, minha esperança. Esta Cruz que eu quero partilhar com o Mestre que se digna reservar-me uma parte tão bela, me escolher por confidente, por consoladora de seu Coração! Ah, por meu amor, minha atenção, meus sacrificios, minhas orações, eu quero fazê-lo esquecer suas dores. Eu quero amá-lo por todos aqueles que não o amam, e eu quero também reconduzir para Ele aquelas almas que tanto amou!”

“CAMINHO EUCARÍSTICO”
(Santa Teresa dos Andes – Carta 116)

 

A Eucaristia é um dos quatro pilares da espiritualidade da Santa Carmelita chilena, Santa Teresa de Jesus dos Andes, ou também, conhecida como Santa Teresa de Los Andes, ao lado das três outras importantes devoções: A Cruz, o Coração de Jesus e a Virgem Maria.


Pode-se dizer que o caminho da “união com Deus” em Teresa era eminentemente um “caminho eucarístico”. Os textos mais bonitos e intensos de sua caneta são dedicados a explicar a inexplicabilidade desse Mistério do Amor. E foi o dia de sua Primeira Comunhão, quando Jesus falou com ele pela primeira vez. Esse diálogo íntimo se tornará cada vez mais profundo e intenso. Durante a preparação para sua Primeira Comunhão, houve uma mudança radical nela, ela mudou completamente de caráter, foi algo como sua “primeira conversão”. Sua mãe nos diz: “Ele se preparou para a Primeira Comunhão cerca de um ano, e ele dedicou todo o seu cuidado a essa preparação fazendo sacrifícios que anotou e também registrou suas vitórias.

 

Na tarde anterior à Primeira Comunhão, ele pediu desculpas a todos em casa ”. E seu irmão Lucho ratifica: “Desde a Primeira Comunhão houve uma mudança no comportamento de Juanita, que até então havia revelado algumas falhas: um personagem um tanto irritado e difícil de obedecer. O contato diário com o Senhor em comunhão a transformou. Seu caráter se tornou suave e prestativo.


A partir de agora receberá comunhão com freqüência e se tornará uma “Apóstola da Eucaristia”. Já no Carmelo, seu ideal era ser “anfitriã do Anfitrião”. Ou seja, transformar-se em Jesus que se entrega ao Pai por amor aos irmãos. Assim, em seu momento de amor, ela pergunta ao padre Colom: “Ofereça sua carmelita uma vez na Santa Missa como anfitrião. Quero ser um hóstia para Hóstia” (C 116)

ORAÇÃO A JESUS NO TABERNÁCULO
(Santa Teresinha do Menino Jesus – Oração 7)

 

Santa Teresinha do Menino Jesus, quando criança, muito antes de fazer sua primeira comunhão já se preparava para o primeiro encontro com Jesus Hóstia mediante o esforço de levar uma vida nova (MA.25v). Na expectativa dessa comunhão, Teresinha viveu uma verdadeira ânsia de amor.

 

Eis o depoimento de Irmã Maria do Sagrado Coração: “Teresa fez sua primeira comunhão aos 8 de maio de 1884, com a idade de 11 anos e 4 meses. Ela sofreu muito com a espera que lhe foi imposta; não podia compreender essa lei, que lhe parecia tão severa, isto é, o fato de ter de esperar mais um ano, porque, dizia ela, nascera dois dias demasia-do tarde” (P0.241). E não foi só para sua primeira comunhão que ela se preparou tão bem e com tanto ferrvor.

 

Para sua segunda comunhão, ela continuou seu entusiasmo (MA.36r), e, mais tarde, já no Carmelo, ela continuou se preparando com amor e satrifícios (CA.18.8.3), a ponto de não achar que teria sofrido o bastante para fazer uma comunhão (CV.21/26.5.6).


Visitas ao Santíssimo, Santa Missa, Comunhão, eis o tripé da devoção eucarística de Santa Teresinha durante toda sua vida. Na verdade, a Branca Hóstia, como ela costumava dizer, era sua paixão (PN.54,5; PS.8), por isso ela gostava tanto de passar muitas horas diante do sacrário.

REZEMOS:
“Oh, Deus escondido na prisão do Tabernáculo! Com alegria retorno para junto de vós todas as noites, a fim de agradecer as graças que me destes, e implorar o perdão para as faltas que cometi ao longo do dia, que, como um sonho, já passou…


Oh, Jesus! Como ficaria feliz se tivesse sido bem fiel, mas … Ai de mim!. .. Muitas vezes, à noite, sinto-me triste, pois percebo que poderia ter correspondido melhor às vossas graças… Se estivesse mais unida a vós, se fosse mais caridosa com minhas Irmãs, mais humilde e mais mortificada, encontraria menos dificuldade para me entreter convosco na oração. No entanto, oh, meu Deus, bem longe de mim o desanimar à vista de minhas misérias! Venho a vós com confiança, lembrando-me de que “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os enfermos”.


Suplico-vos, então, que me cureis, que me perdoeis. E eu, Senhor, lembrarei que “a alma à qual mais perdoastes, deve também vos amar mais que as outras”. Ofereço-vos todas as batidas do meu coração como outros tantos atos de amor e reparação, e os uno aos vossos méritos infinitos. Suplico-vos, oh, meu divino Esposo, que sejais vós mesmo o Reparador de minha alma, que exerçais vossa ação em mim sem considerar minhas resistências; enfim, já não quero ter outra vontade senão a vossa. E, amanhã, com o auxílio da vossa graça, recomeçarei uma nova vida em que cada instante será um ato de amor e de renúncia”.

 

Estela da Paz, OCDS.
#ComissãoDeHistória
#ComissãoDeEspiritualidade

 

Ref.:
CARTA ENCÍCLICA ECCLESIA DE EUCHARISTIA (7-8), S. JOÃO PAULO II.
SACRAMENTUM CARITATIS. I PARTE EUCARISTIA, MISTÉRIO ACREDITADO (9-10), Bento XVI.

1 Comment

  • Maria Regina de Jesus , OCDS .
    14/04/2022

    Que benção estes escritos destes santos .
    Estes conhecimentos nos dão coragem para seguir em frente neste mundo tão cruel .

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