SEGUNDO DOMINGO DE PÁSCOA – DOMINGO ‘IN ALBIS”, FESTA DA DIVINA MISERICÓRDIA.

SEGUNDO DOMINGO DE PÁSCOA – DOMINGO ‘IN ALBIS”, FESTA DA DIVINA MISERICÓRDIA.

 “RECEBEI O ESPÍRITO SANTO”! 

Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo João (Jo 20, 19-31)
Nossa Senhora da Divina Misericórdia
Este segundo
Domingo da Páscoa era conhecido, na Liturgia antiga, como Dominica in Albis, porque
os que foram batizados na Vigília Pascal se apresentavam ao bispo, uma semana
depois, com as suas vestes cândidas, para mostrarem que se esforçavam para
viver a candura batismal.
Hoje, o Domingo
da Oitava da Páscoa também é a festa da Divina Misericórdia. A celebração foi
instituída pelo bem-aventurado Papa João Paulo II – a ser canonizado neste fim
de semana –, por conta das revelações particulares de Nosso Senhor à religiosa
polonesa Santa Faustina Kowalska. Tendo morrido cedo, com apenas 33 anos (a
idade de Cristo), ela experimentou, ainda em vida, as várias purificações que
recebem os místicos que se aproximam cada vez mais de Deus, além de dons
sobrenaturais e dos santos estigmas. A pedido de seu confessor, Faustina
escreveu um diário no qual colocou por escrito aquilo que Cristo lhe falava em Suas
aparições. Em uma dessas aparições, Ele pediu que se fizesse um quadro e que
fosse instituída uma festa em honra à Sua Misericórdia, pois “a falta de confiança das almas”,
especialmente “a desconfiança da alma
escolhida”
, ofendia-Lhe muito [1].


Quando Santa
Faustina morreu, alguns padres ficaram responsáveis pela propagação dessa
devoção, que Jesus prometeu que se espalharia pelo mundo inteiro. Graças ao
empenho do então arcebispo de Cracóvia, Karol Wojtyla, o Diário de Santa
Faustina teve sua proibição retirada pela Igreja, em 1978, quase vinte anos
depois de uma intervenção do Santo Ofício. No mesmo ano, providencialmente,
Wojtyla foi eleito Papa João Paulo II e o reconhecimento da santidade de
Faustina Kowalska andou a passos largos. Em 2000, a devoção à Divina
Misericórdia foi estendida ao mundo inteiro, recebendo indulgências especiais e
uma festa litúrgica, no primeiro domingo após a Páscoa.

São João Paulo II, canonizado na Festa da
Divina Misericórdia. 
Então, neste
domingo, somos chamados a louvar a Deus por Sua infinita misericórdia. Ela é,
nas palavras da própria Santa Faustina, um fruto do amor de Deus: “O amor de Deus é a flor – e a misericórdia
é o fruto”
[2]. Em Si mesmo, Deus é amor; mas, ao manifestar-se na história
para os homens, esse amor é misericórdia. Antes da Criação, não era possível a
misericórdia, porque, para existir, é necessário haver um “miserável”. É com a
economia divina, portanto, que se manifesta a Sua misericórdia: na Criação, na
Redenção, nos Sacramentos, no envio do Espírito Santo etc. Com razão, pode-se
dizer que a misericórdia divina é uma
árvore com vários galhos
[3], dentre
os quais se sobressai a Cruz de Nosso Senhor
, fortaleza e esperança dos que
padecem por Ele.
A devoção à
Divina Misericórdia é importante porque nela está o coração do Evangelho. A
segunda leitura da Liturgia deste domingo diz: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua grande
misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez
nascer de novo, para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, que
não se mancha nem murcha, e que é reservada para vós nos céus”
[4].
No Evangelho que
cobre o arco dessa Oitava de Páscoa, Jesus ressuscitado aparece aos apóstolos e
sopra sobre eles o Espírito Santo. Santo Tomás, em seu comentário ao Evangelho
de São João, diz que é próprio da terceira pessoa da Santíssima Trindade o
perdão dos pecados. É evidente que, na economia da salvação, quem age é toda a
Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Mas, na teologia, utiliza-se um recurso
chamado “apropriação”. Por apropriação, é conveniente que se chame o Pai de
Criador, o Filho de Redentor e o Espírito de Santificador. Também por
apropriação se diz que o responsável por perdoar os pecados é o Espírito Santo,
manifestação da caridade, que “supre todas as faltas” [5]:
“Uma vez que é o
Espírito Santo que nos constitui amigos de Deus, é normal que seja por ele que
Deus nos perdoe os pecados. Por isto o Senhor disse aos discípulos: ‘Recebei o Espírito Santo; aquele a quem
perdoardes os pecados, serão perdoados’
, e em São Mateus (12, 31) o perdão
dos pecados é negado àqueles que blasfemam contra o Espírito Santo, porque não
têm em si aquilo por que o homem pode obter o perdão dos seus pecados. Daí
decorre também dizermos, do Espírito Santo, que ele nos renova, que ele nos
purifica, que ele nos lava.” [6]


Todo o tempo
pascal aponta para o Domingo de Pentecostes e, desde já, é possível ver que o
Espírito Santo – o amor-caridade que brota do lado de Cristo – é o grande fruto
da Ressurreição. No mesmo dia em que ressurge dos mortos, Jesus aparece aos
Seus discípulos e sopra sobre eles o Espírito Santo, oferecendo-lhes o dom da
remissão dos pecados e manifestando-lhes a Sua misericórdia.
 

Santa Teresinha do Menino Jesus
e a Misericórdia

Santa Teresinha do Menino Jesus, grande devota
da Divina Misericórdia, na enfermaria, alguns meses antes de morrer,
confidenciou à sua irmã:
“Poderiam pensar que é porque não cometi pecados que
tenho uma confiança tão grande no Bom Deus. Dizei claramente, minha Mãe, que se
eu tivesse cometido todos os crimes possíveis, teria sempre a mesma confiança.
Sinto que toda essa multidão de ofensas seria como gota de água lançada num
braseiro ardente.”

[7]
Cresçamos em
confiança na misericórdia divina e lancemos a gota d’água de nossos pecados e
misérias no braseiro ardente do amor de Deus.
Referências
Cf. Diário, 49-50
Diário, 949
O pe. Reginald Garrigou-Lagrange
faz essa comparação em sua obra Providence (V, 26),disponível em inglês no site
da EWTN.
1 Pd 1, 3-4
Pv 10, 12
Santo Tomás de Aquino, Comentário
sobre São João, 20, I, 4

Últimos Colóquios, Caderno
Amarelo, 11 de julho, 6

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